JESUS TEVE IRMÃOS DE SANGUE ?

Jesus teve irmãos de sangue? Maria teve filhos depois de Jesus?


È uma velha questão, que muitas vezes é tema de nossas discussões, sobretudo por que convivemos com pessoas com diferentes opiniões sobre o assunto. Os textos do Novo Testamento mencionam literalmente os “irmãos de Jesus”, que são Tiago, José, Judas e Simão (Mc 6,3; Mt 13,55). Fala-se também de irmãs de Jesus, mas não têm um nome nos Evangelhos. Existe, porém, um grande debate sobre o que significa a palavra ‘irmãos’ (adelfoi, em grego). A questão tem como pano de fundo o dogma da Igreja Católica, que desde o Concílio Lateranense, no VII século, afirma a virgindade de Maria, a mãe de Jesus. Se Maria continuou virgem também depois de ter dado à luz Jesus, não pode ter tido outros filhos. A controvérsia, portanto, é influenciada de modo decisivo pela posição dotrinal das várias igrejas. Em geral se pode dizer que para os protestantes Jesus teve irmãos, invés para os católicos ele teve primos.

Vejamos primeiro de tudo os dados objetivos, mencionando as passagens bíblicas onde aparece a expressão “irmãos de Jesus”.
1. Mc 3,20-21.31-35: a mãe de Jesus, os seus irmãos e irmãs vêm encontrar Jesus, pois creêm que tenha enlouquecido. Jesus invés redifine o conceito de família.
2. Mc 6,3-5: as pessoas se perguntam sobre a origem do comportamento de Jesus (de onde?), invés os seus conterrâneos sabem bem de onde ele vem: conhecem os seus irmãos e sua mãe por nome e as irmãs estão entre eles.
3. Jo 2,12, depois das bodas de Canã, diz que Jesus se encontra em Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos. Em Jo 7,3.5.10 se sublinha a distância que existe entre Jesus e seus irmãos: não são do mesmo mundo.
4. Nos Atos e em Paulo os irmãos de Jesus aparecem como membros importantes da primeira comunidade cristã. Atos 1,14 conta que entre os membros da comunidade de Jerusalém estavam a mãe e os irmãos de Jesus. Em 1Cor 9,5 os irmãos do Senhor são colocados entre os apóstolos e Cefas, como líderes da comunidade cristã. Em Gálatas 1,19 é lembrada a visita de Paulo a Jerusalém, onde, além de Cefas, encontrou Tiago, o irmão do Senhor.

É importante sublinhar, repetindo, que o termo grego usado nessas passagens é ‘adelfós’, que literalmente significa ‘irmão’. Todavia esse dado não basta para abaixar a poeira. Existe, de fato, diversas explicações sobre a expressão. Elencamos algumas.

1. Primos por parte de pai
Essa tese se baseia no trabalho de Eusébio de Cesaréia. De acordo com esse padre da igreja, os irmãos de Jesus podem ser identificados com os filhos de Alfeu-Cleofas, tio paterno de Jesus, e sua esposa, Maria de Cleófas. Portanto ‘adelfós’ significaria primo de primeiro grau. Os defensores de tal tese dizem que não se trata de argumentos a posteriori, que tentam defender o dogma da igreja católica, mas conseqüência da aplicação do método histórico-crítico.
Quem sustenta atualmente essa tese são os católicos. Porém o defensor clássico é Gerônimo, autor da Vulgata, que, respondendo a Elvídio, que dizia que or ‘irmãos’ eram ‘irmãos carnais’, diz: “Tiago, chamado irmão do Senhor, chamado o Justo, alguns dizem que era filho de José com uma outra mulher, mas creio ser filho de Maria, irmã da mãe do Nosso Senhor, de quem João fala no seu Evangelho”. Em linhas gerais se pode dizer que também Lutero defendia essa tese. Lemos, em Sermão sobre João: “Cristo foi o único filho de Maria, e a virgem Maria não teve outros filhos além dele. ‘Irmãos’ significa na realidade ‘primos’, pois as Sagradas Estrituras e os judeus chamam sempre irmãos os primos... Cristo, o nosso salvador, foi o fruto real e natural do seio virgem de Maria... Isso aconteceu sem a cooperação do homem e Maria continuou virgem também depois”. Também Calvino escreve: “Segundo o costume judeu, chamam-se irmãos todos os parentes. Contudo Elvídio foi ignorante quando disse que Maria teve diversos filhos por que em algum lugar se menciona ‘irmãos de Cristo’” (Comentário a Mateus, 13.55).
Os críticos dessa teoria são sobretudo o os protestantes que, diferente de Lutero e Calvino, intendem ‘adelfós’ como ‘irmão’ no sentido carnal e não ‘primo’.

