TUDO SOBRE OS APÓCRIFOS DO NOVO TESTAMENTO: AS DIVERSAS NARRAÇÕES DA VIDA DE JESUS, ALÉM DOS EVANGELHOS CANÔNICOS

   

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Aleteia Vaticano - publicado em 04/04/13

O que são os evangelhos apócrifos?


Por que existem narrações da vida de Jesus que não são aceitas como verdadeiras? Quem decidiu que os evangelhos “oficiais” seriam só quatro? Como distinguir os evangelhos verdadeiros dos falsos?

Os evangelhos apócrifos são textos religiosos sobre a vida de Jesus escritos sobretudo a partir da segnda metade do século II. Os primeiros cristãos já os haviam considerado não confiáveis do ponto de visa histórico ou, pelo menos, como não inspirados por Deus. Ainda que muitas vezes possuíssem conteúdos heréticos, tiveram influência na piedade popular e em muitas obras artísticas.

Os evangelhos apócrifos são todos aqueles textos religiosos centrados em Jesus que foram descartados pelos cristãos dos primeiros séculos e que não se encontram no elenco dos livros da Bíblia considerados pela Igreja como autênticos e inspirados.

A palavra “apócrifo” vem do grego e significa “oculto” ou “escondido”. No começo, o termo foi utilizado para designar os escritos que revelavam “verdades” de cunho esotérico a “iniciados”. No entanto, esta palavra é utilizada hoje para qualificar em geral os escritos sobre a vida de Jesus que não foram aceitos pela Igreja como inspirados por Deus nem como norma de fé – ao contrário dos evangelhos atribuídos a Mateus, Marcos, Lucas e João – e que foram compostos na segunda metade do século I.

Os evangelhos que conhecemos são chamados de “canônicos” (termo inspirado na vara ou “cana” utilizada para medir os limites) e traçam o perímetro dos textos sagrados que entraram no “cânon” da Bíblia católica, ou seja, o elenco oficial dos 73 livros (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento), fruto de um processo de discernimento iniciado dento da Igreja no século II e que prosseguiu até o século IV, ainda que o selo definitivo tenha chegado com o Concílio de Trento, em 1546.

Os evangelhos apócrifos têm alguma semelhança com os quatro evangelhos canônicos, pois apresentam palavras e fatos ligados à vida de Jesus, ou narrações mais amplas sobre personagens já presentes nos canônicos. Começaram a circular no âmbito judaico e cristão a partir da metade do século II, como reflexo de tradições e temas populares, mas não eram lidos nas celebrações litúrgicas das primeiras comunidades cristãs nem gozaram de grande prestígio, como testemunha a escassez de manuscritos existentes que nos dão notícia deles.

Não foram aceitos porque eram considerados pouco confiáveis, já que foram compostos em uma época em que já haviam desaparecido não somente os Apóstolos e todas as testemunhas oculares dos acontecimentos ligados à vida e morte de Jesus, mas também os discípulos diretos dos Apóstolos e os membros das suas primeiras comunidades.

Estes escritos se dividem basicamente em quatro grupos: os mencionados pelos antigos escritores cristãos (pelos quais conhecemos algo do seu conteúdo), os fragmentos de papiro encontrados recentemente, os escritos que contêm detalhes sobre a infância de Jesus e os de cunho gnóstico, um movimento herético do começo do cristianismo.

Alguns evangelhos apócrifos, como o “Evangelho dos Hebreus”, são conhecidos somente pelas notícias dos escritores eclesiásticos. Outros, como o “Evangelho de Pedro”, chegaram até nós muito fragmentados – apenas alguns pedaços de papiro – e não acrescentam nada aos evangelhos canônicos.

O “Protoevangelho de Tiago”, o “Pseudo Mateus” e o “Pseudo Tomé” narram dados da vida de Jesus, de Maria e de São José que não aparecem nos evangelhos canônicos; por exemplo, pelo “Protoevangelho de Tiago”, conhecemos a presença do boi e da mula na gruta da Natividade e o nome dos pais de Maria – Joaquim e Ana.

Muitas vezes, estes textos estão repletos de detalhes fantásticos ou piedosos: neles se conta a história cajado florido de São José, o nome dos três reis magos (Melchior, Gaspar e Baltazar) e os milagres que o Menino Jesus fazia, e foram objeto de inspiração de lendas e obras de arte durante a Idade Média. Um exemplo disso é o “Mistério de Elche”, na Espanha (uma representação teatral sobre a Dormição, Assunção e Coroação da Virgem Maria, que acontece todos os anos, no mês de agosto, na Basílica de Santa Maria de Elche, de forma ininterrupta desde a Idade Média).

Outro grupo de evangelhos apócrifos é composto por aqueles que colocam sob a autoridade de algum apóstolo doutrinas e conteúdos estranhos à fé. Estão relacionados ao gnosticismo, um movimento filosófico-religioso que floresceu sobretudo no Norte da África, nos séculos II e III. A intenção primária dos gnósticos era validar o seu sistema de crenças, isto é, com os seus escritos, eles pretendiam remontar a origem das suas crenças ao próprio Cristo. Entre eles, destacam-se o “Evangelho de Maria Madalena”, o “Evangelho de Tomé” e o “Pistis Sophia”.

Destes últimos, falaram muitos Padres da Igreja (grandes homens dos inícios da Igreja, aproximadamente do século II ao VII), para refutá-los e combater a suas derivações gnósticas. Na maior parte das vezes, estes escritos narravam supostas revelações de Jesus depois da sua ressurreição, sobre o princípio da divindade, a criação, o desprezo do corpo etc.

Existem pouco mais de 50 evangelhos apócrifos. Alguns são muito antigos; outros são descobertas recentes, como os escritos de Nag Hammadi (1945). Esses textos continham traduções originais do grego ao copto, quem contêm evangelhos apócrifos chamados de Tomé e Felipe, um “Apocalipse de Paulo”, tratados teológicos e palavras atribuídas a Jesus, de claro conteúdo gnóstico.

Alguns especialistas, atendendo ao seu conteúdo, costumam classificar os evangelhos apócrifos em 4 grupos:

– Evangelhos da infância: narram o nascimento de Jesus e os milagres realizados durante a sua infância.

– Evangelhos de logia: são coleções de ditados e ensinamentos de Jesus, sem um contexto narrativo. Muitos deles são gnósticos.

– Evangelhos da Paixão e Ressurreição: tentam completar os relatos da Morte e Ressurreição de Jesus.

– Diálogos do Ressuscitado: recolhem ensinamentos do Ressuscitado a algum dos seus discípulos. Estes últimos são típicos da literatura gnóstica também.

Os apócrifos mais conhecidos são: “Evangelho de Pedro”, “Evangelho segundo Tomé”, os “Evangelhos da Infância de Tomé”, “Evangelho de Bartolomeu”, “Evangelho de Maria Madalena”, “Evangelho segundo os Hebreus”, “Evangelho de Taciano” (ou Diatessaron), “Evangelho do Pseudo Mateus”, “Evangelho Árabe da Infância”, “Evangelho da Natividade de Maria”, “Evangelho de Felipe”, “Evangelho de Valentino” (Pistis Sophia), “Evangelho de Amônio”, “Evangelho da Vingança do Salvador” (Vindicta Salvatoris), “Evangelho da Morte de Pilatos” (Mors Pilati), “Evangelho segundo Judas Iscariotes” e o “Protoevangelho de Tiago”.

Alguns evangelhos apócrifos são conhecidos há muito tempo. Outros foram descobertos recentemente, como no caso dos Papiros de Oxirrinco, procedentes da escavação arqueológica realizada pelos ingleses S. P. Grenfell e S. Hunt em 1897, na atual El-Bahnasa (Egito).

O mais importante acontecimento recente no campo dos escritos apócrifos ocorreu com a descoberta, por parte de camponeses – em um povoado egípcio chamado Nag Hammadi, em dezembro de 1945 –, de cerca de mil páginas em papiro: 53 textos divididos em códigos, cuja antiguidade remonta provavelmente ao século IV d.C.

Os escritos continham traduções originais do grego ao copto, quem contêm evangelhos apócrifos chamados de Tomé e Felipe, um “Apocalipse de Paulo”, tratados teológicos e palavras atribuídas a Jesus, de claro conteúdo gnóstico.

Às vezes, os apócrifos proporcionam detalhes que descrevem a sensibilidade dos cristãos dos primeiros séculos ou que confirmam os dados contidos nos evangelhos canônicos. Ainda que não contenham fontes escriturísticas de primeira mão, os evangelhos apócrifos podem ser úteis para confirmar alguns dados relatados pelos quatro evangelistas. Em outros casos, o valor dos apócrifos consiste em refletir a mentalidade do ambiente em que se originaram.

Por exemplo, o “Evangelho segundo os Hebreus”, que, para os especialistas, remontaria à primeira metade do século II. Não temos nenhum testemunho direto dele, mas apenas algumas frases recolhidas por alguns homens ilustres dos primeiros séculos, entre eles Sofrônio Eusébio Jerônimo, mais conhecido como São Jerônimo, que, além da célebre tradução latina da Bíblia a partir do grego e do hebraico, compôs a obra De viris illustribus, isto é, uma espécie de dicionário biográfico dedicado aos homens que haviam se distinguido de alguma maneira nos primeiros séculos.

Nesta obra, Jerônimo recolhe, em latim, uma pequena passagem do perdido “Evangelho segundo os Hebreus”, que ele provavelmente teria consultado várias vezes na biblioteca de Cesareia Marítima, fundada por Orígenes, uma das mais ricas e renomadas do mundo antigo, destruída pelos árabes junto com a cidade, em 638: “Após ter dado a Síndone ao servo do sacerdote, o Senhor foi até Tiago e apareceu a ele”. Nesta passagem, Jerônimo recolhe a palavra sindon para traduzir a homônima palavra grega que havia empregado ao traduzir o Evangelho de Lucas (23, 53), em que se fala do lenço que envolvia o corpo de Jesus. O “Evangelho segundo os Hebreus” teria, portanto, o mérito de testemunhar que, na época da sua composição, a Síndone se encontrava provavelmente na Palestina, talvez na própria Jerusalém.

Às vezes, o valor dos apócrifos consiste em refletir a mentalidade do ambiente em que se originaram e sobretudo a vontade das pessoas de preencher os vazios deixados pela sóbria descrição dos evangelhos canônicos. Por exemplo, o “Evangelho de Pedro”, composto em meados do século II, oferece, ainda que com detalhes estranhos, uma descrição do momento preciso da Ressurreição de Cristo. O relato reflete a necessidade que as pessoas tinham, especialmente os cristãos ligados à figura de Pedro, de imaginar o momento que transformaria para sempre suas vidas e que constituiria o centro da sua fé.

Fonte:https://pt.aleteia.org/2013/04/04/o-que-sao-os-evangelhos-apocrifos/

Apócrifos do Novo Testamento

texto escrito nos primeiros séculos do cristianismo, vetado no Primeiro Concílio de Niceia / De Wikipedia, a enciclopédia livre

Os Apócrifos do Novo Testamento, também conhecidos como "evangelhos apócrifos", são uma coletânea de textos, alguns dos quais anônimos, escritos nos primeiros séculos do cristianismo, vetados no Primeiro Concílio de Niceia, não reconhecidos pelo cristianismo ortodoxo e que, por isso, não foram incluídos no Cânone do Novo Testamento. Não existe um consenso entre todos os ramos da fé cristã sobre o que deveria ser considerado canônico e o que deveria ser apócrifo.

Definição

O termo "apócrifos" vem do grego ἀπόκρυφα e significa, justamente, "coisas escondidas". O termo é geralmente aplicado para designar livros que já foram considerados pela igreja como úteis, mas não divinamente inspirados. Assim sendo, referir-se a escritos gnósticos como "apócrifos" pode ser enganador, pois muitos deles não são assim classificados por fiéis mais ortodoxos do ponto de vista doutrinário. A partir do Concílio de Trento, a palavra "apócrifo" adquiriu conotação eminentemente negativa e se tornou sinônima de "espúrio" ou "falso" (vide Cânone de Trento)

O fato de algumas obras serem categorizadas como Apócrifas do Novo Testamento é algo indicativo da ampla gama de interpretações que a mensagem de Jesus provocou. Durante os primeiros séculos da transmissão desta mensagem, um considerável debate se criou para preservar sua autenticidade. Três métodos principais de endereçar esta questão sobreviveram até os nossos dias: ordenação, onde grupos autorizam indivíduos como professores confiáveis da mensagem; credos, onde os grupos definem as fronteiras de interpretação da mensagem; e os cânones bíblicos, que listam os documentos primários que cada grupo acredita conterem a mensagem originalmente ensinada por Jesus. Muitos livros antigos sobre Jesus não foram incluídos nos cânones e hoje em dia são chamados de "apócrifos". Alguns deles foram vigorosamente condenados e suprimidos, sobrevivendo hoje apenas em fragmentos. As mais antigas listas de obras autênticas do Novo Testamento não são idênticas às listas modernas. Como exemplo, o Apocalipse foi durante muito tempo considerado como não-autêntico (veja Antilegomena), enquanto que o Pastor de Hermas era considerado genuíno por alguns cristãos (e ainda é em alguns ramos da fé cristã), e aparece no Codex Sinaiticus.

Da mesma forma que o Antigo Testamento, a maioria dos livros do Novo Testamento foram aceitos pela igreja logo de início, sem objeções: os chamados homologoumena. Isso porque os pais da igreja foram unânimes a favor de sua canonicidade. Os homologoumena aparecem em praticamente todas as principais tradições e cânones da igreja primitiva: eles formam 20 dos 27 livros que entraram no Canon do Novo Testamento.

Antilegomena

As obras que se apresentam como "autênticas", mas que não obtiveram aceitação geral de todas as igrejas são chamadas de "Apócrifos do Novo Testamento". Elas não são aceitas como canônicas pela maior parte das denominações principais do cristianismo. Como exemplo, atualmente apenas a Igreja Ortodoxa da Etiópia reconhece o Pastor de HermasI ClementeAtos de Paulo e diversos Apócrifos do Antigo Testamento, textos que as demais denominações cristãs consideram como apócrifos.

Peshitta siríaca, utilizada por todas as várias igrejas siríacas, originalmente não incluía 2 Pedro, 2 João, 3 João, Judas e Apocalipse (e este cânone de 22 livros é o que foi citado por São João Crisóstomo - 347-407 d.C. - e Teodoreto - 393-466 d.C. - da Escola de Antioquia). O siríacos ocidentais adicionaram os cinco livros faltantes ao seu Novo Testamento na era moderna (como a Lee Peshitta de 1823). Atualmente, os lecionários oficiais seguidos pela Igreja Síria Ortodoxa de Malankara e a Igreja Síria Caldéia, também conhecida como Igreja do Oriente (Nestoriana), apresentam ainda apenas lições sobre os 22 livros da Peshitta original.

Igreja Apostólica Armênia por vezes já incluiu a Terceira Epístola aos Coríntios, mas não a lista sempre com os outros 27 livros canônicos do Novo Testamento. Esta igreja não aceitava o Apocalipse em sua bíblia até 1200 d.C.. O Novo Testamento da Bíblia copta, adotado pela Igreja do Egito, inclui as duas Epístolas de Clemente.

História


A separação atual foi imposta pelo Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, representante máximo da Igreja Católica, realizado de 1545 a 1563. Mas bem antes disso, os pais da igreja, já no século II, combateram esses textos nos seus escritos. Eusébio, por exemplo, os denomina como "totalmente absurdos e ímpios". Desde o início do Cristianismo parece ter havido fraudes. O apóstolo Paulo, por exemplo, começou a assinar suas cartas por causa de textos falsos que circulavam na igreja no já no século I (II Tes 3:17 e 2:2).

Evangelhos

Evangelhos canônicos


Dos muitos evangelhos escritos na antiguidade, apenas quatro foram aceitos como parte do Novo Testamento, ou seja, como canônicos.

Evangelhos canônicos

De Wikipedia, a enciclopédia livre 

MateusMarcosLucas e João são os autores dos únicos evangelhos aceitos pela maioria das denominações cristãs como legítimos e que portanto integram o Novo Testamento da Bíblia. O cânon do Novo Testamento começou a ser definido por volta de 150 d.C. durante a controvérsia marcionita e aparece documentado pela primeira vez na forma atual em 367, em uma carta de Atanásiobispo de Alexandria. O Terceiro Sínodo de Cartago, em 397, ratificou o cânon já aceito previamente no Sínodo de Hipona Regia, realizado em 393, em Hipona, onde hoje é a Argélia.

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Tabelas canónicas dos Evangelhos de Rabbula com retratos dos Quatro Evangelistas, da esquerda para a direita: JoãoMateusLucas e Marcos.
Novo Testamento
Evangelhos
Livro Histórico
Epístolas Paulinas
Epístolas Universais
Livro Apocalíptico

O evangelho de Marcos dá mostras de ser o livro mais antigo. O evangelho de João foi o último entre os evangelhos a ser escrito e possui características particulares tanto do ponto de vista dos textos quanto da perspectiva teológica do escrito.

Evangelho de Mateus


O Evangelho de Mateus cita muitas passagens do Antigo Testamento e profecias. Foi escrito para o público judeu para tentar provar que Jesus seria o Messias das profecias do Antigo Testamento. Mateus relata a vida de Jesus desde o nascimento até a ressurreição, destacando os ensinamentos, parábolas e milagres de Jesus. Possui 28 capítulos.


Evangelho segundo Mateus

livro do Novo Testamento / De Wikipedia, a enciclopédia livre 

Evangelho segundo Mateus (em grego: κατὰ Ματθαῖον εὐαγγέλιον, transl. katá Matthaion euangelion, ou τὸ εὐαγγέλιον κατὰ Ματθαῖον, transl. to euangelion katá Matthaion), comumente abreviado para Evangelho de Mateus, é um dos quatro evangelhos canônicos e é o primeiro livro do Novo Testamento. Este evangelho sinóptico (junto com o Evangelho de São Marcos e o Evangelho de São Lucas) é um relato da vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré. Ele detalha a história de sua genealogia até a Grande Comissão.

Novo Testamento
Evangelhos
Livro Histórico
Epístolas Paulinas
Epístolas Universais
Livro Apocalíptico

O Evangelho de Mateus está muito alinhado com o judaísmo do primeiro século, e tem sido associado aos evangelhos judaico-cristãos; ressalta como Jesus teria cumprido as profecias judaicas. Alguns detalhes da vida de Jesus, de sua infância, em particular, estão relacionados somente em Mateus. Seu evangelho é o único a mencionar a Igreja ou ecclesia. Mateus também enfatiza a obediência e a preservação da lei bíblica. Uma vez que este evangelho tem prosa ritmada e muitas vezes poética, que ele é adequado para a leitura pública, tornando-se uma escolha popular litúrgica.

Alguns estudiosos acreditam que o Evangelho de Mateus foi composto na parte final do primeiro século por um judeu cristão, o período mais aceitável por evidências históricas é entre a queda de Jerusalém 70 d.C. e de Inácio de Antioquia escrever a Epístola aos Esmirniotas ao redor de 115 d.C., na qual Inácio cita a "parábola das Bodas" de Mt 22 assim como Mt 3:15. Escritos cristãos primitivos diziam que Mateus, o apóstolo, o escreveu em hebraico. Muitos estudiosos hoje acreditam que o Mateus canônico foi originalmente escrito em grego por uma testemunha cujo nome é desconhecido para nós e baseado em fontes como o Evangelho segundo Marcos e na Fonte Q", uma posição conhecida como "prioridade de Marcos". No entanto, alguns estudiosos como Craig Blomberg, um professor especialista em Novo Testamento no Seminário Denver, discordam destas teorias em diversos pontos e defendem que Mateus de fato escreveu o Evangelho.

O Evangelho segundo Mateus pode ser dividido em cinco seções distintas: o Sermão da Montanha (cap. 56 e 7), as Instruções para a missão aos doze apóstolos (cap 10), o Discurso das Parábolas (cap. 13), instruções para a comunidade (18), o Sermão do Monte das Oliveiras (cap. 24-25).

É seguido pelo Evangelho de São MarcosEvangelho de São Lucas e Evangelho de São João, nessa ordem. Para o uso litúrgico na Igreja Católica Romana, os evangelhos são apresentados desde o Concílio Vaticano II num livro chamado de evangeliário.

Composição

Citação do evangelho de Mateus na Basílica da Santíssima Trindade, (Santuário de Fátima), Portugal
Citação do evangelho de Mateus na Basílica da Santíssima Trindade, (Santuário de Fátima), Portugal

Tradicionalmente, Mateus era visto como o primeiro Evangelho escrito. Os evangelhos são tradicionalmente impressos com Mateus em primeiro lugar porque, segundo Santo Agostinho, era esse o mais antigo (segundo ele, este evangelho teria sido escrito de 50 a 75). Atualmente, a maioria dos estudiosos aceita a tese que defende que o Evangelho de Marcos é o mais antigo dos Evangelhos Canônicos. Em contrapartida, o evangelho de Mateus foi o primeiro dos evangelhos a ser lido publicamente nas comunidades cristãs (o que era sinal de sua aceitação como "literatura sagrada" entre os primeiros cristãos).

Acreditava-se que o Evangelho de Mateus tinha sido composto por Mateus, um discípulo de Jesus. No entanto, os estudiosos do século XVIII questionaram a visão tradicional de composição. Hoje, a maioria dos estudiosos concorda que Mateus não escreveu o Evangelho que leva seu nome, e prefere descrever o autor como um anônimo cristão de origem judaica, escrito no final do primeiro século, embora muitos preveem a possibilidade de conexão indireta com o apóstolo. Estudiosos mais conservadores como Craig BlombergFrederick Fyvie BruceGregory A. Boyd acreditam que o apóstolo Mateus realmente escreveu este evangelho, e eles notaram que, como um publicano, Mateus não teria sido uma pessoa ideal para atribuir falsamente um evangelho. A grande maioria dos estudiosos acredita que o Evangelho de Mateus foi originalmente composto em grego ("primazia grega") ao invés de aramaico ou hebraico.

Evangelhos Sinópticos

Os Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas (conhecidos como os Evangelhos sinópticos) incluem muitos dos mesmos episódios, muitas vezes, na mesma sequência, e às vezes até na mesma formulação. A relação do Evangelho de Mateus com o de Marcos e o de Lucas é uma questão em aberto conhecida como o problema sinóptico.

O Evangelho de Mateus contém cerca de 612 versículos dos 662 versículos do Evangelho de Marcos, e principalmente em exatamente a mesma ordem. Mateus, no entanto, muito frequentemente remove ou modifica a partir de frases redundantes ou palavras incomuns de Marcos e modifica as passagens do evangelho de Marcos que possam colocar Jesus em uma luz negativa (por exemplo, remover o comentário altamente crítico que Jesus "está fora de sua mente" em Marcos 3:21, removendo "não te importas" de Marcos 4:38, etc.).

Embora o autor do Evangelho de Mateus tenha escrito de acordo com seus próprios planos e objetivos e do seu próprio ponto de vista, a grande quantidade de sobreposição na estrutura das frases e na escolha das palavras indica que Mateus copiou de outros escritores do Evangelho, ou eles copiaram uns dos outros, ou eles todos copiaram de outra fonte comum. Os problemas sinópticos causaram nos estudiosos do século XVIII questionamentos sobre a visão tradicional de composição.

A visão mais popular na ciência moderna é a hipótese das duas fontes, que especula que Mateus tomou emprestado de Marcos e de uma coleção de ditos hipotéticos chamados fonte Q (de Quelle, alemão que significa "fonte"). Para a maioria dos estudiosos as fontes Q para partes de Mateus e Lucas - às vezes, usa exatamente as mesmas palavras - mas não são encontradas em Marcos. Exemplos desses materiais são as três tentações do Diabo a Jesus, as Bem-Aventuranças, a Oração do Senhor e muitos ditos individuais

A minoria dos estudiosos continua a defender a prioridade de Mateus, com Marcos tomando emprestado de Mateus ("Hipótese agostiniana” e "Hipótese de Griesbach"). Então, em 1911, a Comissão Pontifícia Bíblica afirmou que Mateus foi o primeiro evangelho escrito, que foi escrito pelo evangelista Mateus, e que ele foi escrito em aramaico.

Hipótese das Quatro Fontes

Em "Os Quatro Evangelhos: Um Estudo das Origens" (1924), Burnett Hillman Streeter argumentou que uma terceira fonte, conhecido como fonte M e também uma fonte hipotética, dizendo que Mateus não tem paralelo em Marcos ou Lucas. Esta hipótese das quatro fontes postula que havia pelo menos quatro fontes do Evangelho de Mateus: o Evangelho de Marcos e três fontes perdidas (Q, M e L).

Segundo essa visão, o primeiro Evangelho é uma combinação das tradições de JerusalémAntioquia e Roma, enquanto o terceiro Evangelho representa Cesareia Marítima, Antioquia e Roma.

O fato das fontes de Antioquia e Roma serem reproduzidas pelos dois evangelistas Mateus e Lucas, foi devido à importância dessas Igrejas. Para o pensamento de Streeter não há provas de que as outras fontes sejam menos autênticas. Durante o resto do século XX, havia vários desafios e refinamentos da hipótese de Streeter. Por exemplo, em seu livro de 1953 o Evangelho antes de Marcos, Pierson Parker colocou uma primeira versão de Mateus (Aram. M ou proto-Mateus) como fonte primária.

Parker argumentou que não foi possível separar o material "M" de Streeter do material Mateus em paralelo com Marcos. A opinião consensual dos estudiosos contemporâneos do Novo Testamento é que o Evangelho de Mateus foi originalmente composto em grego e não em hebraico ou aramaico, e que o apóstolo Mateus não escreveu o Evangelho que leva seu nome.

Testemunho dos Padres da Igreja


Este pai apostólico, que foi discípulo do apóstolo João ou do presbítero João, identificou este evangelho como de Mateus, apóstolo do Senhor:
"Mateus compôs sua história [a respeito de Jesus] em dialeto hebraico e cada um traduzia segundo a sua capacidade" (Papias de Hierápolis - História Eclesiástica de Eusébio)
O bispo de Lyon, na França, declarou o seguinte a respeito deste evangelho e seu autor:
"Mateus, de fato, produziu seu evangelho escrito entre os hebreus no dialeto deles..." (Irineu de Lyon - História Eclesiástica de Eusébio)
Declara a autoria deste Evangelho a Mateus, conferindo-lhe natureza autoritária:
"Segundo aprendi com a tradição a respeito dos quatro evangelhos, que são os únicos inquestionáveis em toda Igreja de Deus em todo o mundo. O primeiro é escrito de acordo com Mateus, o mesmo que fora publicano, mas depois apóstolo de Jesus Cristo, o qual, tendo-o publicado para os convertidos judeus o escreveu em hebraico" (Orígenes - História Eclesiástica de Eusébio)
O bispo de Cesareia, que herdou a formação teológica de Orígenes, aceita o testemunho antigo e aprova a autoria de Mateus neste evangelho:
"...de todos os discípulos, Mateus e João são os únicos que nos deixaram comentários escritos e, mesmo eles, foram forçados a isso. Mateus tendo primeiro proclamado o evangelho em hebraico, quando estava para ir também às outras nações, colocou-o por escrito em sua língua natal e assim, por meio de seus escritos, supriu a necessidade de sua presença entre eles." (Eusébio de Cesareia - História Eclesiástica)

Estudos no século XVIII


Edward Nicholson (1881) seguindo Jerônimo (Em Mattheum 12:13) sustenta que existia entre as comunidades dos Nazarenos e Ebionitas, um evangelho comumente referido como o Evangelho dos Hebreus. Ele foi escrito em aramaico e sua autoria era atribuída a São Mateus. De fato, os Padres da Igreja, enquanto o Evangelho dos hebreus ainda circulava e era lido, sempre se referiam a ele com respeito. Os primeiros Padres da Igreja (Clemente de AlexandriaIrineuOrígenesJerônimo, etc.) todos fizeram suas referências a este evangelho de Mateus.

Bernhard Pick (1882) acredita que o apóstolo Mateus escreveu um relato de testemunha ocular em hebraico, sobre a vida de Jesus, muito antes de qualquer um dos evangelhos canônicos e que este Evangelho dos hebreus era considerado autêntico, realizada em grande consideração pelos primeiros líderes da Igreja e foi a base para evangelhos futuros, incluindo o Evangelho de Mateus na Bíblia.

Manuscritos Antigos

Os principais manuscritos gregos (unciais) trazem sempre os quatro evangelhos presentes. Os manuscritos que trazem apenas os evangelhos são mais numerosos que os que contêm outras partes do Novo Testamento, portanto, temos mais de 1400 manuscritos gregos dos evangelhos, o que torna o livro de Mateus um dos mais bem documentados da Antiguidade.

Mateus, o evangelista

Mateus era galileu e filho de Alfeu. Ele recolhia os impostos (publicano) do povo hebreu para Herodes Antipas. Sua Repartição de Finanças era localizada em Cafarnaum, onde ele era desprezado e considerado um pária. No entanto, como era cobrador de impostos ele teria sido alfabetizado. Foi nesse cenário, que Jesus chamou Mateus para ser um dos doze apóstolos. Seu chamamento foi o único individual registrado nos sinópticos. Depois de seu chamado, Mateus convidou Jesus para casa para uma festa.

Como apóstolo, Mateus seguiu Jesus, e foi uma das testemunhas da Ressurreição e Ascensão. Mateus juntamente com Maria e Tiago e outros seguidores mais próximos do Senhor, retirou-se para o Cenáculo, em Jerusalém. Tiago sucedeu a Pedro como o líder de da comunidade de Jerusalém. Fato é que os apóstolos permaneceram em Jerusalém ainda por um bom tempo, e proclamaram que Jesus de Nazaré, era o Messias prometido. Esses primeiros judeus cristãos eram chamados de nazarenos. É quase certo que Mateus pertencia a esta comunidade, pois tanto o Novo Testamento quanto o Talmude afirmaram ser isto verdade.

Alguns acreditam que Mateus morreu de morte natural ou na Etiópia ou na Macedónia. No entanto, a Igreja Católica Romana e a Igreja Ortodoxa dizem que ele morreu como um mártir.

O Evangelho de Mateus

Por conveniência, o Evangelho de Mateus pode ser dividido em quatro seções estruturalmente distintas: Duas seções de introdução, a seção principal, que pode ser ainda dividido em cinco seções, cada uma com uma componente narrativa acompanhada de um longo discurso de Jesus e, finalmente, a seção da Paixão e Ressurreição.

  1. Contendo a genealogia, o nascimento e a infância de Jesus (Capítulo 1 e 2).
  2. Os discursos e ações de João Batista preparatórias para o ministério público de Cristo. (Capítulo 3 e 4:11)
  3. Os discursos e o ministério de Cristo (4:12-26:1).
    1. Sermão da Montanha, a moral relativa (cap. 56 e 7)
    2. Discurso Missionário, a respeito da missão que Jesus deu a seus doze apóstolos. (10)
    3. Discurso das Parábolas, histórias que ensinam sobre o Reino de Deus. (Capítulo 13)
    4. Discurso sobre a Igreja, sobre as relações entre os discípulos. (18)
    5. Discurso no Monte das Oliveiras: sobre sua segunda vinda, o julgamento das Nações e fim dos tempos. (24-25)
  4. sofrimento, morte e ressurreição de Jesus, a Grande Comissão. (26-28)

Referências

  1. Wikisource-logo.svg "Gospel of St. Matthew" na edição de 1913 da Enciclopédia Católica (em inglês). Em domínio público.
  2. «Kata». Consultado em 30 de abril de 2006Cópia arquivada em 30 de abril de 2006
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Bibliografia

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  • GUNDRY, Robert H.; Panorama do Novo Testamento; São Paulo: Edições Vida Nova, 2002
  • TURNER, D.D.; Introdução ao Novo Testamento, São Paulo:Imprensa Batista Regular, 1987

Ligações externas

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Evangelho de Marcos

Este Evangelho relata principalmente o ministério de Jesus e foi escrito para o público romano. Possui 16 capítulos.


Evangelho segundo Marcos

De Wikipedia, a enciclopédia livre 

Evangelho Segundo Marcos (em gregoκατὰ Μᾶρκον εὐαγγέλιον, τὸ εὐαγγέλιον κατὰ Μᾶρκον - transl. euangelion kata Markon) é o segundo livro do Novo Testamento. Sendo o evangelho mais curto da Bíblia cristã, com apenas 16 capítulos, ele conta a história de Jesus de Nazaré. É considerado pelos eruditos um dos três evangelhos sinópticos. De acordo com a tradição, Marcos foi pensado para ser um epítome, o que representaria sua atual posição na Bíblia, como um resumo de Mateus e Lucas. No entanto, a maioria dos estudiosos contemporâneos considera essa obra como a mais antiga dos evangelhos canônicos - uma posição conhecida como prioridade de Marcos - embora a obra contenha 31 versículos relativos a outros milagres não relatados nos outros evangelhos.

Novo Testamento
Evangelhos
Livro Histórico
Epístolas Paulinas
Epístolas Universais
Livro Apocalíptico

O Evangelho de Marcos narra o ministério de Jesus, desde Seu batismo por João Batista até Sua Ascensão. A obra concentra-se particularmente na última semana de Sua vida (capítulos 11-16, a viagem até Jerusalém). Sua narrativa rápida retrata Jesus como um homem de ação heróica.

Um tema importante de Marcos é o Segredo Messiânico. Jesus pede silêncio sobre sua identidade messiânica algumas vezes após fazer alguns milagres, além de esconder sua mensagem com parábolas. Os discípulos também não conseguem entender as implicações dos milagres de Cristo.

Todos os quatro evangelhos canônicos são anônimos, mas a tradição cristã primitiva identifica autor deste evangelho como Marcos, o Evangelista, de quem se diz ter baseado este trabalho sobre o testemunho de Pedro. Alguns estudiosos modernos consideram essa tradição essencialmente credível, enquanto outros a põe em xeque. No entanto, mesmo os estudiosos que duvidam da autoria de Marcos reconhecem que muito do material deste Evangelho remonta um longo caminho, representando informações importantes sobre o Jesus histórico. Por isso, o Evangelho de Marcos é muitas vezes considerado a fonte primária de informações sobre o ministério de Jesus.

Composição

Provavelmente, o Evangelho de Marcos não leva o nome do seu autor. A tradição do século II atribuiu a autoria deste evangelho a Marcos Evangelista (também conhecido como João Marcos), um companheiro de Pedro. Para os Pais da Igreja, a obra foi baseada nas memórias de Pedro. O evangelho foi escrito em grego koiné logo após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém no ano 70 d.C., possivelmente na Síria. No entanto, outros estudiosos afirmam que evidências, tanto externa quanto interna, apontam para a autoria de Marcos, antes do ano 70 d.C. Por outro lado, o uso feito pelo autor de fontes variadas seria uma evidência contra a autoria tradicional. De acordo com a maioria, o autor é desconhecido.

Autoria e fontes

De acordo com IrineuPapias de Hierápolis (escritor do início do século II) relatou que este evangelho foi escrito por João Marcos, companheiro de Pedro em Roma e em "momento algum errou ao escrever as coisas conforme recordava. Sua preocupação era apenas uma: não omitir nada do que havia ouvido, nem falsificar o que transmitia.". A maioria de estudiosos modernos do Novo Testamento acreditam que este evangelho foi escrito na Síria por um cristão desconhecido, em torno de 70 dC, utilizando várias fontes, incluindo uma narrativa da paixão (provavelmente escrito), uma coleção de milagres e histórias de Jesus (oral ou escrita), tradições apocalípticas (provavelmente escrito), além de controvérsias e ditos didáticos (alguns possivelmente escritos). Alguns dos materiais presentes no Evangelho de Marcos, no entanto, são bastante antigos, o que representa uma importante fonte de informações históricas sobre o Jesus histórico.

Marcos escreveu principalmente para um público gentio, de língua grega e residentes do Império Romano: as tradições judaicas são explicadas de forma clara visando os não-judeus (por exemplo, Marcos 7:1–4Marcos 14:12Marcos 15:42); há várias palavras e frases em aramaico que são expandidas e explicadas pelo autor, como ταλιθα κουμ (Talitha qoum, em Marcos 5:41, no episódio da Filha de Jairo), κορβαν (CorbanMarcos 7:11), αββα (abbaMarcos 14:36​​). Quando Marcos faz uso do Antigo Testamento, ele o faz se utilizando da versão traduzida para o grego, a Septuaginta (por exemplo, Marcos 1:2Marcos 2:23–28Marcos 10:48Marcos 12:18–27; também compare Marcos 2:10 com Daniel 7:13–14) .

Fonte de Mateus e Lucas

Maioria dos estudiosos acreditam que o Evangelho de Marcos foi o primeiro dos evangelhos canônicos a ser escrito, servindo como fonte para os evangelhos de Mateus e Lucas. A razão porque este evangelho recebe tanta atenção por parte da comunidade acadêmica é a crênça generalizada de que o Evangelho de Marcos e, provavelmente, a fonte Q, foram a base dos evangelhos sinópticos, como descrita na hipótese das duas fontes. Assim, os eruditos no Novo Testamento concordam que o Evangelho de Marcos é um documento, escrito grego koiné e que serviu de base para os Evangelhos Sinópticos. Ele fornece a cronologia geral da vida de Jesus, desde o batismo até o túmulo vazio.

Diferentes versões

O Evangelho de Marcos é o mais curto dos evangelhos canônicos. Seus manuscritos, tanto os pergaminhos quanto os códices, possuem diferentes versões do texto, principalmente no início e no final. Estas perdas não afetam essencialmente o conteúdo teológico do evangelho. Por exemplo, Marcos 1:1 foi encontrado em duas formas diferentes: a maioria dos manuscritos de Marcos, incluindo o Codex Vaticanus do século XIV, tem o texto "filho de Deus", enquanto outros três importantes manuscritos não possuem essa versão. Esses três são: Codex Sinaiticus (século IV), Codex Koridethi (século IX) e o texto chamado Minúsculo 28 (século XI). O suporte textual para o Filho de Deus em Marcos 1:1 é forte, mas a frase pode não estar presente no texto original.

As interpolações também não são editoriais. Na crítica textual, é comum que comentários escritos nas margens dos manuscritos sejam incorporadas ao texto nas cópias daquela versão. Qualquer exemplo particular é aberta à discussão, mas pode-se tomar como exemplo a nota de «Quem tem ouvidos para ouvir, ouça» (Marcos 7:16), que não é encontrado nos manuscritos mais antigos.

Revisão e erro editorial também podem contribuir para as diferentes versões do texto de Marcos. A maioria das diferenças são triviais. No entanto, Marcos 1:41, onde o leproso se aproximou de Jesus implorando para ser curado, é significativo. Os manuscritos mais antigos (Texto-tipo Ocidental) afirmam que Jesus ficou irado com o leproso, enquanto as versões mais tardias (Texto-tipo Bizantino) indicam que Jesus mostrou compaixão. Esta é possivelmente uma confusão entre as palavras em aramaico ethraham (ele tinha pena) e ethra'em (ele ficou furioso). Como é mais fácil entender por que um escriba iria mudar raiva para pena do que pena à raiva, a versão anterior é provavelmente a original.

Final de Marcos


A partir do século XIX, os estudiosos da crítica textual passaram a afirmar que Marcos 16:9–20, que descreve o encontro de alguns discípulos com Jesus ressuscitado, foi uma adição posterior ao evangelho. Nesse caso, Marcos 16:8 seria o fim do Evangelho de Marcos com a descrição do túmulo vazio e que é imediatamente precedido por uma declaração de um:

"jovem vestido com uma túnica branca afirmando que Jesus ressuscitou e está indo adiante de vós para a Galiléia".

Os últimos doze versos estão faltando nos mais antigos manuscritos do Evangelho de Marcos. Além disso, o estilo destes versos é diferente do resto deste evangelho, sugerindo que eles foram uma adição posterior.