2. Primos por parte de pai e de mãe
É uma tese do exegeta alemão Josef Blinzler. Ele diz que Tiago e José são filhos da irmã da mãe de Maria, que também se chama Maria; Invés Simão e Judas são filhos de Cleofas, irmão de José esposo de Maria, e de Maria de Cleofas. Ele baseia sua teoria no texto de João 19,25, que distingue a irmã de Maria de Maria de Cleofas. Outros difensores dessa tese são Rinaldo Fabris e Vittorio Messori. Mas a tese não é muito clara, visto que não é assim tão fácil distinguir duas Marias em João 19,25.

3. Irmãos carnais
É a tese que nasceu com o bispo ariano de Milão, Elvídio, no IV século. Ele defendeu a superioridade do casamento em relação ao voto de castidade. Para sustentar a sua teoria disse que também Maria tinha vivido com José e tinha tido outros filhos depois do nascimento de Jesus.
Essa posição é sustentada pelos protestantes. Essa visão é contestada pelos católicos, cristãos ortodoxos e também pelos muçulmanos, que seguem o que é escrito no Corão.

4. Irmãos adquiridos
É a teoria do evangelho apócrito de Tiago, segundo o qual José, quando se casou com Maria, tinha outros filhos, de um casamento anterior. Outros escritores clássicos defentem essa tese: Clemente de Alexandria, Origenes, Eusébio, Hilário de Poitiers, Ambrosiaster, Gregório de Nisa, Epifânio, Ambrósio, Cirilo de Alexandria. Hoje sobretudo os ortodoxos concordam com essa visão, mas também o adventista Angel Manuel Rodríguez.

5. Colaboladores
A escola exegética de Madri defende que os atuais textos gregos do Novo Testamento se baseiam em textos em aramaico e analisando os textos em questão dizem que ‘irmãos de Jesus’ indica na verdade aquele que colaboravam, ou seja, os apóstolos e outros discípulos que o seguiam. Do mesmo modo que a ‘irmã da mãe de Jesus’ seria também ela uma mulher que acompanhava Maria.

Para organizar a nossa apresentação, digamos que existem duas teorias: uma que diz que ‘adelfós’ significa irmão carnal e outra que retém que seja primo.

Argumentos favoráveis a “irmãos” 
• Etimologicamente adelfós (plural = adelfoi) significa co-uterino, ou seja, filho da mesma mãe.
• Mt 1,24;24 diz: “José (...) recebeu em casa sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho.” ‘Conhecer’, na Bíblia, significa ter relações sexuais. O texto bíblico em si não exclui que depois do nascimento de Jesus Maria tenha tido outros filhos.
• Lucas 2,7 diz que Maria deu à luz o seu filho primogênito. Se Maria não tivesse tido outros filhos Lucas poderia ter usado ‘unigênito’.
• Se os irmãos fossem primos a Bíblia teria usada a palavra grega ‘anepsios’ e não ‘adelfos’.
• Mc 3,21 e Jo 7,5 afirmam que os irmãos não tinham fé em Jesus. Desse modo não podem serem identificados com os apóstolos ou colaboradores do Senhor.