Características

Evangelho de Marcos é diferente dos outros evangelhos em vários detalhes, na linguagem e no conteúdo. Sua teologia é única. O vocabulário presente nesta obra possui 1330 palavras distintas, das quais 60 são nomes próprios. Oitenta palavras (exclusivo de nomes próprios) não são encontradas em outras partes do Novo Testamento. Cerca de um quarto delas não são clássicas. Além disso, Marcos faz uso do presente histórico, bem como do segredo messiânico a fim de revelar a mensagem do seu Evangelho.

Teologia

Os cristãos consideram o Evangelho de Marcos como divinamente inspirado, tendo a teologia desta obra em consonância com a do resto da Bíblia. Cada um vê Marcos como uma das mais importantes contribuições para a teologia cristã, apesar de os cristãos discordarem às vezes sobre a natureza dessa teologia. No entanto, a contribuição deste evangelho para a teologia do Novo Testamento pode ser identificada como única em si.

Marcos é visto tanto como um historiador quanto como um teólogo, declarando que sua narrativa seja sobre o Evangelho de Jesus Cristo. O tema do Messias sofredor é a peça central para a interpretação que Marcos faz de Jesus, da teologia deste evangelho bem como da estrutura da obra. O conhecimento sobre a verdadeira identidade sobre o Messias está oculto e somente aqueles com uma visão espiritual podem ver. O conceito de conhecimento oculto pode ter se tornado a base dos Evangelhos Gnósticos. Por isso, John Killinger argumenta que, em Marcos, a narrativa da ressurreição está escondida durante todo o evangelho ao invés de estar presente no final. Ele especula assim que o autor deste evangelho pode ter sido um gnóstico cristão. No entanto, a maioria dos estudiosos no Novo Testamento não concorda com essa visão.

Segredo messiânico

Em Marcos, mais do que nos outros evangelhos sinópticosJesus esconde sua identidade messiânica. Quando ele vai exorcizar demônios e eles o reconhecem, Jesus sempre manda-os ficar em silêncio. Quando Ele cura as pessoas, pede-lhes para não revelar como elas foram curadas. Quando prega, ele usa parábolas para esconder sua verdadeira mensagem. Os discípulos são ignorantes sobre a compreensão do verdadeiro significado do Cristo, compreendendo-o somente após Sua morte. Este segredo messiânico é uma questão central nos estudos da Bíblia.

Em 1901, William Wrede desafiou a visão corrente. Ele criticou os estudos de Marcos que afirmavam que este evangelho possuía uma narrativa simples e histórica. Para Wrede, o segredo messiânico foi um artifício literário que Marcos usou para resolver a tensão entre os primeiros cristãos, que saudaram Jesus como o Messias, e o Jesus histórico que, segundo ele, nunca fez tal afirmação sobre si. O segredo messiânico continua a ser um dos principais tópico de debate entre os eruditos do Novo Testamento.

Adocionismo


Os cristãos acreditam que Jesus é o Filho de Deus. Para a maioria dos adeptos do cristianismo, Jesus de Nazaré foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria.

No entanto, há uma crença entre uma minoria cristã chamada Adocionismo. Os adocionistas acreditam que Jesus era plenamente humano, nascido de uma união sexual entre José e Maria. Nesse caso, Jesus só se tornou divino mais tarde, em seu batismo. Ele foi escolhido como o primogênito de toda a criação por causa de sua devoção sem pecado à vontade de Deus.

O adocionismo provavelmente surgiu entre os primeiros cristãos judeus que procuravam conciliar as alegações de que Jesus era o Filho de Deus, com o estrito monoteísmo do Judaísmo - onde o conceito de uma Trindade era inaceitável. Estudiosos como Bart D. Ehrman argumentam que a teologia adocionista pode remontar quase ao tempo de Jesus. O início judaico-cristão dos Evangelhos não faz nenhuma menção a um nascimento sobrenatural. Em vez disso, eles afirmam que Jesus foi gerado em seu batismo.

A teologia do adocionismo caiu em descrédito depois que o cristianismo deixou suas raízes judaicas e a visão dos gentios sobre a religião cristã tornou-se dominante. Dessa forma, o adocionismo foi declarado heresia no final do século II, sendo rejeitado pelo Primeiro Concílio de Niceia, que proclamou a doutrina ortodoxa da Trindade e identificou Jesus como eternamente gerado de Deus. O Credo de Niceia passou a afirmar que Jesus nasceu do Espírito Santo e da Virgem Maria - como afirmam os evangelhos de Lucas e Mateus.

adocionismo já estava presente no tempo de Mateus e dos outros Apóstolos. De acordo com os Padres da Igreja, o primeiro Evangelho foi escrito pelo apóstolo Mateus, e sua narrativa foi chamada de Evangelho dos Hebreus ou Evangelho dos Apóstolos. Este primeiro relato escrito da vida de Jesus foi adocionista em sua natureza. O Evangelho dos Hebreus não tem menção ao nascimento virginal e quando Jesus é batizado a obra afirma: Jesus saiu da água, o céu se abriu e viu-se o Espírito Santo descer na forma de uma pomba e entrar nEle. Em seguida, uma voz do céu disse: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo". E, novamente, "Hoje eu te gerei". Imediatamente uma grande luz brilhou ao redor do local".

Alguns estudiosos também veem a teologia adocionista no Evangelho de Marcos. Marcos tem Jesus como o Filho de Deus, que ocorre em pontos estratégicos do Evangelho, em 1:1 ("O começo do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus") e em 15:39 ("Certamente este homem era o Filho de Deus!"), mas o nascimento virginal de Jesus não foi narrado. A frase "Filho de Deus" não está presente em alguns manuscritos antigos em 1:1. Bart D. Ehrman usa esta omissão para apoiar a noção de que o título de "Filho de Deus" para Jesus não é usado até Seu batismo. Sendo assim, Marcos refletiria uma visão de adoção. No entanto, a autenticidade da omissão de "Filho de Deus" e seu significado teológico tem sido rejeitada por boa parte dos estudiosos, como Bruce Metzger e Ben Witherington III.

No momento em que os Evangelhos de Lucas e Mateus foram escritos, Jesus é retratado como sendo o Filho de Deus, desde o momento do nascimento. Finalmente, o Evangelho de João retrata o Filho como existente desde o "princípio".

Significado da morte de Jesus


O Evangelho de Marcos retrata a morte de Jesus como um sacrifício expiatório pelo pecado. A cortina do Templo, que servia como uma barreira entre a santa presença divina e o mundo profano, rasga no momento da morte de Jesus - simbolizando o fim da divisão entre o homem e Deus.

A única menção explícita do significado da morte de Jesus ocorre em Marcos 10:45, onde Jesus diz que o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida em resgate (lutron) de muitos (anti Pollon). De acordo com Barnabé Lindars, este versículo refere-se à canção do servo sofredor de Isaías, com lutron referindo-se à "oferta pelo pecado" (Isaías 53:10) e anti Pollon ao Servo "carregando o pecado de muitos", em Isaías 53:12. A palavra grega anti significa "no lugar de", que indica uma morte substitutiva.

O autor deste evangelho também fala da morte de Jesus por meio de metáforas, como a do noivo que parte em Marcos 2:20 e do herdeiro rejeitado em Marcos 12:6-8. Ele vê Jesus como cumprindo a profecia do Antigo Testamento (Marcos 9:12Marcos 12:10Marcos 14:21 e Marcos 14:27).

Muitos estudiosos acreditam que Marcos estruturou seu evangelho de forma a enfatizar a morte de Jesus. Alan Culpepper, por exemplo, vê Marcos 15:1-39 como o desenvolvimento em três atos, cada um contendo um evento e uma resposta. O primeiro evento é o julgamento, seguido pelas zombarias do soldados contra Jesus; o segundo evento é Jesus sendo crucificado, seguido pelos espectadores zombando dele; o terceiro e último evento nesta sequência é a morte de Jesus, seguida pelo véu do templo sendo rasgado e a confissão do centurião que afirma: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus". Essa estrutura triádica de Marcos enfatiza a importância desta última confissão do centurião romano, o que proporciona um contraste dramático com as duas cenas de escárnio que a precedem. Bauer sugere que "o evangelho de Marcos, ao trazer um clímax com esta confissão cristológica na cruz, indica que Jesus é, em primeiro lugar, o Filho de Deus; E que Jesus é Filho de Deus como aquele que sofre e morre em obediência a Deus". Joel observa que enquanto os outros evangelistas atenuam, Marcos "enfatiza o sofrimento e a morte de Jesus na cruz". Por isso, ele vê "Marcos como mais fortemente influenciado pela teologia da cruz de Paulo do que os outros evangelhos".


Crucificação de Jesus

evento que levou à morte de Jesus / De Wikipedia, a enciclopédia livre 

crucificação de Jesus foi um evento que ocorreu, provavelmente, entre o ano 30 d.C. e 33 d.C. Jesus, que os cristãos acreditam ser o Filho de Deus e também o Messias, foi presojulgado pelo Sinédrio e condenado por Pôncio Pilatos a ser flagelado e finalmente executado na cruz. Coletivamente chamados de Paixão, o sofrimento e morte de Jesus representam aspectos centrais da teologia cristã, incluindo as doutrinas da salvação e da expiação.

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Jesus na cruz entre os dois ladrões.
1619-1620. Por Rubens, atualmente no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia, na Bélgica

A crucificação de Jesus está descrita nos quatro evangelhos canônicos, foi atestada por outras fontes antigas e está firmemente estabelecida como um evento histórico confirmado por fontes não cristãs, embora não haja consenso entre historiadores sobre os detalhes. Os cristãos acreditam que o sofrimento de Jesus foi previsto na Bíblia hebraica, como no salmo 22 e nos cânticos de Isaías sobre o servo sofredor. De acordo com uma harmonia evangélica, Jesus foi preso no Getsêmani após a Última Ceia com os doze apóstolos e foi julgado pelo Sinédrio, por Pilatos e por Herodes Antipas antes de ser entregue para execução. Após ter sido chicoteado, Jesus recebeu dos soldados romanos, como zombaria, o título de "Rei dos Judeus", foi vestido com um robe púrpura (a cor imperial), uma coroa de espinhos, foi surrado e cuspido. Finalmente, Jesus carregou a cruz em direção ao local de sua execução.

Uma vez no Gólgota, Jesus recebeu vinho (ou vinagre) misturado com mirra ou fel para beber (Marcos 15:22,23; Mateus 27:33,34). Os evangelhos de Mateus e Marcos relatam que ele se recusou a beber. Ele então foi pregado à cruz, que foi erguida entre a de dois ladrões condenados. De acordo com Marcos 15:25, ele resistiu ao tormento por aproximadamente seis horas, da hora terça (aproximadamente 9 da manhã) até a sua morte (Marcos 15:34–37), na hora nona (três da tarde). É importante observar que Marcos utilizam o sistema judaico de medição de horas, considerando o nascer e por do sol, a nona hora responderia pelas 15 horas, João utilizava o sistema Romano, mesmo sistema adotado nos dias de hoje, fazendo concordância com os outros evangelhos. Os soldados afixaram uma tabuleta acima de sua cabeça que dizia "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus" em três línguas hebraicogrego e latim ("INRI" em latim), dividiram entre si as suas roupas e tiraram a sorte para ver quem ficaria com o robe. Eles não quebraram as pernas de Jesus como fizeram com os outros dois crucificados (o ato acelerava a morte), pois Jesus já estava morto. Cada evangelho tem o seu próprio relato sobre as últimas palavras de Jesus (sete frases ao todo). Nos evangelhos sinóticos, vários eventos sobrenaturais acompanharam toda a crucificação, incluindo uma escuridão, um terremoto e, em Mateus, a ressurreição de santos. Após a morte de Jesus, seu corpo foi retirado da cruz por José de Arimateia com a ajuda de Nicodemos e enterrado num túmulo escavado na rocha. De acordo com os evangelhos, Jesus então voltou da morte dois dias depois (o "terceiro dia").

Os cristãos tradicionalmente entendem a morte de Jesus na cruz como sendo um sacrifício proposital e consciente (dado que Jesus não tentou se defender em seus julgamentos), realizado por ele na figura de "agente de Deus" para redimir os pecados da humanidade e tornar a salvação possível. A maior parte dos cristãos proclamam este sacrifício através do pão e do vinho na Eucaristia, uma lembrança da Última Ceia, e muitos também comemoram o evento na Sexta-Feira Santa anualmente.

Relatos sobre a crucificação


Os estudiosos modernos consideram o batismo de Jesus e a sua crucificação como sendo dois fatos historicamente certos sobre ele. James Dunn afirma que estes "dois fatos na vida de Jesus detém hoje uma concordância quase universal" e "figuram bem alto na escala do 'quase impossível duvidar ou negar' dos fatos históricos" que eles são geralmente os pontos de partida para o estudo do Jesus histórico. Bart Ehrman afirma que a crucificação por ordem de Pôncio Pilatos é o elemento mais certo que sabemos sobre ele. John Dominic Crossan afirma que a crucificação de Jesus é tão certa quanto um fato histórico pode ser. Eddy e Boyd afirmam que está atualmente "firmemente estabelecido" que existe confirmação por fontes não cristãs sobre a crucificação de Jesus.

Craig Blomberg afirma que a maioria dos acadêmicos na terceira busca pelo Jesus histórico consideram a crucificação indisputável. Ainda que os estudiosos concordem na historicidade da crucificação, eles discordam sobre as razões e sobre o contexto em que ela se insere, por exemplo E. P. Sanders e Paula Fredriksen defendem a historicidade da crucificação, mas argumentam que ele não a teria previsto e que a sua profecia sobre sua morte é uma história cristã. Christopher M. Tuckett afirma que, embora as razões exatas para a morte de Jesus sejam difíceis de determinar, um dos fatos inquestionáveis sobre ele é que ele foi crucificado. Geza Vermes também entende que a crucificação é um evento histórico, mas apresenta sua própria explicação e contexto para ela.

John P. Meier enxerga a crucificação de Jesus como um fato histórico e afirma, baseado no "critério do embaraço", que os cristãos não teriam inventado uma morte sofrida do seu líder. Meier afirma ainda que diversos outros critérios, como da "múltipla atestação" (a confirmação por mais de uma fonte), o "critério da coerência" (o evento se encaixa corretamente em outros eventos históricos) e o "critério da rejeição" (o evento não foi contestado por fontes antigas) ajudam a estabelecer a crucificação de Jesus como um evento histórico.

Embora quase todas as fontes antigas sobre a crucificação sejam literárias, a descoberta arqueológica de 1968, a nordeste de Jerusalém, do corpo de um homem crucificado no século I nos deu boas evidências confirmatórias sobre os relatos evangélicos da crucificação. O homem foi identificado como sendo Yohan Ben Ha'galgol e morreu por volta de 70 d.C., por volta da época da revolta judaica contra Roma. As análises na "Hadassah Medical School" estimaram que ele morreu com quase trinta anos. Estes estudos também mostraram que ele foi crucificado de uma forma muito similar à relatada nos evangelhos. Outra descoberta arqueológica relevante, que também data do século I, é um osso do calcanhar de uma pessoa não identificada perfurado por prego descoberto numa cova em Jerusalém, preservado pela Autoridade Israelense para Antiguidades e em exposição no Museu de Israel.

Narrativas bíblicas

Morte de Jesus.1886-1894. Por James Tissot, atualmente no Brooklyn Museum, em Nova Iorque
Morte de Jesus.
1886-1894. Por James Tissot, atualmente no Brooklyn Museum, em Nova Iorque

As primeiras narrativas históricas detalhadas sobre a morte de Jesus estão nos quatro evangelhos canônicos (Mateus 27:33–44Marcos 15:22–32Lucas 23:33–43João 19:17–30). Há outras referências implícitas nas epístolas do Novo Testamento. Nos evangelhos sinóticosJesus prevê sua morte em três ocasiões diferentes.

De acordo com os quatro evangelhos, Jesus foi levado ao "Lugar com uma caveira" ("Calvário") («e em hebraico Gólgota» (João 19:17)) e crucificado juntamente com dois ladrões, acusado de ser o "Rei dos Judeus" e os soldados dividiram suas roupas entre si antes de curvar sua cabeça e morrer. Após a morte de Jesus, José de Arimateia requisitou o corpo a Pilatos, que ele retirou da cruz e depositou um novo túmulo.

Os três evangelhos sinóticos descrevem ainda Simão Cirineu carregando a cruz, a multidão zombando de Jesus e dos ladrões, escuridão entre as horas sexta e nona, assim como o véu do templo se rasgando de alto a baixo. Eles também mencionam diversas testemunhas, incluindo um centurião e diversas mulheres, que olhavam à distância, duas das quais estavam também presentes durante o sepultamento.

Lucas é o único evangelista a omitir o detalhe da mistura de vinho e bile que foi oferecida para Jesus numa esponja, enquanto que Marcos e João descrevem José de Arimateia retirando o corpo da cruz.

Há diversos detalhes que só são encontrados em um dos relatos. Como exemplo, apenas Mateus menciona um terremoto, os santos ressuscitados que se dirigiram para a cidade e os soldados romanos postados para guardar o túmulo, enquanto Marcos é o único que atesta a hora da crucificação (a hora terça - 9 da manhã) e o relato do centurião sobre a morte de Jesus. As contribuições únicas ao relato de Lucas incluem as palavras de Jesus para as mulheres, a resposta de um ladrão para o outro, a reação da multidão - que "batia no peito" - e as mulheres preparando temperos e unções antes de descansarem no sabbath. Por fim, João é o único que se refere ao pedido para que as pernas dos crucificados fossem quebradas e o evento do soldado perfurando o flanco de Jesus com uma lança (cumprindo uma profecia do Antigo Testamento), assim como sobre a ajuda prestada por Nicodemos a José de Arimateia no sepultamento de Jesus.

De acordo com os evangelhos canônicosJesus voltou dos mortos depois de três dias e apareceu para os discípulos em diferentes ocasiões num período de quarenta dias antes de ascender ao céu. O relato nos Atos dos Apóstolos, que diz que Jesus permaneceu com os apóstolos por quarenta dias parece divergir do relato no evangelho de Lucas, que não faz distinção alguma entre o Domingo de Páscoa e o da Ascensão. Porém, a maior parte dos estudiosos bíblicos concordam que Lucas também escreveu os Atos dos Apóstolos como uma sequência ao seu evangelho e que as duas obras devem ser consideradas juntas.

Em Marcos, Jesus é crucificado juntamente com dois ladrões (ou "rebeldes") e o dia escurece por três horas, Jesus chama por Deus, dá um último grito e morre A cortina (ou véu) do Templo se parte em dois. Mateus segue Marcos, adicionando o terremoto e a ressurreição dos santos. Lucas também segue Marcos, mas descreve os "rebeldes" como ladrões comuns, um dos quais defende Jesus que, por sua vez, lhe diz que ambos estarão juntos no paraíso. Lucas também descreve Jesus como impassível frente à crucificação. Por fim, João inclui diversos dos elementos encontrados em Marcos, embora tratados de maneira diferente.

Outros relatos e referências


Uma das primeiras referências não cristãs à crucificação de Jesus é provavelmente a carta de Mara Bar-Serapion para o seu filho, escrita em algum momento após 73, mas antes do século III. A carta não contém temas cristãos e supõe-se que o autor fosse pagão. Ela faz referência às retribuições que se seguiram ao tratamento injusto dado a três sábios: SócratesPitágoras e "o sábio rei" dos judeus. Alguns acadêmicos tem poucas dúvidas de que se trata de uma referência à execução do "rei dos judeus" trata da crucificação de Jesus, enquanto outros dão menos valor à carta dada a possível ambiguidade da referência.

Em sua obra "Antiguidades Judaicas" (escrita por volta de 93 d.C.), o historiador judeu Flávio Josefo afirmou que Jesus foi crucificado por Pilatos, escrevendo queː

Vivia naquele tempo Jesus, um homem sábio, .... Ele atraiu para junto de si muitos judeus e muitos gentios... E quando Pilatos, por sugestão dos principais homens entre nós, condenou-o à cruz...