Argumentos favoráveis a “primos” 
• A palavra adelfós tem um campo semântico que não se limita à ligação com a mãe, mas pode normalmente significar também irmão só por parte de pai. Além disso o grego do novo testamento é uma língua influenciada pelo pensamento semítico dos seus autores. Quando o escritor escreve em grego está, na verdade, pensando em hebraico-aramaico. Portanto quando ele usa ‘adelfós’ está efetivamente usando o vocábulo hebraico-aramaico ‘ah’. Esse termo, na sua língua, não significa só irmão, mas todo grau de afetividade ou parentesco (Conferir Gn 13,8; 29,15; Lv 10,4).
• No grego existe a palavra ‘anepsioi’ para primos, mas no grego bíblico, que é diferente daquele clássico, esse vocábulo indica um parentesco não próximo, no sentido existencial. Portanto os ‘primos’ de Jesus, visto que eram em contato com ele, não podiam ser chamados ‘anepsioi’.
• Os ‘irmãos’ de Jesus não são nunca colocados em relação com Maria e José; só Jesus é figlio de Maria e filho de José.
• O fato que Jesus é chamado primogênito e não unigênito não é importante. De fato na sociedade hebraica o primeiro filho tem um valor em si e é sempre o primogêntico, mesmo sendo filho único. Ilustra essa tese a descoberta de uma inscrição em um túmulo em Tell el-Jehudi que diz: “nas dores do parto do meu primogênito a sorte me conduziu ao fim da vida”. É claro que nesse caso o primogênito é também unigênito.

Considerações finais

O problema dos ‘irmãos de Jesus’ é sobretudo uma questão dogmática. É muito mais simples acreditar que Jesus tenha tido irmãos. Porém há outros indícios que precisam ser considerados. A palavra ‘primo’ (anèpsios) aparece uma única vez no Novo Testamento (Colossenses 4,10 – A tradução de Almeida nesse caso usa, de modo errado, ‘sobrinho’). Porém em outro livro em grego, Tobias (que não aparece na Bíblia Hebraica e, por isso, nas protestantes, mas cujo texto hebraico foi encontrado também em Qumran), os termos ‘anèpsios’ e ‘adelfós’ são usados sem distinção para significar primo ou parente em geral (cf. Tobias 7,1-4 e confrontar com Tobias 6,1). De fato alguns manuscritos em 7,4 usam anèpsios, enquanto outros usam ‘adelfós’. Além do mais, o contexto bíblico nos obriga a recordar que o conceito de família naquele tempo era muito mais largo do que o atual: fazia parte da família, como irmãos (ah em hebraico), todos os que habitava a casa (bet em hebraico), o clam familiar. Outro aspecto é a tradição. Não é decisivo, mas acreditamos seja importante. Já no segundo século não havia dúvidas sobre a relação dos “irmãos” com Jesus: não eram filhos de Maria. Esse conceito continuou vigente inclusive no tempo da Reforma, com Lutero e Calvino. Somente nos últimos tempos ele voltou a ser questionado.

Concluímos dizendo que a tradição cristã afirma que aqueles que a bíblia chama ‘irmãos de Jesus’ são na verdade seus parentes. E, do nosso ponto de vista, a Bíblia não oferece argumentos para combater essa tese, mas nos dá alguns que podem sustentá-la.

Fonte:http://www.abiblia.org/ver.php?id=824&id_autor=2&id_utente&caso=perguntas

Indico, para leitura, um texto abaixo de Alessandro Lima

Quem são os "irmãos" de Jesus?