A maior parte dos estudiosos modernos concordam que, enquanto esta passagem de Josefo (conhecida como Testimonium Flavianum) inclui algumas interpolações posteriores, ela consistia originalmente de um núcleo autêntico com referência a execução de Jesus por Pilatos. James Dunn afirma que há um "amplo consenso" entre os estudiosos sobre a natureza autêntica da referência à crucificação de Jesus no Testimonium.

No início do século II, outra referência à crucificação de Jesus foi feita por Tácito, geralmente considerado um dos maiores historiadores romanos. Escrevendo em "Os Anais" (c. 116), Tácito descreveu a perseguição aos cristãos sob Nero e afirmou que Pilatos ordenou a execução de Jesusː

Nero reprimiu sua culpa e infligiu as mais requintadas torturas numa classe detestada por suas abominações, chamados de cristãos pela população. Christus, de quem se origina o nome, sofreu a pena capital durante o reinado de Tibério pelas mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos.

Os estudiosos geralmente consideram a referência de Tácito à execução de Jesus por Pilatos como sendo genuína e de valor histórico como uma fonte romana independente. Eddy e Boyd afirmam que atualmente está "firmemente estabelecido" que Tácito é uma confirmação não cristã da crucificação de Jesus.

Outra possível referência à crucificação ("pendurados", como em Lucas 23:39 e Gálatas 3:13) pode ser encontrada no Talmude babilônio:

Na véspera da PáscoaYeshu foi pendurado. Por quarenta dias antes da execução, um mensageiro apareceu e exclamou: 'Ele seguirá sendo apedrejado pois ele praticou a bruxaria e e levou Israel para a apostasia. Quem puder dizer algo em sua defesa, que se apresente e o defenda'. Como desde então ninguém se apresentou em sua defesa, ele foi pendurado na véspera da Páscoa!
 
— Sinédrio 43a, Talmude babilônio (ed. Soncino).

Ainda que a questão da equivalência de identidades entre Yeshu e Jesus tenha sido debatida, muitos historiadores concordam que a passagem acima é provavelmente sobre Jesus.

Ao contrário da imensa maioria dos acadêmicos bíblicos, os muçulmanos defendem que Jesus não foi crucificado e nem morto de outra forma. Eles defendem esta crença com base em várias interpretações do Corão (4:157–158), que afirma: "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram. Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo".

Algumas das primeiras seitas cristãs gnósticas, acreditando que Jesus não tinha uma substância física (uma tese conhecida como docetismo), negavam que ele tivesse sido crucificado. Como resposta a elas, Inácio de Antioquia insistiu que Jesus nasceu verdadeiramente e foi verdadeiramente crucificado e escreveu que os que defendiam que Jesus apenas pareceu sofrer apenas pareciam ser cristãos.

Data, local e pessoas presentes

Cronologia da crucificação

Ano da crucificação

Embora não haja consenso sobre a data exata da crucificação, os estudiosos geralmente concordam que ela ocorreu numa sexta-feira de ou próxima da Páscoa judaica (15 de Nisan), durante o governo de Pôncio Pilatos (r. 26-36). Como o calendário hebreu era utilizado no tempo de Jesus e ele incluía a determinação dada de uma nova fase da lua e do amadurecimento da colheita da cevada, o dia - e mesmo o mês - exato da Páscoa judaica num determinado ano é tema de muita especulação. Várias abordagens já foram utilizadas para estimar o ano da crucificação, inclusive o uso dos evangelhos canônicos, a cronologia da vida de Paulo de Tarso, assim como diferentes modelos astronômicos (veja Cronologia de Jesus). Estas estimativas para o ano da crucificação resultaram numa faixa entre 30 e 36 d.C. Uma data frequentemente sugerida é sexta-feira, 3 de abril de 33.

Dia da semana e hora

O consenso entre os estudiosos modernos é de que os relatos do Novo Testamento representam a crucificação ocorrendo numa sexta-feira, mas datas de quinta ou quarta já foram propostas. Alguns deles propuseram a data de quinta baseadas num "duplo sabbath" causado por um sabbath de Páscoa adicional caindo entre o pôr-do-sol de uma quinta e a tarde de uma sexta à frente do sabbath semanal de costume. Outros argumentaram que Jesus foi crucificado numa quarta e não numa sexta, com base na menção de "três dias e três noites" em Mateus 12:40 antes de sua ressurreição, celebrada no domingo, ao que foram contestados por acadêmicos explicando que esta tese ignora o idioma judaico, no qual um "dia e noite" pode se referir a qualquer parte de um período de 24 horas, que a expressão em Mateus é idiomática e não uma afirmação de que Jesus teria passado 72 horas no túmulo e que muitas referências à ressurreição no terceiro dia não requerem literalmente três noites.

Em Marcos 15:25, afirma-se que a crucificação ocorreu na hora terceira (9 da manhã) e que a morte de Jesus ocorreu na hora nona (3 da tarde). Porém, em João 19:14, Jesus ainda está perante Pilatos na hora sexta. Os acadêmicos já apresentaram diversos argumentos para tratar desta aparente contradição, alguns sugerindo uma reconciliação, por exemplo baseando-se na tese da utilização do sistema horário romano em João, mas não em Marcos, argumento rejeitado por outros. Diversos estudiosos notáveis argumentaram que a precisão moderna na marcação dos horários durante o dia não deve ser projetada nos relatos evangélicos, escritos numa época quando não havia a padronização dos mecanismos de contagem de tempo e nem um registro exato das horas e minutos estava disponível. Geralmente o horário era aproximado para a o período de três horas mais próximo.

Caminho para a crucificação


Os três evangelhos sinóticos fazem referência a um homem chamado Simão Cirineu, que foi obrigado a carregar a cruz, enquanto que, no Evangelho de João, diz-se que Jesus "suportou" sua própria cruz (João 19:17).

O Evangelho de Lucas também descreve uma interação entre Jesus e as mulheres que estavam na multidão de lamentadores que o seguia, citando Jesus dizendo: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; mas chorai por vós mesmas e por vossos filhos, porque dias virão, em que se dirá: 'Bem-aventuradas as estéreis, os ventres que nunca geraram e os peitos que nunca amamentaram.' Então começarão a dizer aos montes: 'Cai sobre nós', e aos outeiros: 'Cobri-nos', porque se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco?» (Lucas 23:28–31).

Tradicionalmente, o caminho que Jesus tomou é chamado de Via Dolorosa (latim para "Caminho Doloroso")[carece de fontes?] e é uma rua na Cidade Velha de Jerusalém. O percurso está marcado por nove das quatorze "Estações da Cruz"[carece de fontes?] e passa pela Igreja Ecce Homo. As demais cinco estações estão localizadas dentro da Igreja do Santo Sepulcro.[carece de fontes?]

Não há referências à lendária Santa Verônica nos evangelhos, mas fontes como a Acta Sanctorum descrevem-na como uma mulher piedosa de Jerusalém que, por pena de Jesus que carregava sua cruz até o Gólgota, deu-lhe seu véu para que ele limpasse a testa e o rosto.

Local da crucificação


A localização precisa da crucificação permanece tema de muitas conjecturas, mas os relatos bíblicos indicam que ela ocorreu fora dos muros da cidade, num local acessível aos que passavam e passível de ser observado a distância. Eusébio de Cesareia identificou sua localização como sendo ao norte do Monte Sião, local consistente com os dois locais mais citados em tempos modernos.

Calvário é uma palavra que deriva da palavra latina para "caveira" (calvaria), que é utilizada na tradução Vulgata como "local da caveira", a explicação dada nos quatro evangelhos para a palavra aramaico Gûlgaltâ, que era o nome do local da crucificação. Os evangelhos não explicam por que ele era chamado assim, mas diversas teorias já foram propostas. Uma é de que, como o local se prestava às execuções públicas, o Calvário poderia estar repleto de caveiras de vítimas abandonadas (o que seria contrário às tradições funerárias judaicas, mas não às romanas). Outra é de que o Calvário foi chamado assim por causa de um cemitério próximo (o que é consistente com ambos os locais propostos em tempos modernos). Uma terceira teoria é de que o nome deriva do contorno físico do local, o que seria mais consistente com o uso da palavra no singular, ou seja, "local da caveira". Mesmo sendo geralmente chamado de "Monte do Calvário", o local era provavelmente uma pequena colina ou um formação rochosa.

O local tradicional, localizado dentro da atual Igreja do Santo Sepulcro no Bairro Cristão da Cidade Velha, foi atestado já no século IV. Um segundo local (geralmente chamado de "Calvário de Gordon"), localizado mais ao norte da Cidade Velha, perto de um local popularmente chamado de Túmulo no Jardim, tem sido alardeado como o local correto desde o século XIX, principalmente pelos protestantes.[carece de fontes?]

Pessoas presentes na crucificação

Mateus 27:1–66 apresenta diversos indivíduos presentes na crucificação. Dois "rebeldes" ou "ladrões" foram crucificados juntamente com Jesus, um à direita e outro à esquerda (v. 38). Há ainda o centurião, que segundo um relato posterior se chamava Petrônio, e outros soldados guardando todos os crucificados (v. 54). Além disso, observando à distância, estavam "muitas mulheres", seguidoras de Jesus durante o seu ministério (v. 55), principalmente "Maria MadalenaMaria, mãe de Tiago e de José e a mulher de Zebedeu" (v. 56).

Lucas 23:28–31 afirma que, no caminho do Calvário, Jesus falou com diversas mulheres que estavam na multidão, chamando-as de "filhas de Jerusalém". Estudiosos bíblicos já apresentaram diversas teorias sobre a identidade delas e também das que estavam presentes na crucificação, incluindo entre elas Maria, mãe de Jesus, e Maria Madalena.

Lucas não menciona que a mãe de Jesus estava presente durante a crucificação, porém João 19:26–27 relata a sua presença e afirma que, na cruz, "Jesus, vendo a sua mãe e perto dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí teu filho!".

O evangelho de João também coloca outras mulheres (as Três Marias) ao pé da cruz, afirmando que "Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléopas, e Maria Madalena." É incerto se o evangelho de João se refere no total a três ou quatro mulheres na cruz. Referências às mulheres também aparecem em Mateus 27:56 e Marcos 15:40 (que também menciona Salomé). Comparando as referências, todos parecem incluir Maria Madalena.

O evangelho de Marcos afirma que soldados romanos também estavam presentes na crucificação: «O centurião, que estava em frente de Jesus, vendo-o assim expirar, disse: Verdadeiramente este homem era Filho de Deus.» (Marcos 15:39)

Método e forma da crucificação

Como o Novo Testamento não fornece detalhe exatos sobre o processo da crucificação de Jesus, vários elementos do método empregado tem sido tema de debates.

Formato do cadafalso

Ainda que a maior parte dos cristãos acredite que o cadafalso no qual Jesus foi executado seja a tradicional cruz de duas traves, existe um debate sobre o ponto de vista defendido por alguns de que uma estaca simples teria sido utilizada. As palavras gregas e latinas utilizadas nos primeiros escritos cristãos são ambíguas. Os termos em grego koiné utilizados no Novo Testamento são stauros (σταυρός) e xylon (ξύλον). Esta última significa "madeira" (uma árvore viva, lenha ou um objeto construído de madeira); nas formas antigas do grego, o primeiro termo significava uma estaca vertical ou um poste, mas em grego koiné ele também é utilizado para descrever a cruz. A palavra latina crux também foi aplicada a objetos que não são cruzes.

Porém, os primeiros escritores cristãos que trataram do formato do cadafalso no qual Jesus morreu invariavelmente o descrevem como tendo uma trave horizontal. Por exemplo, na Epístola de Barnabé, que é certamente anterior a 135 e que pode ser do século I, a época em que relatos evangélicos sobre a morte de Jesus foram escritos, o cadafalso foi descrito como similar à letra "T" (a letra grega tau) e à posição assumida por Moisés em Êxodo 17:11–12. Justino Mártir (100-165) explicitamente afirma que a cruz de Cristo era formada por duas traves: "Aquele cordeiro que se comandou que fosse inteiramente assado era um símbolo do sofrimento na cruz que Cristo iria suportar. Para o cordeiro que é assado, é assado e recebe acompanhamentos na forma da cruz. Pois uma vara é transfixada através das partes baixas até a cabeça e outra pelas costas, no qual são presas as pernas do cordeiro". Irineu de Lyon, que morreu no final do século II, fala da cruz como tendo "cinco extremidades, duas no comprimento, duas na largura e uma no meio, na qual está a pessoa que foi ali presa por pregos".

Pregos


A assunção de que foi utilizada uma cruz com duas traves para crucificar Jesus não determina o número de pregos, também chamados de cravos, utilizado e algumas teorias sugerem três enquanto outras sugerem quatro. Porém, por toda a história, um grande número de pregos foram propostos, números tão altos quanto 14 já foram propostos. Estas variações também aparecem nas representações artísticas da crucificação. Na Igreja Ocidental, antes do Renascimento, geralmente quatro pregos apareciam, com os pés colocados um ao lado do outro. Após, a maior parte traz apenas três pregos, com um pé colocado sobre o outro. Os pregos quase sempre são representados na arte, embora os romanos por vezes apenas amarrassem as vítimas nas cruz. A tradição também influenciou emblemas cristãos, como no caso dos jesuítas, em cujo monograma estão três pregos e a cruz.

O local onde os pregos foram batidos, se nas mãos ou nos pulsos, também é incerto. Algumas teorias sugerem que a palavra grega cheir (χειρ) para mão inclui o pulso e que os romanos geralmente eram treinados para passar os pregos pelo espaço de Destot (entre os ossos capitato e semilunar) sem fraturar nenhum osso. Outra teoria sugere que a palavra grega para mão também incluía o braço e que os pregos foram batidos perto do rádio e da ulna no braço. Cordas podem ter sido utilizadas para amarrar as mãos além do uso dos pregos.

Plataforma de apoio

Outro assunto discutido tem sido o uso de um hypopodium como uma plataforma de apoio para os pés, dado que as mãos podem não ter sido capazes de suportar o peso. No século XVII, Rasmus Bartholin considerou diversos cenários analíticos sobre o tema. No século XX, o patologista forense Frederick Zugibe realizou diversos experimentos de crucificação se valendo de cordas para pendurar pessoas em vários ângulos e posições de mãos. Seus experimentos apoiam uma suspensão em ângulo, uma cruz de duas traves e, talvez, uma forma de apoio para os pés, dado que uma suspensão na forma Aufbinden a partir de uma estaca única (como utilizada pelos nazistas no campo de concentração de Dachau durante a Segunda Guerra), a morte ocorre rapidamente.

As últimas palavras de Jesus


Os evangelistas registraram sete frases ditas por Jesus enquanto estava na cruz:

  1. «Pai, perdoa-lhes; pois não sabem o que fazem.» (Lucas 23:34) - imediatamente ao ser crucificado.
  2. «Em verdade te digo que hoje, estarás comigo no Paraíso» (Lucas 23:43) - respondendo ao "bom ladrão".
  3. «Mulher, eis aí teu filho! Filho, eis aí tua mãe!» (João 19:24–27) - ao entregar Maria, sua mãe, aos cuidados de João.
  4. «Eli, Eli, lamá sabactâni? que quer dizer, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (Mateus 27:46); também em «Eloí, Eloí, lamá sabactâni? que quer dizer, Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?» (Marcos 15:34) - imediatamente antes de morrer.
  5. «Tenho sede.» (João 19:28) - "para se cumprir a Escritura".
  6. «Está consumado.» (João 19:30) - após beber o vinagre e imediatamente antes de morrer.
  7. «Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.» (Lucas 23:46) - imediatamente antes de morrer.

Todas as frases são exclamações curtas. Veja abaixo sobre como, em face à asfixia por exaustão, obter ar suficiente para falar numa cruz pode ser uma tarefa muito dolorosa e cansativa para a vítima.

As últimas palavras de Jesus têm sido o tema de uma diversidade de ensinamentos e sermões cristãos e diversos autores escreveram obras especificamente dedicadas a elas. Porém, como as últimas palavras diferem entre os quatro evangelhos, James Dunn demonstrou dúvidas em relação à sua historicidade.

Fenômenos durante a crucificação

Marcos menciona uma escuridão durante o dia quando Jesus foi crucificado e o véu do Templo se rasgou em dois quando Jesus morreu. Mateus segue Marcos, adicionando um terremoto e a ressurreição dos santos. Lucas também segue Marcos. Em João, não há referência a estes sinais milagrosos, com exceção da própria ressurreição.

Escuridão e eclipse

Escuridão durante a crucificação.1896. Por Emile Bernard.
Escuridão durante a crucificação.
1896. Por Emile Bernard.

Na narrativa dos evangelhos sinóticos, enquanto Jesus estava preso na cruz, o céu se "escureceu" por três horas, da hora sexta até a nona (do meio-dia às três da tarde). Tanto o orador romano Júlio Africano e o teólogo cristão Orígenes se referem ao historiador grego Flégon como tendo escrito "a respeito do eclipse durante o tempo de Tibério, em cujo reinado Jesus parece ter sido crucificado, e aos grandes terremotos que ocorreram".

Júlio Africano se refere ainda às obras do historiador Thallus ao negar a possibilidade de um eclipse solar"Esta escuridão que Thallus, no terceiro livro de sua "História", chama, para mim sem razão, de um eclipse solar. Pois os hebreus celebram a Páscoa no décimo-quarto dia de acordo com a lua e a Paixão de nosso Salvador cai no dia anterior à Páscoa; mas um eclipse do sol ocorre apenas quando a lua entra na frente do sol". Uma eclipse solar ocorrendo juntamente com uma lua cheia é uma impossibilidade científica. O apologista cristão Tertuliano escreveu "Na mesma hora, também, a luz do dia foi retirada, quando o sol, na mesma hora, estava no seu fulgor meridiano. Os que não sabem que isto foi previsto sobre Cristo, sem dúvida acreditam que se tratou de um eclipse. Vocês próprios tem um relato do augúrio mundial em vossos arquivos". A escuridão foi reportada em lugares tão distantes quanto Heliópolis e, aparentemente, a ocorrência sobrenatural também foi citada por São Paulo ao converter Dionísio ao cristianismo.

Humphreys e Waddington, da Universidade de Oxford, reconstruíram os cenários para um eclipse lunar naquele dia. Eles concluíram que:

Este eclipse foi visível a partir de Jerusalém a partir da aparição da Lua.... visível primeiro em Jerusalém por volta de 6:20 da tarde (o início do sabbath judaico e também o início da Páscoa judaica em 33 d.C.) com aproximadamente 20% do seu disco na umbra da sombra da terra... O eclipse terminou trinta minutos depois, por volta de 6:50.

Estes autores notaram que a referência do apóstolo Pedro a uma "lua de sangue" em Atos 2:20 (um termo comumente utilizado para um eclipse lunar por causa da cor avermelhada da luz refratada na Lua através da atmosfera terrestre) pode ser uma referência a este eclipse. Deve-se ter em mente, porém, que, no versículo anterior da mesma passagem, São Pedro explicitamente menciona que "O Sol se converterá em trevas", o que sugeriria um eclipse solar em conjunção com um outro lunar.

O véu do Templo, terremoto e a ressurreição dos santos

Os evangelhos sinóticos afirmam que o véu do templo se rasgou de cima a baixo. De acordo com Josefo, a cortina do templo de Herodes teria quase sessenta metros de comprimento, com 4 milímetros de espessura. De acordo com Hebreus 9:1–10, esta cortina representava a separação entre os homens e Deus, além da qual somente o sumo-sacerdote poderia passar e, mesmo assim, somente uma vez por ano para adentrar-se na presença de Deus e se redimir dos pecados de Israel (capítulo 16 do Levítico).

O evangelho de Mateus afirma que houve também terremotos, partindo rochas e abrindo os túmulos dos santos (que posteriormente ressuscitaram após a ressurreição de Jesus). Estes santos ressuscitados foram para a cidade sagrada e apareceram para diversas pessoas, mas o seu destino jamais foi elaborado.

Significados teológicos

Cristologia da crucificação


Os relatos sobre a crucificação e a subsequente ressurreição de Jesus fornecem um rico contexto para a análise cristológica, dos evangelhos canônicos até as epístolas paulinas.