Introdução
Os cristãos protestantes costumam ensinar que Maria, Mãe de Jesus, teve outros filhos além de Nosso Senhor. Que o Verdadeiro Espírito Santo nos permita mostrar aos nossos irmãos separados a verdade sobre os "irmãos" do Senhor.
Jesus, o primogênito
No Evangelho de São Lucas lemos: "Maria deu à Luz o seu filho primogênito" (Lc 2,7). Aqui os protestantes enxergam indícios de que o Senhor foi somente o primeiro filho de Maria. Ora, a palavra "primogênito" só significa primeiro filho, podendo ele ser filho único ou não.
A própria Escritura Sagrada dá testemunho disto, vejamos:
"O Senhor disse a Moisés: "Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e faze o levantamento dos seus nomes." (Num 3,40) (grifos meus).
Se para que seja primogênito é preciso que haja outros irmãos, como pode haver primogênitos "da idade de um mês para cima"?
Um outro exemplo está no livro do Êxodo: "e morrerá todo primogênito na terra do Egito, desde o primogênito do faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais." (Ex. 11,5).
E a promessa de Deus se cumpre, onde lemos: "Pelo meio da noite, o Senhor feriu todos os primogênitos no Egito, desde o primogênito do faraó, que devia assentar-se no trono, até o primogênito do cativo que estava no cárcere, e todos os primogênitos dos animais. O faraó levantou-se durante a noite, assim como todos os seus servos e todos os egípcios e fez-se um grande clamor no Egito, porque não havia casa em que não houvesse um morto" (Ex. 12,29-30).
A própria tradição ensina que o Faraó só tinha um único filho. Desta forma, a palavra "primogênito" em Lc 2,7 não prova que o Senhor teve outros irmãos.
José "conheceu" Maria?
No Evangelho de São Mateus lemos: "José não conheceu Maria [não teve relações com ela] até que ela desse à luz um filho." (Mt 1,25).
Neste trecho os protestantes entendem que depois do parto, José "conheceu" Maria.
Quem entende o mínimo de exegese bíblia e cultura judaica, saberá que o Evangelho de Mateus é coberto de "aramaísmos", isto é, expressões típicas da língua aramaica e hebraica, que quando traduzidas para outra língua não possuem o mesmo significado.
A expressão "até que", "até" ou "enquanto" na linguagem bíblica, diz respeito somente ao passado. Para que isso fique mais claro vejamos outros exemplos na própria Escritura:
Ainda em Mateus, encontramos a promessa do Senhor à Igreja: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mt 28,20) (grifo meu). Será que o versículo quer dizer que após a consumação dos séculos, Jesus não estará mais com a Sua Igreja?
"Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte" (2 Sam 6,23) (grifo meu). O escritor sagrado quer dizer que depois de sua morte, Micol teve filhos?
Falando Deus a Jacó do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: "Não te abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse" (Gn 28,15) (grifo meu). Depois que se cumprir o que o Senhor disse, Ele então deveria abandonar Jacó?
Em Gênesis lemos: "[Noé] Soltou o corvo que foi e não voltou até que as águas secassem sobre a terra" (Gn 8,7) (grifos meus). Aqui não significa que o corvo voltou após as águas secarem, o que se quer é dar ênfase ao fato de que ele não voltou, mostrando que as águas finalmente secaram.
Desta forma, em Mt 1,15, não significa que depois do parto José deveria "conhecer" Maria. O Evangelista quer mostrar aqui o milagre da encarnação do Verbo, que aconteceu por obra do Espírito Santo, sem a intervenção do homem (cf. Is 7,14).
A palavra "irmãos" na Escritura Sagrada
Nossos irmãos protestantes alegam que em diversos lugares, o Evangelho fala dos "irmãos" de Jesus, como por exemplo: "estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos querem ver-te" (Mt 12, 46-47; Mc 3,31-32; Lc 8,19-20).
É importante dizer que nas Sagradas Letras, as palavras "irmão", "irmã", "irmãos" e "irmãs" podem denotar qualquer grau de parentesco. Isto porque, as línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzem o nosso "primo" ou "prima", e serve-se da palavra "irmão" ou "irmã". A palavra hebraica "ha", e a aramaica "aha", são empregadas para designar irmãos e irmã do mesmo pai, e não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42,15; 43,5; 12,8-14; 39-15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23,21), primos segundos (Lv 10,4) e até parentes em geral (Jó 19,13-14; 42,11). Existem muitos exemplos na Sagrada Escritura.