Na cristologia agente joanina, a submissão de Jesus à crucificação é um sacrifício feito como um "agente de Deus" ou "servo de Deus", em prol de uma eventual vitória. Este argumento elabora sobre o tema salvífico do evangelho de João, que começa em João 1:29 com a proclamação de João Batista"Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!".

Um elemento central na cristologia apresentada nos Atos dos Apóstolos é a afirmação na crença de que a morte de Jesus na cruz aconteceu "com Deus sabendo com antecedência e de acordo com um plano definido". Neste ponto de vista, como em Atos 2:23, a cruz não é vista como um escândalo, pois a crucificação de Jesus "pelas mãos dos sem lei" é vista como sendo o cumprimento do plano de Deus.

A cristologia de Paulo tem um foco específico na morte e ressurreição de Jesus. Para ele, a crucificação está diretamente relacionada à sua ressurreição e o termo "a cruz de Cristo" utilizado em Gálatas 6:12 pode ser visto como uma abreviação da mensagem dos evangelhos. Para Paulo, a crucificação de Jesus não foi um evento isolado na história, mas um evento cósmico com importantes consequências escatológicas, como em I Coríntios 2:8. Sob o ponto de vista paulino, Jesus, obediente até a morte (Filipenses 2:8) morreu "na hora certa" (Romanos 4:25) cumprindo plano de Deus. Para Paulo, o "poder da cruz" não se separa da ressurreição de Jesus.

Porém, a crença na natureza redentora da morte de Jesus é anterior às epístolas paulinas e remonta aos primeiros dias do cristianismo e à igreja de Jerusalém. A afirmação do credo de Niceia de que "ele foi crucificado pelo nosso bem" é um reflexo da formalização desta crença fundamental no século IV.

João Calvino apoiava a cristologia do "agente de Deus" e defendeu que, em seu julgamento na corte de Pilatos, Jesus poderia ter argumentado com sucesso por sua inocência, mas, ao invés disso, se submeteu à crucificação em obediência ao Pai. Este tema cristológico continuou até o século XX, tanto na Igreja Oriental quanto na Ocidental. Na Oriental, Sergei Bulgakov argumentou que a crucificação de Jesus foi "pré-eternamente" determinada pelo Pai, antes da criação do mundo, para redimir a humanidade pela desgraça causada pela queda de Adão. Na Igreja Ocidental, Karl Rahner elaborou sobre a analogia de que o sangue do Cordeiro de Deus (e a água que verteu da chaga no flanco de Jesus) derramado durante a crucificação tinham uma natureza purificadora, similar à da água batismal.

Expiação


A morte e a ressurreição de Jesus suportam uma variedade de interpretações teológicas sobre como a salvação é concedida à humanidade. Estas interpretações variam muito principalmente em quanta ênfase elas dão à morte de Jesus em comparação com suas palavras. De acordo com visão da expiação substitucionária, a morte de Jesus é de importância central e Jesus conscientemente se sacrificou como um ato de perfeita obediência como um sacrifício de amor que agradou a Deus. Em contraste, a teoria da expiação por influência moral foca muito mais no conteúdo moral dos ensinamentos de Jesus e vê a sua morte como um martírio. Desde a Idade Média há um conflito entre estes dois pontos de vista na Igreja Ocidental. Os protestantes evangélicos tipicamente defendem uma visão substitucional e, em particular, defendem a teoria da substituição penal. Os protestantes históricos (não evangélicos, reformados ou pentecostais) tipicamente rejeitam a expiação substitucional e defendem a teoria da influência moral. Ambas as visões são populares na Igreja Católica, com a doutrina da satisfação incorporada na ideia de penitência.

Na tradição católica, esta visão da expiação é balanceada pela obrigação dos católicos romanos de realizarem os atos de reparação a Jesus Cristo, que, na encíclica Miserentissimus Redemptor do papa Pio XI, foram definidos como "alguma forma de compensação a ser prestada pelo prejuízo", referindo-se aos sofrimentos de Jesus. O papa João Paulo II se referiu a estes atos de reparação como os "incessantes esforços para permanecer junto às infinitas cruzes nas quais o Filho de Deus continua a ser crucificado".

Entre os cristãos ortodoxos, outro ponto de vista comum é o do Christus Victor, que defende que Jesus foi enviado por Deus para derrotar a morte e Satã. Por conta de sua perfeição, Jesus derrotou ambos e emergiu vitorioso. Portanto, a humanidade não está mais presa ao pecado e está agora libre para se reunir com Deus na fé em Jesus.

Aspectos médicos da crucificação

Cartaz da Segunda Guerra mostrando um soldado alemão pregando um americano numa árvore.
Cartaz da Segunda Guerra mostrando um soldado alemão pregando um americano numa árvore.

Diversas teorias já tentaram explicar as circunstâncias da morte de Jesus na cruz através do conhecimento médico dos séculos XIX e XX, propostas por todo tipo de profissionais: médicos, historiadores e até mesmo místicos.

A maior parte das teorias propostas por médicos formados (com especialidades variando da medicina forense até a oftalmologia) concluíram que Jesus suportou um sofrimento enorme e muita dor na cruz antes de sua morte. Em 2006, o clínico geral John Scotson revisou quarenta publicações sobre a causa da morte de Jesus e as teorias variavam de ruptura cardíaca a embolismo pulmonar.

Já em 1847, baseando-se em João 19:34, o médico William Stroud propôs a "teoria da ruptura cardíaca" como causa mortis de Jesus e ela influenciou diversas pessoas depois. A "teoria da asfixia" tem sido objeto de diversos experimentos que simulam a crucificação em voluntários saudáveis e muitos médicos concordam que ela causa uma profunda disrupção na capacidade respiratória da vítima. Um efeito colateral da asfixia por exaustão é que a vítima da crucificação sente gradualmente mais e mais dificuldade para conseguir fôlego suficiente para falar, o que foi apresentado como uma possível explicação para os relatos de que as últimas palavras de Jesus seriam nada mais do que curtas exclamações.

A "teoria do colapso cardiovascular" é a explicação moderna prevalente e sugere que Jesus morreu por causa de um choque profundo. De acordo com esta teoria, a flagelação, as surras e finalmente sua fixação na cruz com pregos deixaram Jesus desidratado, fraco e criticamente enfermo, um cenário ideal para a instalação de um conjunto complexo e inter-relacionado de outros efeitos funestos: além da desidratação, intenso trauma físico e dano aos tecidos (especialmente por causa da flagelação), respiração inadequada e um esforço físico extenuante. Estes efeitos levaram finalmente ao colapso cardiovascular.

Em seu livro de 1944, "Poema do Homem-Deus", a escritora e mística italiana Maria Valtorta (que não tinha formação médica) forneceu diversos relatos detalhados sobre a morte de Jesus que apoiam a tese do colapso cardiovascular, agravado por uma asfixia parcial, e ela escreveu que o relato lhe fora ditado pelo próprio Jesus numa visão. O endocrinologista Nicholas Pende expressou sua concordância com o relato de Valtorta e se surpreendeu com o nível de detalhes com que ela descreveu os espasmos de Jesus na cruz.

Escrevendo no Journal of the American Medical Association ("Jornal da Associação Médica Americana"), o médico William Edwards e seus colegas defenderam uma combinação das teorias do colapso cardiovascular (via choque hipovolêmico) e da asfixia por exaustão, assumindo que o fluxo de "água" que verteu do ferimento no flanco de Jesus descrito em João 19:34 seria o Líquido pericárdico. Alguns apologistas cristãos parecem favorecer esta teoria e defendem que esta anomalia médica seria um fato que o evangelista seria tentado a deixar de fora em seu relato caso seu interesse não fosse um registro fidedigno.

Em seu livro "A Crucificação de Jesus", o médico e patologista Frederick Zugibe apresenta um conjunto de teorias que tentam explicar a colocação dos pregos, as dores e a morte de Jesus em grande nível de detalhe. Zugibe realizou diversos experimentos ao longo de vários anos para testar suas teorias quando ele era médico. Entre eles, experimentos nos quais os voluntários com pesos específicos eram pendurados em ângulos determinados e o peso suportado em cada mão era medido, variando-se a existência de um suporte para os pés. A conclusão foi de que tanto o peso quanto a dor correspondente seria significativa.

Crucificação vista a partir da cruz.1886-1894. Por James Tissot, atualmente no Brooklyn Museum, em Nova Iorque.
Crucificação vista a partir da cruz.
1886-1894. Por James Tissot, atualmente no Brooklyn Museum, em Nova Iorque.

Pierre Barbet, um médico francês e cirurgião-chefe no Hospital de São José em Paris também apresentou teorias detalhadas sobre a morte de Jesus. Ele lançou a hipótese de que Jesus teria que relaxar seus músculos para conseguir fôlego suficiente para dizer suas palavras finais por conta da asfixia por exaustão. Outra hipótese proposta por ele foi que uma pessoa crucificada teria que se utilizar de seus pés, perfurados por pregos, para conseguir erguer seu corpo o suficiente para conseguir fôlego para falar. Algumas das teorias de Barbet, como a localização dos pregos, são disputadas por Zugibe.

oftalmologista e pastor C. Truman Davis também publicou um visão médica da crucificação, concordando com Barbet, mas sua análise é bem menos detalhada que a de Zugibe.

cirurgião ortopédico Keith Maxwell não apenas analisou os aspectos médicos da crucificação como também analisou a forma como Jesus carregou a cruz por toda a Via Dolorosa.

Num artigo para Catholic Medical Association ("Associação Médica Católica"), Phillip Bishop e o fisiologista Brian Church sugeriram uma nova teoria baseada no trauma de suspensão.

Em 2003, os historiadores F. P. Retief e L. Cilliers revisaram a história a patologia da crucificação como realizada pelos romanos e sugeriram que a causa da morte geralmente era uma combinação de fatores. Eles também afirmaram que os soldados romanos de guarda eram proibidos de deixar o local enquanto o condenado não estivesse morto.

Arte, simbolismo e devoções

Desde a crucificação de Jesus, a cruz se tornou um elemento chave no simbolismo cristão assim como cena da crucificação, na arte cristã, dando origem a diversos temas artísticos específicos como o Ecce Homo, o Erguimento da Cruz, a Deposição da Cruz e o Sepultamento de Jesus.

A obra "Crucificação vista a partir da cruz", de James Tissot, apresentou uma nova abordagem no final do século XIX, na qual a cena da crucificação foi retratada a partir da perspectiva de Jesus.

O simbolismo da cruz, que hoje é um dos símbolos cristãos mais reconhecidos, foi utilizado desde o cristianismo primitivoJustino Mártir, que viveu em 165, a descreve de uma forma que deixa implícito o uso já naquela época como símbolo, embora o crucifixo só tenha aparecido mais tarde. Mestres como CaravaggioRubens e Ticiano pintaram a cena da crucificação em suas obras.

Devoções baseadas no processo da crucificação e nos sofrimentos de Jesus são observadas por diversos cristãos. As "Estações da Cruz" seguem um número de estágios baseados nos passos seguidos por Jesus até a sua crucificação, enquanto que o Rosário das Santas Chagas é utilizado para meditar sobre as chagas de Jesus como parte da crucificação.

A presença de Maria aos pés da cruz em João 19:26–27 tem sido, por si só, tema da arte mariana e um bem conhecido símbolo católico, como é caso da Medalha Milagrosa e do brasão de João Paulo II, que traz a cruz mariana. E diversas devoções marianas também envolvem a presença de Maria no Calvário. O papa João Paulo II afirmou que "Maria estava unida com Jesus na cruz". Obras de arte muito conhecidas de mestres como Rafael (por ex. a Crucificação Mond) e Caravaggio (por ex. o seu Sepultamento de Cristo) retratam Maria como parte da cena da crucificação.

Ver também

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Referências

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Ligações externas

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Evangelho de Lucas


O Evangelho de Lucas foi escrito para seu amigo Teófilo, sendo os Atos dos Apóstolos uma continuação dele. Lucas foi detalhista e mostra também o nascimento de João Batista e seu ministério. O objetivo desse evangelho era mostrar que a salvação (ver: soteriologia) de Jesus está ao alcance de todos, mostrando diversos contatos de Jesus com os pobres, aleijados, cegos, possuídos, ricos e pessoas desprezadas pela sociedade da época. Possui 24 capítulos.


Evangelho segundo Lucas

livro do novo testamento da Bíblia / De Wikipedia, a enciclopédia livre

Evangelho Segundo Lucas (em gregoΤὸ κατὰ Λουκᾶν εὐαγγέλιον; romaniz.:To kata Loukan euangelion) é o terceiro dos quatro evangelhos canônicos. Ele relata a vida e o ministério de Jesus de Nazaré, detalhando a história dos acontecimentos de Seu nascimento até Sua Ascensão.

Novo Testamento
Evangelhos
Livro Histórico
Epístolas Paulinas
Epístolas Universais
Livro Apocalíptico

O autor é tradicionalmente identificado como Lucas, o evangelista. Certas histórias populares, como o Filho Pródigo e o Bom samaritano, são encontrados somente neste evangelho. A obra tem uma ênfase especial sobre a oração, a atividade do Espírito Santo, a alegria e o cuidado de Deus para com os pobres, as crianças e as mulheres. Lucas apresenta Jesus como o Filho de Deus, mas volta sua atenção especialmente para a humanidade d'Ele, com Sua compaixão para com os fracos, os aflitos e os marginalizados.

De acordo com o prefácio do livro, o propósito de Lucas é relatar o início do cristianismo, enquanto procura o significado teológico da história. O evangelista divide seu evangelho em três fases: a primeira termina com João Batista, a segunda consiste no ministério terrestre de Jesus e a terceira é a vida da igreja após a ressurreição de Cristo. O livro contém ao todo 24 capítulos, 24 parábolas e 21 milagres. O autor retrata o cristianismo como divino, respeitável, cumpridor da lei e internacional. Aqui, a compaixão de Jesus estende a todos os que estão necessitados, as mulheres são importantes entre os seus seguidores, os samaritanos desprezados são elogiados e os gentios são prometidos a oportunidade de aceitar o evangelho. Enquanto o Evangelho é escrito como uma narrativa histórica, muitos dos fatos retratados nele são baseados em tradições orais e anteriores aos quatro evangelhos canônicos. A mais moderna erudição crítica concluiu que Lucas usou o Evangelho de Marcos para a sua cronologia e uma hipotética fonte Q, que provavelmente continha muitos dos ensinamentos de Jesus. Lucas também pode ter utilizado registros escritos independentes. A erudição cristã tradicional tem datado a composição do evangelho para o início dos anos 60 d.C., enquanto a alta crítica data para décadas mais tarde do século I. Enquanto a visão tradicional de que o companheiro de Paulo, Lucas, foi o autor do terceiro Evangelho, um número de possíveis contradições entre Atos e as cartas de Paulo levam muitos estudiosos a duvidar disso. De acordo com Raymond E. Brown, não é impossível que Lucas foi o autor do Evangelho. Já Leon Morris afirma que não há nada no Evangelho de Lucas que coloque em xeque a visão tradicional da Igreja Primitiva. De acordo com a opinião da maioria, o autor é simplesmente desconhecido.

Os estudiosos da Bíblia estão em amplo consenso de que o autor do Evangelho de Lucas também escreveu o Atos dos Apóstolos. Muitos acreditam que o Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos originalmente constituíam uma obra de dois volumes, que os estudiosos chamam de Lucas-Atos.

Composição

Tradicionalmente, a data de composição do Evangelho de Lucas é fixado antes dos eventos finais do livro de Atos, entre os anos 59 e 63 d.C.. O autor do Evangelho de Lucas reconhece a familiaridade com outros evangelhos anteriores (1:1). Embora o semitismo exista por todo livro, a obra foi composta em grego koiné. Tal como Marcos (mas ao contrário de Mateus), o público alvo é a população de gentios de língua grega, assegurando aos leitores que o cristianismo não era uma seita exclusivamente judaica, mas uma religião mundial.

Evangelhos sinópticos

Ficheiro:Relação entre os evangelho sinópticos.png
Quase todo o conteúdo de Marcos se encontra em Mateus, e muito de Marcos é igualmente encontrada em Lucas. Além disso, Mateus e Lucas têm uma grande quantidade de material em comum que não é encontrado em Marcos.

Os Evangelhos de Lucas, Mateus e Marcos (conhecidos como Evangelhos Sinópticos) apresentam um alto grau de semelhança em suas apresentações do ministério de Jesus. Eles incluem as mesmas histórias, muitas vezes na mesma sequência e às vezes exatamente com as mesmas palavras. A explicação mais aceita para essa semelhança é a hipótese das duas fontes, ou seja, Mateus e Lucas tomaram emprestados o Evangelho de Marcos e uma hipotética coleção escrita de ditos de Jesus, chamado de Q. Para a maioria dos estudiosos, a fonte Q foram coletadas para a formação de parte dos evangelhos de Lucas e Mateus, mas não são encontrados em Marcos.

Em The Four Gospels: A Study of Origins (1924), Burnett Hillman Streeter argumentou que uma outra fonte, chamada L e também hipotética, está por trás do material em Lucas que não tem paralelo em Marcos ou Mateus.

Fontes

A visão tradicional é que Lucas, que não foi uma testemunha ocular do ministério de Jesus, escreveu seu evangelho após reunir as melhores fontes de informação ao seu alcance (Lucas 1:1-4), como afirma em seu prólogo. Para a erudição crítica, a hipótese das duas fontes é a mais provável, ou seja, o autor de Lucas usou como fontes para seu Evangelho o Evangelho de Marcos e o hipotético documento Q, além do material exclusivo da Fonte L. A introdução da obra mostra que o autor utilizou três fontes: várias narrações compostas antes dele (entre elas o Evangelho de Marcos), informações recolhidas junto a testemunhas oculares e a tradição oral da pregação apostólica.

Muitos já se dedicaram a elaborar um relato dos fatos que se cumpriram entre nós, conforme nos foram transmitidos por aqueles que desde o início foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo, para que tenhas a certeza das coisas que te foram ensinadas. (Lucas 1:1-4)

Evangelho de Marcos


A maioria dos estudiosos modernos concordam que Lucas usou o Evangelho de Marcos como uma de suas fontes. A compreensão de que Marcos foi o primeiro dos evangelhos sinópticos e que serviu de fonte para Mateus e Lucas é fundamental para os estudos da crítica moderna. O Evangelho de Marcos é curto e foi escrito em grego koiné (isto é, grego comum). Ele fornece uma cronologia geral do batismo de Jesus até o túmulo vazio. Lucas, entretanto, apresenta alguns dos eventos em uma ordem cronológica diferente de Marcos a fim de dar mais ênfase a determinado assunto.

Fonte Q

A maioria dos estudiosos modernos concordam que Lucas usou o Evangelho de Marcos como uma de suas fontes. Além disso, o Evangelista também usou Q como sua segunda fonte.
A maioria dos estudiosos modernos concordam que Lucas usou o Evangelho de Marcos como uma de suas fontes. Além disso, o Evangelista também usou Q como sua segunda fonte.

A maioria dos estudiosos acreditam que Lucas usou Q como sua segunda fonte. Q (Vem do alemão "Quelle" e significa "fonte") é uma coleção de ditos hipotéticos de Jesus. Na "hipótese das duas fontes," o documento Q explica onde os autores de Mateus e Lucas pegaram o material que os dois Evangelhos têm em comum, mas que não é encontrado em Marcos, como a oração do Senhor (Pai Nosso) e o Sermão do Monte. A existência de um importante documento com dizeres de Jesus e que não foi mencionado pelos Pais da Igreja Primitiva continua sendo um dos grandes enigmas da erudição bíblica moderna.

Evangelho de Mateus

Para o teólogo alemão Martin Hengel, Lucas também fez uso do Evangelho de Mateus ao compilar seu evangelho.

Fonte L


Para os estudiosos, o material exclusivo do Evangelho de Lucas derivam da fonte L, que é comumentemente aceita como proveniente da tradição oral cristã. Lucas aparentemente delineia um conjunto de histórias e ensinamentos do Cristianismo primitivo sobre Jesus e os incorpora no seu evangelho. O Magnificat, no qual Maria louva a Deus, é um desses elementos. As narrativas do nascimento de Jesus em Lucas e em Mateus parecem ser o mais recente componente desses dois Evangelhos. Lucas pode ter começado originalmente a partir de 3:1-7, com um prólogo adicionado.

Grego Koiné

Os livros do Novo Testamento foram escritos em grego. O estilo de Lucas é o mais literário de todos eles. Graham Stanton avalia a abertura do Evangelho de Lucas como "a frase mais refinada de todo o período pós-clássico da literatura grega". Linguisticamente, o Evangelho de Lucas dividi-se em três seções. O prefácio (1:1-4), escrito num bom estilo clássico. O restante do capítulo 1 e o capítulo 2 têm um sabor nitidamente hebraico. É tão marcante que certo numero de estudiosos chegou à conclusão de que aqui temos uma tradução de um original em hebraico. A partir de 3:1, Lucas escreve num tipo de grego helenístico que relembra fortemente a Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento.

vocabulário é extensivo e Lucas utiliza 266 palavras (além dos nomes próprios) que não são achados noutras partes do Novo Testamento. O estilo do Evangelho constantemente lembra a septuaginta. As citações do Antigo Testamento de Lucas são comumente tiradas daquela versão, e normalmente o autor emprega as formas de nomes próprios achadas ali. Às vezes a linguagem de Lucas contém hebraísmos e, às vezes, aramaísmos. Além disso, sua linguagem é mais semítica nalguns trechos do que noutros. Esses fatos parecem melhor explicados como sendo a reflexão das fontes de Lucas.

Autoria

São Lucas Evangelista (1602-1605), El Greco, na Catedral de Toledo. Para a tradição, Lucas é considerado o autor do Evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos.
São Lucas Evangelista (1602-1605), El Greco, na Catedral de Toledo. Para a tradição, Lucas é considerado o autor do Evangelho de Lucas e dos Atos dos Apóstolos.

O escritor deste evangelho anônimo foi provavelmente um gentio cristão. Seja quem tiver sido o autor, ele foi uma pessoa muito bem educada, bem viajada, bem conectada com os eventos do mundo antigo, além de um prolixo leitor. Na época em que compôs o Evangelho, ele deve ter sido um autor altamente praticado e competente, sendo capaz de compor numa ampla variedade de formas literárias de acordo com as exigências do momento.

O Evangelho de Lucas e os Atos dos Apóstolos foram escritos pelo mesmo autor. A evidência mais direta vem do prefácios de cada livro. Ambos os prefácios foram dirigidas a Teófilo e o prefácio de Atos explicitamente faz referência ao «meu livro anterior sobre a vida de Jesus» (Atos 1:1). Além disso, há semelhanças linguísticas e teológicas entre as duas obras, sugerindo que elas têm um autor em comum. Ambos os livros contêm também interesses comuns e referências cruzadas, indicando que eles são do mesmo autor. Os estudiosos da Bíblia que consideram os dois livros como uma única obra em dois volumes, referem-se ao conjunto como Lucas-Atos.

As passagens de Atos na primeira pessoa do plural é usado como evidência do autor ser um companheiro de Paulo. A tradição diz que o texto foi escrito por Lucas, companheiro de Paulo e nomeado em Colossenses 4:14. Os Pais da Igreja, o testemunho do Cânone MuratoriIrineu (170 d.C.), Clemente de AlexandriaOrígenes e Tertuliano sustentavam que o Evangelho de Lucas foi escrito por Lucas. Um dos mais antigos manuscritos do Evangelho, P75 (200 d.C.), traz a atribuição "o Evangelho segundo São Lucas". No entanto, um outro manuscrito, o P4, datado de um período próximo, não têm atribuição sobrevivente de autoria.

Lucas escrevendo seu Evangelho. Ilustração bizantina do século X
Lucas escrevendo seu Evangelho. Ilustração bizantina do século X

De acordo com a opinião majoritária, as provas de que Lucas não é o autor do Evangelho e sim um gentio desconhecido são fortes. Eles acham que o autor é um cristão gentio desconhecido. Para eles, o livro de Atos contradiz as cartas de Paulo em muitos pontos, como a segunda viagem de Paulo a Jerusalém para o Concílio de Jerusalém. Paulo colocado ênfase na morte de Jesus, enquanto o autor de Lucas enfatiza o sofrimento de Jesus. Além disso, há para eles diferenças escatológicas e uma visão distinta de ambos sobre a Lei. Paulo descreveu Lucas como "o médico amado ", o que levou W. K. Hobart a afirmar em 1882 que o vocabulário usado em Lucas-Atos sugere que o autor pode ter tido formação médica. No entanto, esta afirmação foi contrariada por um influente estudo de H. J. Cadbury em 1926, e desde então tem sido abandonado. Acredita-se hoje que a linguagem da obra reflete apenas a educação grega comum, pois os médicos empregavam uma linguagem parecida com a de outras pessoas.

A visão tradicional sobre a autoria de Lucas, no entanto, é defendida por muitos estudiosos importantes. De acordo com Raymond Brown "não é impossível" que eles estejam certos. Oscar Cullmann afirma que não se tem razões válidas para duvidar que o autor é Lucas, o companheiro de Paulo. Uma vez que Lucas não era um personagem proeminente na Igreja Primitiva, não há nenhuma razão óbvia para atribuir a uma figura secundária uma parte considerável do Novo Testamento, a menos que ele de fato tenha sido o autor. Se Lucas foi apenas um companheiro de Paulo, e em algum momento depois da morte do apóstolo idealizou escrever um evangelho, é algo que poderia explicar as diferenças entre Atos e as cartas de Paulo. Além disso, a grande distância entre o Paulo de Atos e o Paulo das epístolas imaginada por um número tão grande de estudiosos é, na verdade, uma distância entre uma descrição distorcida do Paulo supostamente autêntico e uma interpretação unilateral do Paulo de Atos.

Data da redação

Tito destrói Jerusalém, por Wilhelm von Kaulbach, Nova Pinacoteca, Munique.
Tito destrói Jerusalém, por Wilhelm von KaulbachNova PinacotecaMunique.

A data da redação deste Evangelho é incerta. A maioria dos estudiosos críticos colocam o Evangelho entre 80-90, embora muitos defendam uma data entre 60-65.

Antes de 70 d.C.

Uma minoria de eruditos põe a redação do Evangelho entre 37 e 61 d.C., sugerindo que o endereço de Lucas para o "excelentíssimo Teófilo", pode ser uma referência ao Sumo Sacerdote de Israel entre 37 e 41 d.C.Theophilus ben Ananus. Para esses estudiosos, o livro de Atos dos Apóstolos foi escrito por volta do final do primeiro cativeiro de Paulo, entre 62 e 63 d.C.. Por isso, o Evangelho de Lucas deve ter sido escrito antes.

Lucas 3:1 seria um indicio que este evangelho teria sido escrito antes da Guerra Judaica (66-70). Depois dessa guerra não haveria motivos para mencionar Lisânias, cuja tetrarquia teria sido doada a Herodes Agripa pelo imperador Cláudio.

Como o Evangelho foi escrito antes de Atos dos Apóstolos, os estudos de Donald Guthrie apontam que Lucas poderia ter coletado grande parte de seu material exclusivo durante os dois anos da prisão de Paulo em Cesareia Marítima (costa norte de Israel, ao sul da atual Jafa), que era então prisioneiro dos romanos. Essa prisão deve ser datada para os anos 57-59. Nessa caso, a redação do Evangelho de Lucas aconteceu ou durante esse período ou logo depois. Esses estudiosos também colocam o Evangelho de Marcos antes da Destruição do Templo de Jerusalém pelos Romanos, em 70 d.C.. No entanto, Guthrie observa que grande parte das provas para datar o terceiro Evangelho em qualquer ponto é baseado em conjecturas.

Entre 75-100 d.C.

A maioria dos estudiosos contemporâneos consideram Marcos como fonte usada por Lucas (ver: Primazia de Marcos). Se é verdade que Marcos foi escrito em torno da destruição de Jerusalém, cerca de 70, eles acreditam que Lucas não teria sido escrito antes de 70. Alguns que tomam este ponto de vista acreditam que a previsão profética de Lucas da destruição do Templo de Jerusalém não poderia ser o resultado de uma profecia de Jesus sobre o futuro. Eles afirmam que a discussão em Lucas Lucas 21:5 - 30 é específica o suficiente (mais específica que Marcos ou Mateus) para comprovar uma data depois de 70. Esses estudiosos têm sugerido datas para Lucas desde 75 até 100.

A base para uma data posterior vem de uma série de razões. Diferenças de cronologia, estilo e teologia sugerem que o autor de Lucas-Atos não estava familiarizado com a teologia distintiva de Paulo, mas estava escrevendo uma década ou mais depois de sua morte, pelo qual vários pontos de harmonização significativa entre diferentes tradições dentro cristianismo primitivo já tinham ocorrido. Além disso, Lucas-Atos tem pontos de vista sobre a natureza divina de Jesus, o fim dos tempos e salvação que são semelhantes à aqueles encontrados nas epístolas pastorais, que são muitas vezes vistos como pseudônimo, possuindo uma data mais tarde do que as incontestáveis Epístolas Paulinas.

Alguns estudiosos do Jesus Seminar argumentam que as narrativas do nascimento de Lucas e Mateus são um desenvolvimento tardio do evangelho. Dessa forma, Lucas poderia ter começado originalmente em Lucas 3:1 com João Batista.

terminus ad quem (última data possível) do Evangelho de Lucas estaria no final do século I, já que os primeiros manuscritos contém porções de Lucas (século II/início do século III) e vários Pais da igreja e obras cristãs do final do século I fazem referência a esse Evangelho. O trabalho se reflete na Didaquê, nos escritos gnósticos de Basilides e Valentinus, na apologética da Igreja de Justino Mártir, além de ter sido usada por Marcião.

Estudiosos do Cristianismo primitivo, como Donald Guthrie, afirmam que esse Evangelho foi provavelmente muito conhecido antes do final do século I, sendo plenamente reconhecido na primeira parte do século II. Já Helmut Koester afirma que, além de Marcião, "não há evidência certas para seu uso," antes de 150 d.C.. Nos meados do século II, uma versão editada do Evangelho de Lucas foi o único evangelho aceito por Marcião, um herege que rejeitou a conexão do Cristianismo com as escrituras judaicas (ver: Evangelho de Marcião).

Destinatário e propósito


O Evangelho de Lucas é especificamente endereçado a Teófilo (Lucas 1:3), cujo nome significa "aquele que ama a Deus". A maneira mais natural de entender a expressão é que Teófilo é uma pessoa de verdade e o mecenas de Lucas, provavelmente pagando os custos da publicação do livro, sendo por isso a ele dirigido. O adjetivo "excelentíssimo" significa que Teófilo era uma pessoa de posição.

Teófilo, no entanto, era mais que um publicador. A mensagem desse evangelho visava à instrução não só daqueles entre os quais o livro circularia, mas também dele próprio (Lucas 1:4). Pensa-se que, como Marcos (e ao contrário de Mateus), o público-alvo do Evangelho de Lucas são os gentios. O fato do evangelho ser dirigido a Teófilo não reduz nem limita seu propósito.

O livro foi escrito para fortalecer a fé de todos os crentes e para reagir aos ataques dos incrédulos. Foi apresentado para substituir relatórios desconexos e infundados a respeito de Jesus. Lucas queria demonstrar que o lugar ocupado pelo gentio convertido no reino de Deus basei-se nos ensinos de Jesus. Queria recomendar a pregação do evangelho ao mundo inteiro.

Conteúdo

Conteúdo do Evangelho segundo Lucas

Resumo do Conteúdo

Selo das Ilhas Faroe de 2011 representando Lucas 2, 34,-35
Selo das Ilhas Faroe de 2011 representando Lucas 2, 34,-35

O Evangelho de Lucas narra a história do nascimento milagroso de Jesus, bem como seu ministério de curas e suas parábolas, sua paixãoressurreição e ascensão. O estudioso cristão Donald Guthrie afirma que o livro de Lucas "é cheio de histórias magníficas, deixando o leitor com uma profunda impressão da personalidade e dos ensinamentos de Jesus".

Introdução

Lucas é o único evangelho com uma introdução formal, no qual ele explica sua metodologia e seu propósito. No prefácio, o evangelista afirma que:

O autor acrescenta que ele também deseja compor um relato ordenado para Teófilo a fim de que seu destinatário "tenha certeza das coisas que te foram ensinadas"

Narrativas do nascimento e genealogia


Como Evangelho de Mateus, Lucas relata a Genealogia de Jesus, seu nascimento virginal e a Anunciação. Ao contrário de Mateus, que traça a linhagem de Jesus através da linhagem de Davi e Abraão a fim de apelar para sua audiência judaica, em Lucas o evangelista traça a linhagem de Jesus até Adão, indicando um sentido universal da salvação. A narrativa de Lucas sobre o Nascimento de Jesus apresenta a conhecida história de Natal em que Maria e José viajam à Belém para um censo. O Jesus recém-nascido é colocado em uma manjedoura, ao mesmo tempo em que os anjos proclamam o nascimento do salvador aos pastores, que vão adorá-lo. Também é exclusivo do Evangelho de Lucas a história do Nascimento de João Batista e os três cânticos (incluindo o Magnificat), bem como a única história da infância de Jesus

Milagres e parábolas


Lucas enfatiza os milagres de Jesus, contando 20 no total, quatro dos quais são únicos. Como Mateus, Lucas inclui palavras importantes a partir da fonte Q, tais como as bem-aventuranças. No entanto, a versão de Lucas das bem-aventuranças difere da de Mateus. De acordo com os estudiosos, a versão de Lucas parece mais perto da fonte Q. Várias das parábolas mais memoráveis ​​de Jesus são exclusivas de Lucas, como a do Bom Samaritano, do Mordomo Infiel e a Parábola do Filho Pródigo.

Papel da mulher


Mais do que os outros evangelhos, Lucas se concentra no importante papel que as mulheres exerceram no ministério de Jesus, tais como Maria MadalenaMarta e Maria de Betânia. O Evangelho de Lucas é o único Evangelho que contém a anunciação do nascimento de Jesus a Maria Santíssima, sua mãe (Lucas 1:26 - 38). Em comparação com os outros evangelhos canônicos, Lucas dedica uma atenção muito maior para as mulheres. O Evangelho de Lucas traz personagens mais femininas, características de uma profetisa do sexo feminino (Lucas 2:36) e os detalhes da experiência da gravidez (Lucas 1:41 - 42). Discussão de destaque são dadas à vida de Isabel, a mãe de João Batista e de Maria, a mãe de Jesus (Lucas 2:1 - 51).

A Última Ceia


Lucas é o único evangelho que trata a Última Ceia da forma como Paulo faz, com o estabelecimento de uma liturgia a ser repetida por seus seguidores. De acordo com Geza Vermes, Paulo deve ser considerada a principal fonte para essa interpretação, porque ele diz ter recebido essa percepção da revelação direta em vez dos outros apóstolos. Os versos em questão não são encontrados em certos manuscritos mais antigos, e Bart D. Ehrman conclui que eles foram adicionados a fim de apoiar o tema da morte expiatória de Jesus - um tema encontrado em Marcos, mas que o evangelista Lucas excluiu do original. Entretanto, a crítica textual considera que Lucas 22:19 - 20 são autênticas. O relato de Lucas é inusitado por causa da menção ao cálice em primeiro lugar, seguindo a tradicional sequência pão/cálice. Daí a confusão de alguns escribas terem omitido essa parte do Evangelho.

Crucificação


São Lucas enfatiza que Jesus não havia cometido nenhum crime contra Roma, sendo sua inocência confirmada por HerodesPilatos, e o ladrão crucificado com Jesus. É possível que o autor de Lucas estava tentando ganhar o respeito das autoridades romanas para o benefício da Igreja, sublinhando a inocência de Jesus. Além disso, Lucas minimiza o envolvimento romano na execução de Jesus, colocando a responsabilidade maior sobre os judeus. Craig Evans afirma que Lucas colocou os judeus como os principais responsáveis pela morte de Jesus a fim de dar sentido à morte do Messias pela nação israelita - como profetizada no Antigo Testamento. Nesse sentido, seria simplista aplicar a Lucas o rótulo de anti-semita. Na narrativa de Lucas da Paixão, Jesus ora para que Deus perdoe aqueles que o estavam crucificando; e garante a um dos ladrões crucificados ao seu lado que estaria no Paraíso.

Ressurreição e Aparições

Caminho para Emaús, pintado por Joseph von Führich
Caminho para Emaús, pintado por Joseph von Führich

A versão de Lucas difere daquelas apresentadas em Marcos e em Mateus. Lucas conta a história de dois discípulos na estrada de Emaús, e (como em João) Jesus aparece aos Onze e demonstra que ele é carne e sangue, e não um espírito. Alguns estudiosos sugerem que por ter escrito "carne e sangue" como propriedades do corpo ressuscitado de Jesus, Lucas estaria fazendo uma apologia contra a hipótese docética ou o ponto de vista gnóstica sobre o corpo ressuscitado de Cristo, ou ainda a teoria que os discípulos tinham apenas visto um fantasma. No entanto, estudioso Daniel A. Smith escreve que Lucas estava provavelmente mais preocupado com os cristãos primitivos que acreditavam que a ressurreição era algo meramente "espiritual", sem ter ocorrido uma transformação do corpo natural. Jesus comissiona (Grande Comissão) os discípulos para levarem sua mensagem a todas as nações, colocando o cristianismo como uma religião universal. O livro de Atos dos Apóstolos, também escrito pelo autor do Evangelho de Lucas e direcionado a Teófilo, declara que "Jesus apresentou-se a eles e deu-lhes muitas provas indiscutíveis de que estava vivo. Apareceu-lhes por um período de 40 dias" Atos 1:3.

A narração detalhada do Caminho de Emaús se encontra em Lucas 24:13-32 e é considerada um dos melhores desenhos de uma cena bíblica do Evangelho de Lucas.

Manuscritos

P45. Fólios 13-14 com parte do Evangelho de Lucas
P45. Fólios 13-14 com parte do Evangelho de Lucas

Os primeiros manuscritos do Evangelho de Lucas são três grandes papiros fragmentos que datam do final do século II ou início do século IIIP4 é provavelmente o mais antigo, datando do século IIP75 é datada entre o final do século II e o início do século III. Finalmente, P45 (meados do século III) contém uma parte de todos os quatro Evangelhos. Além desses grandes papiros, há 6 outros papiros (P3, P7, P42, P69, P82 e P97) que datam entre os séculos III e VIII e que contêm pequenas porções do Evangelho de Lucas. As cópias iniciais, bem como as primeiras cópias do livro de Atos, datam depois que o Evangelho foi separado do livro de Atos.

Codex SinaiticusVaticanus e os códices da Bíblia grega do século IV, são os mais antigos manuscritos que contêm o texto completo de Lucas. O Codex Bezae, pertencente provavelmente ao século V, é um Texto-tipo Ocidental que contém versões do Evangelho de Lucas em grego e em latim.

Variantes Textuais


Tanto no livro de Lucas quanto em Atos existem diferenças importantes no denominado Texto-tipo Ocidental, cujos principais representantes são o Códice de Beza (D) e os manuscritos da Antiga Versão Latina. No entanto, não há motivos para duvidar que temos o texto de Lucas substancialmente como foi escrito. Ainda há algumas incertezas sobre algumas formas textuais, mas há considerável concordância quanto à maioria.

Lucas 2,14

A versão Almeida Revista e Corrigida traz a versão "paz na terra, boa vontade para com os homens"; Já a Revista e Atualizada diz "paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem". Esta última tradução deve ser preferível, uma vez que tanto a evidência documental quanto as considerações técnicas, exegéticas e linguísticas da evidência interna favorecem esta última leitura. Já na versão da Ave Maria diz: "Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina)."