Observamos no Gênesis que "Taré gerou Abraão, Naor e Harã; e Harã gerou a Ló" (Gn 11,27). E Ló então era sobrinho de Abraão. Contudo no mesmo Gênesis, mais adiante Abraão chama a Ló de irmão (Gn 13,8).
Ainda em Gn 14,12, o Evangelho nos relata a prisão de Ló; e no versículo 14 observamos: "Ouvindo, pois Abraão que seu irmão estava preso, armou os seus criados, nascido em sua casa, trezentos e dezoito, e os perseguiu até Dã".
Jacó se declara irmão de Labão, quando na verdade era filho de Rebeca, irmã de Labão (Gn 29,12-15).
Assim a qualificação de alguém pela palavra "irmão" ou "irmã" em relação ao Senhor, não significa necessariamente que fossem irmãos de fato. A única certeza que se pode ter neste caso é que eram parentes do Senhor.
A quem os Evangelhos chamam de "irmãos" do Senhor?
Os Evangelhos qualificam algumas pessoas como "irmãos" do Senhor. A primeira referência que encontramos está em São Mateus, onde lemos:
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?" (Mt 13,55).
Uma passagem correspondente encontramos em São Marcos:
"Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito" (Mc 6,3).
1. A importância da expressão "uiós Marias".
Interessante notar que São Marcos usa a expressão grega "uiós Marias", em português "o filho de Maria". Considerando Mateus e Lucas, observe o leitor que apenas o "o filho do carpinteiro" é chamado de "o filho de Maria" e não "um dos filhos de Maria". Isso pode não fazer muita diferença em português, mas em grego é muito significativo.
Primeiramente pelo fato da mulher ser a última das criaturas no mundo antigo, normalmente a filiação de alguém sempre referenciava o pai. Por exemplo: "o filho de Jonas", "o filho de Alfeu", etc. Mas São Marcos ao falar da filiação de Cristo, não aponta para José, mas para Santa Maria, utilizando uma expressão que normalmente só era usada para designar filhos únicos.
É claro que esta ocorrência incomum no Evangelho de Marcos não é sem propósito. O Evangelista que mostrar que Cristo era o único filho de Santa Maria.
2. A Carta de São Paulo aos Gálatas
Segundo nossos irmãos protestantes, os supostos irmãos de sangue de Jesus seriam: Tiago, José, Simão e Judas. É o que o eles afirmam lendo Mt 13,55 e Mc 6,3, confiando que estão sendo guiados pelo Espírito Santo. Dizem ainda que São Paulo confirma isto, pois na carta aos Gálatas ele escreve: "Três anos depois subi a Jerusalém para conhecer Cefas [Pedro], e fiquei com ele quinze dias. E dos outros apóstolos [que estão em Jerusalém] não vi a nenhum, senão a Tiago, irmão do Senhor? (Gl 1,18-19).
Segundo a referência paulina acima, este Tiago, "irmão do Senhor", é de fato um Apóstolo.
Segundo as listas de Mateus, Marcos e Lucas, existiram dois apóstolos de nome Tiago. Vejamos:
"Eis os nomes dos doze apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor" (Mt 10, 2-4) (grifos meus).
"Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador;  e Judas Iscariotes, que o entregou" (Mc 3,16-19) (grifos meus).
"Ao amanhecer, chamou os seus discípulos e escolheu doze dentre eles que chamou de apóstolos: Simão, a quem deu o sobrenome de Pedro; André, seu irmão;Tiago, João, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Simão, chamado Zelador; Judas, irmão de Tiago; e Judas Iscariotes, aquele que foi o traidor" (Lc 6,13-16) (grifos meus).
Conforme podemos observar, um Tiago era filho de Zebedeu e o outro filho de Alfeu. Agora eu pergunto aos meus irmãos protestantes: o que tem Zebedeu e Alfeu com Santa Maria, Mãe de Jesus"
Ora, é ponto pacífico entre todos os cristãos que Santa Maria só foi casada com São José, e que não se casou depois. Portanto, este Tiago, o qual São Paulo se refere em sua carta aos Gálatas não era irmão de sangue do Senhor Jesus; logo, as palavras do Apóstolo não dão suporte à tese protestante.
3. Distinguindo os Tiagos
Primeiro é preciso fazer uma distinção entre os dois "Tiagos" que foram apóstolos. O Tiago, filho de Alfeu (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15) era também chamado de "o menor", veja:
"E também estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé" (Mc 15,40) (grifos meus).
Este Tiago que era irmão de José, não é filho de Zebedeu conforme vemos em São Mateus:
"Havia ali também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56) (grifos meus).
Como vemos acima, a Mãe de Tiago e José não é a mãe dos filhos de Zebedeu. Desta forma, o Tiago chamado "o menor" em Mc 15,40 era o filho de Alfeu. Com efeito, tanto São Marcos quanto São Lucas identificam este Tiago como irmão de José.
Podemos então distinguir os dois "Tiagos" assim: Tiago, o Maior, é filho de Zebedeu e Tiago, o Menor, é filho de Alfeu.
4. Os irmãos dos Tiagos
Na lista dos apóstolos de São Lucas, Judas era irmão do Tiago filho de Alfeu (cf. Lc 6,16), o que corrobora com o livro de Ato, onde encontramos:
"Tendo entrado no cenáculo, subiram ao quarto de cima, onde costumavam permanecer. Eram eles: Pedro e João, Tiago, André, Filipe, Tomé, Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de Tiago" (At 1,13) (grifos meus).
Segundo São Mateus e São Marcos este Judas era também chamado Tadeu (cf. Mt 10,3; Mc 3,18).
Até aqui os filhos de Zebedeu são Tiago (o Maior) e João (cf. Mc 3,16; Mt 10,2). Os filhos de Alfeu são Tiago (o Menor), Judas Tadeu e José (cf. Mt 10,3; Mc 3,18; Lc 6,15; At 1,13).
5. Quem é o Tiago referido na carta aos Gálatas?
São Paulo chama um dos "Tiagos" de "irmão do Senhor" (cf. Gl 1,19). Vimos ele ou é um dos filhos de Zebedeu ou Alfeu, e não de José, portanto, não é irmão de sangue do Senhor Jesus.
Quem é este Tiago a quem o Santo Apóstolo se refere? O Maior (filho de Zebedeu e irmão de João) ou o Menor (filho de Alfeu e irmão de Judas)?
Em Atos lemos que o Tiago, irmão de João foi morto após perseguição de Herodes:
"Por aquele mesmo tempo, o rei Herodes mandou prender alguns membros da Igreja para os maltratar. Assim foi que matou à espada Tiago, irmão de João" (At 12,1-2) (grifos meus).
Isto aconteceu depois que São Paulo esteve em Jerusalém para ver os Apóstolos, pois o seu relato em Gl 1,18-19 é o mesmo evento narrado por São Lucas em Atos 9:
"Chegando a Jerusalém, [Paulo] tentava ajuntar-se aos discípulos, mas todos o temiam, não querendo crer que se tivesse tornado discípulo. Então Barnabé, levando-o consigo, apresentou-o aos apóstolos e contou-lhes como Saulo vira o Senhor no caminho, e que lhe havia falado, e como em Damasco pregara, com desassombro, o nome de Jesus. Daí por diante permaneceu com eles, saindo e entrando em Jerusalém, e pregando, destemidamente, o nome do Senhor" (At 9, 26-28).
Assim, quando São Paulo esteve em Jerusalém para conhecer os apóstolos, os dois "Tiagos" estavam vivos, mas se prestarmos atenção na seqüência entre os capítulos 1 e 2 da carta aos Gálatas, veremos que o Tiago referido em Gl 2,9 parece ser o mesmo de Gl 1,19. O capítulo 2 da carta aos Gálatas se refere ao Concílio de Jerusalém, narrado em At 15, quando o Tiago, filho de Zebedeu já havia sido morto (cf. At 12,1-2).
Com efeito, Rufino ("Comentário ao Credo dos Apóstolos", 37) e Eusébio de Cesaréia ("História Eclesiástica", II,23), ambos historiadores da Igreja Antiga, registraram a Tradição Apostólica que identifica Tiago, autor da Epístola de Tiago, como irmão do Senhor. É sabido que o autor da Epístola a Tiago, é o Tiago filho de Alfeu, irmão de Judas Tadeu (cf. Jd 1,1), o autor da Epístola de Judas.
6. Identificando os "irmãos" de Jesus
Vimos que São Paulo dá testemunho da Tradição Apostólica de identificar Tiago, filho de Alfeu, como irmão do Senhor Jesus. Lembremos que este Tiago tem com irmãos Judas Tadeu e José.
Ora, exatamente os nomes Tiago, Judas e José que encabeçam a lista dos "irmãos" de Jesus na lista dos Evangelistas, lembremos:
"Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, o irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Não vivem aqui entre nós também suas irmãs? E ficaram perplexos a seu respeito" (Mc 6,3) (grifos meus).
"Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?" (Mt 13,55) (grifos meus).