Lucas 6,4

Nos manuscritos gregos do Códice D, logo após Lucas 6:4, encontra-se um breve episódio que alguns estudioso julgam ser genuíno: "No mesmo dia, ele viu um homem ocupado no trabalho, e era sábado. Então lhe disse: "Homem, se você sabe o que está fazer você é abençoado. Mas, se você não sabe, passa a ser amaldiçoado como transgressor da lei". Presumivelmente, se a pessoa trabalhasse no Shabat (sábado) por razões apropriadas, ou com espírito certo, assim como Jesus havia curado o homem cuja mão era ressequida, tal pessoa não seria culpada de violar a lei do sábado.

Lucas 8,26

Alguns manuscritos trazem Gérasa, outros Gádara e ainda outros Gergesa. Visto que Gerasa ficava a mais de 50 quilômetros do lago de Genesaré, o estouro da manada de porcos teria sido muito grande, e a correria muito longa. Alguns escribas cristãos sentiram essa dificuldade e escreveram Gádara em vez de Gérasa, cidade que ficava a apenas alguns quilômetros longe do lago. Seguindo a hipótese de Orígenes, outros escribas cristãos escreveram Gergesa, cidade que ficava à beira do lago. Tudo o que Lucas diz é que Jesus e seus discípulos entraram na região dos gerasenos, e não necessariamente que entraram na cidade de Gérasa.

Referências

  1. Irineu (Contra as Heresias, livro III, 1.3) "Também Lucas, companheiro de Paulo, registrou em livro o evangelho proclamado por este";
  2. Cânone Muratori (séc. II) diz "O terceiro evangelho, segundo Lucas, foi redigido por esse médico, segundo seu critério, após a ascensão de Cristo, quando Paulo o levou consigo como companheiro, quase que cientista. Apesar disso, não viu pessoalmente o Senhor na carne, e por conseguinte começou a relatar, da maneira como conseguiu examinar, desde o nascimento de João".
  3. Eusébio de Cesareia (História Eclesiástica, livro III, 4.6) Lucas, porém, de origem antioquena e médico de profissão, viveu por longo tempo em companhia de Paulo e no restante conviveu, não de passagem, com os outros apóstolos. Deles aprendeu a cura das almas, conforme comprovou nos dois livros inspirados por Deus, o Evangelho que ele atesta ter composto conforme lhe transmitiram os que foram desde o início testemunhas oculares e ministros da palavra e os Atos, que não redigiu de acordo com o que ouviu, mas ao invés com o que viu com os próprios olhos.
  4. "Lucas é um sírio de Antioquia, sírio pela raça, médico de profissão. Tornou-se discípulo dos apóstolos e mais tarde seguiu a Paulo até ao seu martírio. Tendo servido o Senhor com perseverança, solteiro e sem filhos, cheio da graça do Espírito Santo, morreu com 84 anos de idade". Prólogo Anti Marcionita
  5. Donald Guthrie. New Testament Introduction. Leicester, England: Apollos, 1990;
  6. Leon Morris. Lucas. São Paulo: Vida Nova, 2005;
  7. N. B. Stonehouse, The Witness of Luke to Christ (1951), pp. 24-45; H. J. Cadbury, The Beginnings of Christianity II, 1922, pp. 489-510; R. Bauckham, Jesus and the Eyewitnesses (Eerdmans, 2006).
  8. Oscar Cullman. A formação do Novo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, 2001;
  9. May, Herbert. e Bruce Metzger.The New Oxford Annotated Bible with the Apocrypha. 1977. p. 1240;
  10. DA Carson, Douglas Moo, Leon Morris. Lucas in Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1997;
  11. "Relatos sobre a vida e as declarações de Jesus circularam em pequenas unidades independentes (...). A responsabilidade por essa transmissão não é de indivíduos, mas da comunidade, dentro da qual o material toma forma e é transmitido. Certas leis de transmissão, geralmente observáveis em tais casos de transmissão oral, podem ser aplicadas à transmissão dos evangelhos". DA Carson, D Moo, L Morris, p. 22
  12. Raymond Brown. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas, 2003;
  13. "Ao contrário do ponto de vista tradicional - que ainda é apresentada hoje - há um consenso entre os críticos que enfatizam as contradições entre Atos e as cartas paulinas autênticas". Theissen, Gerd e Annette Merz. The historical Jesus: a comprehensive guide. Fortress Press, 1998, p. 32;
  14. "A pressuposição de que Lucas tenha escrito o terceiro evangelho e os Atos é a mais plausível das quatro atribuições, seguida de perto pela suposição de que Marcos tenha sido um evangelista". R Brown, p. 60;
  15. "Há boas razões para sustentar que Lucas é o autor deste Evangelho (e de Atos). Embora a evidência não chega à prova definitiva, é muito forte, e nenhuma alternativa apropriada tem sido sugerida". Morris, p. 20
  16. Udo Schnelle. The History and Theology of the New Testament Writings. Fortress Press, 1998, p. 259;
  17. David Aune. The New Testament in Its Literary Environment. Philadelphia: Westminster, 1987, p. 77;
  18. Os livros da Bíblia
  19. Miller, Robert J. "Introduction to the Gospel of Luke". In: The Complete Gospels."Os estudiosos geralmente se referem ao trabalho de Lucas como 'Lucas-Atos'". Polebridge Press, 1992, p. 115-117;;
  20. "O argumento teológico fortemente confirma a data de início (...). Resta apenas a dificuldade adicional em datar o Evangelho de Lucas tão cedo quanto 59 ou 60 d.C.". A. T. Robertson Luke the historian in the light of research (1923).
  21. Ben Witherington III. História e História do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2005. p. 18;
  22. Craig Evans. NCBC:Lucas. São Paulo: Vida, 1996;
  23. Bart Erhman. Jesus: Apocalyptic Prophet of the New Millennium. Oxford University Press, p.78-87;
  24. Burnett H. Streeter. The Four Gospels: A Study of Origins. London: MacMillian and Co., Ltd., 1924;
  25. Philipp Vielhauer. História da Literatura do Novo Testamento. Santo André: Academia Cristã, 2005, p. 415;
  26. Craig Blomberg. Jesus e os Evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009;
  27. Pier Franco Beatrice. The Gospel according to the Hebrews in the Apostolic Fathers. Novum Testamentum 2006, vol. 48, no2, p. 147-195;
  28. James R. Edwards. The Hebrew Gospel & the Development of the Synoptic Tradition. Wm. B. Eerdmans Publishing, 2009 pp 209-247.
  29. Martin Hengel. The Four Gospels and the One Gospel of Jesus Christ: An Investigation of the Collection and Origin of the Canonical Gospels. Trans. J. Bowden. Londres e Harrisburg: SCM e Trinity Press International. p. 169-207;
  30. Funk, RobertJesus SeminarThe acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus. HarperSanFrancisco. 1998. Luke, p. 267-364;
  31. Funk, RobertJesus SeminarThe acts of Jesus: the search for the authentic deeds of Jesus. HarperSanFrancisco. 1998. Birth & Infancy Stories, p. 497-526;
  32. "Greek". Cross, FL. In: The Oxford dictionary of the Christian church. New York: Oxford University Press, 2005;
  33. H. J. Cadbury. The Style and Literary Method of Luke, p. 194. Salienta que o prefácio demonstra que a obra visava um público (p. 204). Marca a obra como sendo literatura, e mostra que não tinha a intenção original de ser usada, por exemplo, para propósitos litúrgicos.
  34. F F BruceThe Acts of the Apostles. (p. 18-21); M. Wilcox. The Semitisms of the Acts. Oxford, 1965. (p. 180-184);
  35. Stephen Harris. Understanding the Bible. Palo Alto: Mayfield. 1985. "The Gospels" (p. 266-268);
  36. Fizmyer, Joseph. The Gospel according to Luke: introduction, translation, and notes. The Anchor Bible v. 28-28A. (2 vols) Garden City, NY: Doubleday, 1981-1985;
  37. F F Bruce. Merece Confiança o Novo Testamento? São Paulo: Vida Nova, 2010. Os escritos de Lucas (p. 105-120);
  38. Sobre as evidências linguísticas veja A. Kenny. A stylometric Study of the New Testament (1986);
  39. F F BruceThe Acts of the Apostles (1952), p2.
  40. Udo Schnelle. The History and Theology of the New Testament Writings. (p. 259);
  41. Aspectos literários da obra de Lucas.
  42. MA Siotis. Luke the Evangelist as St. Paul's Collaborator. In: Neues Testament Gesichichte . (p. 105-111);
  43. Evangelho segundo Lucas
  44. Imagem do Papiro 75 mostrando o final do Evangelho de Lucas e o início do Evangelho de João, separados pelas palavras Κατά Λουκαν, ( Kata Loukan ) = "Segundo Lucas".
  45. Possivelmente datada de antes de P 75;
  46. Gregory, A. The Reception of Luke and Acts in the Period Before Irenaeus. Mohr Siebeck, 2003. (p.28);
  47. "O autor desconhecido de Lucas-Atos certamente não era um companheiro de Paulo". Theissen, Gerd e Annette Merz. The historical Jesus: a comprehensive guide. Fortress Press, 1998. Cap. 2 - Christian sources about Jesus;
  48. "A autoria deste evangelho permanece desconhecida". Biblical literature''. In: Encyclopædia Britannica On line. 26 nov. 2010;
  49. "A maioria dos comentaristas modernos do evangelho de Lucas são céticos sobre a validade da autoria tradicional". Fizmyer, Joseph. The Gospel according to Luke: introduction, translation, and notes. The Anchor Bible v. 28-28A, (2 vols) Garden City, NY: Doubleday, 1981-1985.
  50. "Essas versões diferentes [do conselho] parecem ser inconciliáveis; mas desde que Paulo é um testemunho contemporâneo e Atos foi escrito muitos anos após o evento, os estudiosos geralmente preferem a versão de Paulo". Harris, Stephen, p. 313;
  51. Biblical literature''. In: Encyclopædia Britannica On line. 26 nov. 2010;
  52. Por exemplo: W. K. Hobart. The Medical Language of St. Luke (1882); A. Harnack, Lukas der Arzt (1906);
  53. "Os esforços para argumentar que o Terceiro Evangelho demonstra que seu autor era um médico não são mais utilizados atualmente. Hobart argumentou que as várias histórias de cura e o vocabulário demonstram que Lucas era um médico. No entanto, Cadbury depois refutou estas alegações, provando que Lucas não mostrou uma linguagem mais conhecimento "médico" do que outros escritores e historiadores de sua época. É claro, as histórias de cura e vocabulário "médicos" são consistentes com a autoria por um médico. Mas eles simplesmente não podem prová-lo". Black, MC. Luke. College Press comentário NIV. Joplin, Missouri: College Pub Press, 1996;
  54. "Colossenses 4:14 se refere a Lucas como médico. Em 1882, Hobart tentou reforçar essa conexão, indicando todas as provas técnicas verbais para a vocação de Lucas. Apesar da riqueza de referências reunidas por ele, o caso foi tornado ambíguo pelo trabalho de Cadbury (1926), que mostrou que quase todo o vocabulário técnico que alegava ser de um médico aparecia em muitos documentos gregos daquela época, como a SeptuagintaJosefoLuciano de Samósata, e Plutarco. Isso significa que a linguagem poderia ter vindo de uma pessoa alfabetizada em qualquer vocação. O trabalho de Cadbury não significa, contudo, negar que Lucas poderia ter sido um médico, mas só que o vocabulário desses livros não garante que ele foi um". Bock, DL. Luke Volume 1: 1:1-9:50. Baker exegetical commentary on the New Testament. Grand Rapids, Michigan: Baker Books, 1994;
  55. Tentativas têm sido feitas para fortalecer o argumento para a autoria de um médico em Lucas-Atos ao encontrar exemplos de fraseologia médica. Os exemplos são muito poucos para ser feita a base de um argumento. Mas não são, talvez, provas suficientes para corroborar uma visão mais firmemente baseado em outras considerações". Marshall, I. H. The Gospel of Luke : A commentary on the Greek text. The New international Greek testament commentary. Exeter: Paternoster Press, 1978. (p. 33–34);
  56. "As referências são muitas vezes feitas com a linguagem médica de Lucas, mas não há nenhuma evidência de tal linguagem além do que qualquer grego educado poderia ter escrito". Biblical literature''. In: Encyclopædia Britannica On line. 26 nov. 2010;
  57. Estudiosos como Hengel (2000:48), Fitzmyer (1981:51), Thornton (1991), Nolland (1989: 1. xxxvii), Riley (1993: vii), Cullmann (2001, p. 27-28), F F Bruce (2010, p. 105) e Eckey (2004: 49). Há três principais fatores citados em favor da autoria tradicional: a tradição é unânime em atribuir o terceiro Evangelho e o livro dos Atos dos Apóstolos a Lucas, companheiro de Paulo. Lucas não é mencionado nas cartas aos GálatasRomanos, nas duas aos Coríntios e nas duas aos Tessalonicenses - todas escritas num período não coberto pelo livro de Atos com relatos na primeira pessoa do plural (nós a partir de Atos 16:10); Lucas não era apóstolo. Também não era um personagem de destaque do Novo Testamento, o que confere peso às declarações dos pais da igreja; Há várias proximidades teológicas entre as cartas de Paulo e a obra de Lucas, como à atuação do Espírito Santo, ênfase na morte vicária de Jesus e a Santa Ceia;
  58. "Não temos, portanto, razão válida para duvidar de que o gentílico-cristão que é o autor não seja idêntico a Lucas, o companheiro de Paulo". Cullmann, p. 28
  59. "Já que Lucas não foi uma figura proeminente na era apostólica, se o evangelho e Atos não foram originalmente escritos por ele não existe nenhuma razão óbvia por que eles deveriam ter sido associada com ele. Fizmyer, Joseph. The Gospel according to Luke: introduction, translation, and notes. The Anchor Bible v. 28-28A, (2 vols) Garden City, NY: Doubleday, 1981-1985;
  60. "Sua breve associação com Paulo levou Lucas a idealizar Paulo e a fazer dele o herói da segunda parte de Atos. Ele pintou sua própria imagem de Paulo, que não pode concordar em todos os detalhes com o Paulo das cartas incontestáveis". Fizmyer, Joseph. The Gospel according to Luke: introduction, translation, and notes. The Anchor Bible v. 28-28A, (2 vols) Garden City, NY: Doubleday, 1981-1985;
  61. Meier, John. Um judeu Marginal: repensando o Jesus histórico. Rio de Janeiro: Imago, 1992 (p. 53);
  62. A. Harnack. The Date of Acts and the Synoptic Gospels. 1911 (p. 90); H. Marshall. Luke. 1974 (p. 35); AJ Mattill Jr. The Date and Purpose of Luke-Acts: Rackham reconsidered. In: Catholic Biblical Quarterly 40. 1978 (p. 335-350); Leon Morris. Lucas. 2005 (p. 20-24);
  63. Para os argumentos sobre a datação de Atos anterior ao ano 70 d.C. veja o verbete Atos dos Apóstolos e a seção Datação antes de 70 d.C..
  64. Erich Mauerhofer. Uma introdução aos Escritos do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2010;
  65. Helmut Koester. Ancient Christian Gospels. Harrisburg, Pennsylvania: Trinity Press International, 1999 (p. 336);
  66. Theissen, Gerd e Annette Merz. The historical Jesus: a comprehensive guide. Fortress Press, 1998. (p. 24-27);
  67. Brown concorda que as referências à destruição do templo de Jerusalém são vistos como evidência de uma data pós-70. Brown, Schuyler. The origins of Christianity: a historical introduction to the New Testament. New York: Oxford University Press, 1993;
  68. Schuyler Brown. The origins of Christianity: a historical introduction to the New Testament. New York: Oxford University Press, 1993;
  69. Muitos estudiosos atribuem as epístolas pastorais ao apóstolo Paulo. Gordon Fee. I e II Timóteo, Tito. São Paulo: Vida, 1996; J. N. D. Kelly. I e II Timóteo, Tito - introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2009;
  70. P4P45, P69P75 e P111.
  71. Helmut Koester. Ancient Christian Gospels. Harrisburg, Pennsylvania: Trinity Press International, 1999 (p. 334);
  72. Marcion. Cross, FL, ed. The Oxford dictionary of the Christian church. New York: Oxford University Press, 2005;
  73. «Strong's G2321 - Theophilos». Consultado em 9 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 21 de outubro de 2007
  74. "O prefácio literário dá a entender que desde o início o objetivo era que o livro fosse lido, não por um pequeno grupo de crentes, mas presumivelmente por um grande público. O cuidado com que Lucas organizou uma quantidade tão grande de informações parece indicar que ele tinha em vista um público mais amplo". DA Carson, D Moo, L Morris, p. 131
  75. Broadus David Hale. Introdução ao estudo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Junta de Educação Religiosa e Publicações, 1983;
  76. Bart D. EhrmanThe New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings. New York: Oxford. 2008;
  77. Biblical literature''. In: Encyclopædia Britannica On line. 10 dez. 2011;
  78. Robert Funk, Roy Hoover e Jesus SeminarThe five gospels. Harper: SanFrancisco, 1993.("Luke" p. 271-400);
  79. Geza Vermes. The authentic gospel of Jesus. London: Penguin Books, 2004 (p. 301-307);
  80. Herbert May e Bruce Metzger. The New Oxford Annotated Bible with the Apocrypha. 1977, p. 1279;
  81. Bart D. EhrmanJesus, Interrupted. HarperCollins, 2009;
  82. George Shillington. An introduction to the study of Luke-Acts. Continuum International Publishing Group, p. 11;
  83. Leigh Gibson e Shelly Matthews. Violence in the New Testament. Continuum International Publishing Group, 2005 (p. 132);
  84. Jonathan Knight. Luke's gospel. Psychology Press, 2005 (p. 145);
  85. "Lucas enfatiza a responsabilidade dos judeus pela morte de Jesus, não porque Lucas abriga algum sentimento anti-semita, mas porque deseja colocar a morte do Messias com muita firmeza no quadro geral da história bíblia israelita". Craig Evans, p. 28-29;
  86. Para uma avaliação melhor da atitude de Lucas a respeito dos judeus, v. Robert Brawley. Luke-Acts and the Jews: Conflict, Apology and Conciliation. SBLMS 33 (Atlanta: Scholars, 1987);
  87. Daniel A. Smith. Revisiting the Empty Tomb: The Early History of Easter. Fortress Press, 2010 (p. 109);
  88. Luke for Everyone por Tom Wright, 2004 (p. 292);
  89. P4 contém Lucas1:58-59; 62-2:1;6-7; 3:8-4:2;29-32;34-35; 5:3-8; 5:30-6:16
  90. P75 contém Lucas 3:18 - 4:02 +; 04:34-05:10; 5:37-18:18 +; 22:4-24:53 e João 1:01-11:45, 48-57 ; 12:03-13:10; 14:08-15:10;
  91. «Lista Completa dos Papiros Gregos do Novo Testamento». Consultado em 10 de dezembro de 2011. Arquivado do original em 12 de março de 2014
  92. Lista de Papiros do Novo Testamento em inglês
  93. Há um sumário útil dessa posição em Bruce Metzger (p. 191-193). Veja também Western Non-Interpolations, de Klyne Snodgrass (JBL 91:369-379). Snodgrass chega à conclusão de que "agora parece duvidoso que quaisquer das formas textuais apoiadas apenas por D e seus aliados não gregos seja o texto autêntico" (p. 379);.
  94. "Com o nascimento de Cristo, Deus estava finalmente colocando em operação seu plano de redenção, e por isso a paz e o perdão já podia ser oferecida aos homens sobre os quais repousa seu favor". Wilson Paroschi. Crítica textual do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1993 (p. 194);
  95. "Entretanto, o próprio Orígenes não conheceu manuscrito algum que trouxesse 'Gergesa'". Craig Evans, p. 156;
  96. Ellis afirma que o episódio aconteceu em Quersa, cidade situada na praia oriental do lago. Earle Ellis. The Gospel of Luke. NBC. Londres: Oliphants, 1974 (p. 128);

Ligações externas

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Evangelho de João


É um Evangelho à parte pelo seu estilo literário, voltado para os gentios. Nele se enfatiza a divindade de Cristo, com João demonstrando os sete sinais que provam que Jesus é o Filho de Deus. O estilo do evangelho é reflexivo, cheio de imagens e sentidos figurados. Possui 21 capítulos.