7. Identificando a mãe dos "irmãos" de Jesus
Para ficar ainda mais claro que Tiago, José e Judas são primos de Jesus, vamos identificar mãe deles.
Os evangelistas relataram que além da Mãe de Jesus, outras mulheres estavam próximas ao calvário. Vejamos:
"Havia ali [no Calvário] também algumas mulheres que de longe olhavam; tinham seguido Jesus desde a Galiléia para o servir. Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de Josée a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56) (grifos meus).
Segundo São Mateus eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José e a mãe dos filhos de Zebedeu. Com efeito, Tiago e José que também são irmãos de Judas Tadeu tem por mãe uma Maria que não é a mãe do Senhor. Os filhos de Zebedeu são Tiago Maior e São João, cuja mãe também estava na cena da crucificação.
"E também estavam ali algumas mulheres, olhando de longe. Entre elas estavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé" (Mc 15,40).
São Marcos eram elas: Maria Madalena, Maria mãe de Tiago e José que também são irmãos de Judas e Salomé. Em concordância com São Mateus, Salomé só pode ser a mãe dos filhos de Zebedeu, isto é, a mãe de Tiago Maior e São João. Novamente a Maria mãe de Tiago, Judas e José não é a Maria mãe de Jesus. Esta Maria tinha por marido Alfeu.
"Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria [esposa] de Cleofas, e Maria de Mágdala" (Jo 19,25).
São João identifica Maria esposa de Cleofas como tia de Jesus, isto é, irmã de Santa Maria. Ora, sabemos que Tiago Maior e São João não são primos de Jesus, caso contrário seriam chamados "irmãos do Senhor"; assim, Salomé não é a Maria esposa de Cleofas.
Esta Maria, esposa de Cleofas, é a mãe de Tiago, José e Judas. Portanto, estes "irmãos" de Jesus, são na verdade seus primos, filhos de Maria, tia de Jesus.
Como na antiguidade os homens normalmente eram conhecidos por dois nomes, alguns acreditam que Cleofas é o outro nome de Alfeu. Outros sustentam a tese de que Cleofas é o marido de um segundo casamento de Maria, tia de Jesus. Com efeito, somente Tiago é referido como filho de Alfeu (ver item 2 deste artigo), enquanto se diz apenas que Judas e José são seus irmãos.
Sendo Alfeu e Cleofas, a mesma pessoa ou não, isso não oferece qualquer problema, pois de fato Tiago, Judas e José, são filhos de Maria, tia de Jesus; não importando se Tiago Menor é filho de Alfeu e Judas e José filhos de Cleofas.
8. Quem é Simão?
Em Mt 13,55 e Mc 6,3 encontramos o nome de Simão junto com os de Tiago, José e Judas.
Quando São Mateus e São Marcos elencam os apóstolos, sempre colocam o nome dos irmãos em seqüência. Ex: Pedro e André, Tiago Maior e João, etc.
Nestas mesmas listas, próximo aos nomes dos irmãos Tiago Menor e Judas Tadeu, os evangelistas citam um Simão: "Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu. Simão, o cananeu [...]" (Mt 10,3-4) e "[...] Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador" (Mc 3,18).
Com efeito, Eusébio de Cesaréia em sua "História Eclesiástica" registra que este Simão era primo do Senhor e filho de Cleofas:
"Após o martírio de Tiago [menor] e a destruição de Jerusalém, ocorrida logo depois, conta-se que os sobreviventes dos Apóstolos e discípulos do Senhor vindos de todas as partes se congregaram e com os consangüíneos do Senhor 'havia um grande número deles ainda vivos' reuniram-se em conselho para verificar quem julgariam digno de suceder a Tiago. Todos unanimemente consideraram idôneo para ocupar a sede desta Igreja Simeão, filho de Cléofas, de quem se faz memória no livro do Evangelho (Lc 24,18; Jô 19,25). Diz-se que era primo do Salvador. Efetivamente, Hegesipo [historiador antigo] declara que Cléofas era irmão de José" (HE III,11).
Conclusão
Os "irmãos" de Jesus são seus primos, filhos da irmã da Mãe do Senhor, cujo nome é também Maria; são eles Tiago, José, Judas Tadeu e Simão. Este é o testemunho da Sagrada Escritura e da Memória dos primeiros cristãos.
Fonte:http://www.veritatis.com.br/apologetica/maria-santissima/547-quem-sao-os-irmaos-de-jesus

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