Evangelho segundo João

Quarto livro do Novo Testamento da Bíblia Cristã / De Wikipedia, a enciclopédia livre

Evangelho segundo João (em gregoΤὸ κατὰ Ἰωάννην εὐαγγέλιονtransl.Tò katà Iōánnēn euangélion), também referido como Evangelho de João, o Quarto Evangelho ou simplesmente João, é um dos quatro Evangelhos canônicos no Novo Testamento. Ele tradicionalmente está posicionado como o quarto Evangelho, sucedendo aos Evangelhos sinóticos de MateusMarcos e Lucas.

Novo Testamento
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Livro Apocalíptico

Apesar do autor do Evangelho de João ser anônimo, a tradição cristã geralmente a atribui para João, o Apóstolo, filho de Zebedeu e um dos doze apóstolos de Jesus. Este Evangelho está tão relacionado em estilo e conteúdo com as outras três epístolas joaninas que os estudiosos tratam estes quatro livros, juntamente com o Livro de Apocalipse, como uma única coleção de escritos dentro da literatura joanina, embora não necessariamente tenham sido escritos pelo mesmo autor.

Alguns estudiosos sugeriram que uma tradição tenha se desenvolvido em torno da "comunidade joanina", que deu origem a este Evangelho. A descoberta de um grande número de fragmentos de papiro de manuscritos com temas joaninos levou mais estudiosos a reconhecer que os textos estavam entre os mais influentes da Igreja primitiva. Os discursos contidos neste Evangelho tiveram seu enfoque em questões do debate igreja-sinagoga no momento da sua composição. É notável que, em João, a comunidade parece definir-se principalmente em contraste com o judaísmo, e não como parte de uma comunidade cristã mais ampla. Embora o cristianismo tenha começado como um movimento dentro do judaísmo, ele se separou gradualmente do judaísmo por causa de mútua oposição entre as duas religiões.

Estrutura e conteúdo

O Evangelho de João pode ser dividido em quatro seções: um prólogo (João 1:1-18), um Livro dos Sinais (João 1:19-50), um Livro da Glória (João 13:1-20,31) e um epílogo (21). A estrutura é esquemática: existem sete "sinais" que culminam na ressurreição de Lázaro (prenunciando a ressurreição de Jesus) e sete provérbios e discursos sobre "Eu sou", que culminaram com a proclamação de Jesus como "meu senhor e meu Deus" - o mesmo título (dominus et deus) reivindicado pelo imperador romano Domiciano.

Livro dos Sinais

O Livro dos Sinais aborda a narrativa do ministério público de Jesus, iniciando com a apresentação dos primeiros discípulos de Jesus. Consiste em sete milagres ou "sinais", intercalados com longos diálogos, discursos, e trechos "amém, amém", e "Eu Sou", que culminaram com a ressurreição de Lázaro dentre os mortos. Em João, é isso, e não a limpeza do Templo, que leva as autoridades a ter executado Jesus. Os sete sinais consistem no milagre de Jesus no casamento em Caná, na cura do filho do oficial real, na cura do paralítico em Betesda, na alimentação dos 5.000, na caminhada sobre a água, na cura do homem nascido cego, e na ressurreição de Lázaro. Outros incidentes relatados neste segmento do Evangelho incluem a limpeza do Templo; a conversa de Jesus com o fariseu Nicodemos, onde ele explica a importância do renascimento espiritual; a sua conversa com a samaritana no poço, onde ele fala o Discurso sobre a Água da Vida; o Discurso do Pão da Vida, que levou muitos de seus discípulos a rejeitarem-o; a mulher adúltera; o argumento de que Jesus é a Luz do Mundo; a resposta de Jesus a Pilatos; a perícope do Bom Pastor; a rejeição de Jesus pelos judeus; o versículo Jesus chorou; o plano para matar Jesus; a unção de Jesus; a entrada triunfal em Jerusalém; a predição da glorificação do Filho do Homem; e a predição do Juízo Final.

Livro da Glória

Jesus realizando o discurso de adeus para os seus onze discípulos remanescentes. Arte de Maestà of Duccio, datada de 1308–1311
Jesus realizando o discurso de adeus para os seus onze discípulos remanescentes. Arte de Maestà of Duccio, datada de 1308–1311

O Livro da Glória aborda a narrativa da Paixão de Cristo, da Ressurreição de Jesus e das aparições de Jesus após a ressurreição. Ele inicia a narrativa da Paixão com um relato da Última Ceia que difere significativamente daquela encontrada nos Evangelhos sinóticos, com Jesus lavando os pés dos discípulos em vez de inaugurar uma nova aliança de seu corpo e sangue. Isto é sucedido pelo discurso de adeus de Jesus, um relato de sua traiçãoprisãojulgamentomortesepultamento, aparições após a ressurreição, e um convite final para seus seguidores. Também inclui a negação de Pedro, a instituição do Novo Mandamento e da Nova Aliança, a promessa de Paráclito, a promessa da Videira Verdadeira, a Oração do Sumo Sacerdote, a zombaria com Jesus e a coroação com espinhos, o Ecce homo, a descoberta do túmulo vazio, o Noli me tangere, a Grande Comissão e a incredulidade de Tomé. A seção termina com uma conclusão sobre o propósito do Evangelho: "[tais relatos] foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.".

Composição e configuração

Autoria, data e origem


O autor do Evangelho de João é anônimo. De acordo com uma tradição da Igreja que data do segundo século, primeiramente atestada por Ireneu de Lyon, o autor foi "o discípulo que Jesus amou" mencionado em João 21:24, que é entendido como João, filho de Zebedeu, um dos doze discípulos de Jesus. Essas identificações, no entanto, são rejeitadas por muitos estudiosos bíblicos modernos. No entanto, o autor do quarto Evangelho às vezes é chamado de João, o Evangelista, muitas vezes por conveniência, uma vez que o nome definitivo do autor é ainda discutido. A obra de João frequentemente é datada de 90-110 Os estudiosos acreditam que o texto passou por duas a três redações, ou "edições", antes de chegar à sua forma atual.

João, que geralmente descreve os oponentes de Jesus simplesmente como "os judeus", é mais consistentemente hostil aos "judeus" do que qualquer outro livro do Novo Testamento. O historiador e ex-sacerdote católico romano James Carroll afirma: "O clímax deste movimento vem no capítulo 8 de João, quando Jesus é retratado como denunciando "os judeus" que estavam reunidos no Templo como descendentes de Satanás". Em João 8:44, Jesus diz aos judeus: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele." Em 8:38 e 11:53, "os judeus" são retratados como cidadãos com desejo de matar a Jesus. No entanto, Carroll adverte que esta e outras declarações semelhantes no Evangelho segundo Mateus e na Primeira Epístola aos Tessalonicenses devem ser vistas como "evidência não do ódio dos judeus, mas dos conflitos sectários entre os judeus" nos primeiros anos da igreja cristã.

Conforme observado pelo estudioso do Novo Testamento Obrey M. Hendricks, Jr.: "Embora sua interpretação mordaz sobre os judeus tenha aberto acusações a João de antissemitismo, uma leitura cuidadosa revela que "os judeus" são uma designação de classe, não uma religião ou agrupamento étnico, em vez de denotar adeptos do judaísmo em geral, o termo refere-se principalmente às autoridades religiosas hereditárias do Templo". Nos séculos seguintes, João foi usado para apoiar a polêmicas antissemitas, mas o autor do Evangelho se considerava como um judeu, defendeu Jesus e seus seguidores como judeus, e provavelmente escreveu para uma comunidade em grande parte judaica.

Fontes

O consenso entre os estudiosos na segunda metade do século XX era de que João era um livro independente dos Evangelhos sinóticos (MateusMarcos e Lucas), mas essa concordância foi desfeita na última década do século e agora há muitos estudiosos que acreditam que João tinha conhecimento de algumas partes de Marcos e possivelmente de Lucas, pois ele compartilha alguns itens de vocabulário e grupos de acontecimentos organizados na mesma ordem.

Termos-chave dos sinóticos, no entanto, estão ausentes por completo ou parcialmente, implicando que, se o autor realmente conhecia esses Evangelhos, ele se sentia livre para escrever de forma independente. Muitos acontecimentos, como o casamento em Caná, o encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço e a ressurreição de Lázaro, não são semelhantes nos sinóticos, e muitos estudiosos acreditam que o autor os chamou de uma fonte independente chamada "Evangelho dos Sinais", os discursos de Jesus de uma segunda fonte de" discurso", e o prólogo de um hino primitivo.

O Evangelho segundo João faz uso extensivo das escrituras judaicas: João cita diretamente elas, faz referência a figuras importantes e usa narrativas delas como base para vários dos seus discursos. O autor também estava familiarizado com fontes não-judaicas: o Logos do prólogo (o Verbo que está com Deus desde o início da criação), por exemplo, foi derivado do conceito judaico de sabedoria e dos filósofos gregos; João 6 faz alusão não apenas ao Êxodo, mas também aos cultos greco-romanos, e João 4 faz referência às crenças messiânicas dos samaritanos.

Confiabilidade histórica


Os ensinamentos de Jesus encontrados nos Evangelhos sinóticos são muito diferentes dos registrados em João, e desde o século XIX os estudiosos aceitam quase por unanimidade que esses discursos joaninos são menos prováveis de serem históricos do que as parábolas sinóticas, e provavelmente foram escritos para fins teológicos.

Da mesma forma, os estudiosos geralmente concordam que João não é totalmente visto como sem valor histórico: certas afirmações contidas no Evangelho de João são tão antigas ou mais antigas que comparadas a seus pares sinóticos, como a sua representação da topografia em torno de Jerusalém é frequentemente relatada como superior a dos sinóticos. Além disso, o seu testemunho de que Jesus foi executado um dia antes da Páscoa pode ser mais preciso que o de Mateus, Marcos e Lucas, a sua apresentação de Jesus no jardim e a reunião realizada pelas autoridades judaicas antes da morte dele são possivelmente mais historicamente plausíveis do que comparada a seus paralelos sinóticos.

História textual e posicionamento no Novo Testamento

O Papiro P52 provavelmente é o primeiro fragmento do Novo Testamento; sua caligrafia é datada para cerca de 125
Papiro P52 provavelmente é o primeiro fragmento do Novo Testamento; sua caligrafia é datada para cerca de 125

Papiro Biblioteca Rylands, também conhecido como Papiro P52, um fragmento de papiro grego com os trechos de João 18:31-33 de um lado e 18:37-38 do outro, geralmente datado da primeira metade do século II, é o manuscrito conhecido mais antigo do Novo Testamento conhecido. Um texto substancialmente completo de João existe desde o início do século III, no mais tardar, de modo que a evidência textual para este Evangelho seja comumente aceita como anterior e mais confiável do que para qualquer outro. João ocupa o quarto lugar no ordenamento padrão dos Evangelhos, depois de MateusMarcos e Lucas.

Teologia

Cristologia

O Evangelho de João apresenta uma "alta Cristologia", que representa Jesus como divino, e ainda subordinado ao único Deus. João dá mais foco à relação do Filho com o Pai do que os sinóticos, como se vê no capítulo 17 do Evangelho. Nos sinóticos, Jesus fala frequentemente sobre o Reino de Deus, enquanto seu próprio papel divino é ocultado, porém, em João, Jesus fala abertamente sobre seu papel divino, enfatizando a declaração de identidade "Eu Sou o Que Sou" do Deus judeu com várias declarações "Eu Sou" que também o identificam com símbolos de grande importância. Ele diz: "Eu sou":

Logos


No prólogo, João identifica Jesus como o Logos (Verbo). Na filosofia da Grécia Antiga, o termo logos significava o princípio da razão cósmica. Nesse sentido, era semelhante ao conceito hebraico de sábio, companheiro de Deus e ajudante íntimo da criação. O filósofo judeu helenístico Fílon de Alexandria fundiu esses dois temas quando descreveu o Logos como o criador e mediador de Deus com o mundo material. O evangelista adaptou a descrição de Fílon do Logos, aplicando-o a Jesus, a encarnação do Logos.

O verso de abertura de João é traduzido como "o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus" em todas as Bíblias de língua portuguesa "ortodoxas". No entanto, há pontos de vista alternativos, como a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, das Testemunhas de Jeová, que apresenta "A Palavra estava com Deus e a Palavra era um deus". A Versão Acadêmica do Evangelho, desenvolvida pelo Jesus Seminar, traduz vagamente a frase como "O Logos era o que Deus era", oferecenddo uma melhor representação da intenção original do evangelista.

Cruz

A representação da morte de Jesus em João é única entre os quatro Evangelhos. Não parece estar relacionado aos tipos de teologia da expiação indicativa do sacrifício vicário, como em Marcos e em Romanos; mas apresenta a morte de Jesus como sua glorificação e retorno para junto do Pai. Do mesmo modo, as três "previsões da Paixão" dos Evangelhos sinóticos são substituídas em João, com três instâncias de Jesus explicando como ele será exaltado ou "levantado". O verbo para "levantado" reflete o duplo sentido no trabalho na teologia da cruz de João, pois Jesus está tanto fisicamente erguido da terra no momento da crucificação, como ao mesmo tempo, exaltado e glorificado.

Sacramentos


Entre as áreas mais controversas de interpretação de João é a sua teologia sacramental. Os pontos de vista dos estudiosos caíram em um amplo espectro que varia de anti-sacramental e não sacramental, sacramental, ultra-sacramental e hiper-sacramental. Os estudiosos discordam tanto sobre se e com que frequência João se refere aos sacramentos, e no grau de importância que ele coloca sobre eles.

De acordo com o teólogo Rudolf Bultmann, existem três alusões sacramentais: uma para o batismo, uma para a Eucaristia e uma para ambos. Ele acreditava que essas passagens eram mais tarde interpolações, embora a maioria dos estudiosos agora rejeitem esta opinião. Alguns estudiosos do lado mais sacramental do espectro negam que existam alusões sacramentais nessas passagens ou no Evangelho como um todo, enquanto outros veem o simbolismo sacramental aplicado a outros assuntos nessas e outras passagens.

Oscar Cullmann e Bruce Vawter, um protestante e um católico, respectivamente, e ambos no extremo sacramental mais forte do espectro, encontraram alusões sacramentais na maioria dos capítulos. Cullmann encontrou referências ao batismo e à Eucaristia ao longo do Evangelho, enquanto Vawter encontrou referências adicionais ao matrimônio no capítulo 2, na unção dos enfermos no capítulo 12, e penitência no capítulo 20. Em direção ao centro do espectro, Raymond Brown é mais cauteloso do que Cullmann e Vawter, mas mais indulgente do que Bultmann e seus seguidores, identificando várias passagens como contendo alusões sacramentais.

A maioria dos estudiosos no extremo mais sacramental do espectro avalia os sacramentos como sendo de grande importância para o evangelista. No entanto, talvez de forma contraditória, alguns estudiosos que encontram menos referências sacramentais, como Udo Schnelle, veem as referências e as consideram tão importantes também. Schnelle, em particular, considera o sacramentalismo de João como um contra-caso do anti-sacramentalismo docetista. Por outro lado, embora tenha concordado que existem passagens antidocetistas, James Dunn vê a ausência de uma narrativa institucional eucarística como evidência de um anti-sacramentalismo em João, destinado a alertar contra uma concepção da vida eterna como dependente do ritual físico.

Individualismo

Em comparação com os Evangelhos sinóticos, o Evangelho de João é notavelmente individualista, no sentido de que enfatiza mais a relação do indivíduo com Jesus do que a natureza corporativa da Igreja. Isto é em grande parte constatado através da estrutura gramatical consistentemente singular de vários ditos aforísticos de Jesus ao longo do Evangelho. De acordo com Richard Bauckham, a ênfase nos crentes que entram em um novo grupo após a sua conversão está visivelmente ausente dos textos de João. Há também um tema de "coinerência pessoal", isto é, a relação pessoal íntima entre o crente e Jesus em que o crente "permanece" em Jesus e Jesus no crente.

Já de acordo com C. F. D. Moule, as tendências individualistas do Quarto Evangelho poderiam potencialmente dar origem a uma escatologia alcançada ao nível do crente individual. Alguns estudiosos argumentaram que o Discípulo amado devem ser todos os seguidores de Jesus, convidando a todos para um relacionamento pessoal com Cristo. Além disso, a ênfase no relacionamento do indivíduo com Jesus no Evangelho sugeriu sua utilidade para a contemplação sobre a vida de Cristo.

João Batista

O relato de João Batista é diferente do dos Evangelhos sinóticos, sendo que neste Evangelho, João não é chamado de "Batista". O ministério de João Batista se sobrepõe com o de Jesus; o batismo de Jesus que ele realizou não é explicitamente mencionado, mas seu testemunho de Jesus é inequívoco e evidente. O evangelista quase certamente conhecia a história do batismo de Jesus feito por João e ele faz um uso teológico primordial disso. Ele subordina João Batista a Jesus, talvez em resposta aos membros da seita de Batista, que consideravam o movimento de Jesus como uma derivação de seus movimentos. No Evangelho de João, Jesus e seus discípulos vão para a Judeia no início do ministério de Jesus antes que João Batista fosse preso e executado por Herodes.

Elementos gnósticos

Na primeira metade do século XX, muitos estudiosos, incluindo principalmente Rudolph Bultmann, argumentaram com força que o Evangelho segundo João tem elementos em comum com o gnosticismo. O gnosticismo cristão não se desenvolveu completamente até meados do século II e, portanto, os cristãos proto-ortodoxos do século II concentraram muito esforço em examiná-lo e refutá-lo. Dizer que o Evangelho segundo João continha elementos do gnosticismo é assumir que o gnosticismo havia se desenvolvido a um nível que exigia que o autor respondesse a ele. Bultmann, por exemplo, argumentou que o tema de abertura do Evangelho segundo João, o Logos preexistente, juntamente com a dualidade entre luz e trevas, eram originalmente temas gnósticos que João adotou. Outros estudiosos, como por exemplo, Raymond E. Brown, argumentaram que o tema preexistente do Logos surge dos escritos judaicos mais antigos no oitavo capítulo do Livro de Provérbios, e foi totalmente desenvolvido como um tema no judaísmo helenístico por Fílon de Alexandria. A descoberta dos Manuscritos do Mar Morto em Qumran verificou a natureza judaica desses conceitos. A estudiosa April DeConick sugeriu a leitura de João 8:56 em apoio a uma teologia gnóstica, no entanto, estudos recentes lançaram dúvidas sobre a veracidade da sua afirmação.

Os gnósticos leram João, mas o interpretaram de maneira diferente da que os agnósticos fizeram. O gnosticismo ensinou que a salvação vinha da gnosis, do conhecimento secreto, e os gnósticos não viam Jesus como um salvador, mas um revelador de conhecimento. Estudiosos como Barnabas Lindars são defensores de que o Evangelho ensina que a salvação só pode ser alcançada através da sabedoria revelada, especificamente na crença em Jesus.

Raymond Brown afirma que "a imagem joanina de um Salvador que veio de um mundo alienígena lá em cima, que disse que nem ele nem aqueles que o aceitaram eram deste mundo" e que prometeram voltar para levá-los a uma habitação celestial poderia ser encaixada na imagem gnóstica do mundo. Ele sugeriu que semelhanças entre o Evangelho de João e o gnosticismo podem surgir de raízes comuns na literatura apocalíptica judaica.

Comparação com os sinóticos

A representação de uma capitulação de um cristão sírio para o Santo João, o Evangelista
A representação de uma capitulação de um cristão sírio para o Santo João, o Evangelista

O Evangelho de João é significativamente diferente dos Evangelhos sinóticos, com grandes variações no material, na ênfase teológica, na cronologia e no estilo literário. Há também algumas discrepâncias entre João e os sinóticos, o que resulta em algumas contradições.

João não tem descrição de episódios vistos nos sinóticos, como o batismo de Jesus, o chamado dos Doze, os exorcismos, as parábolas, a Transfiguração e a Última Ceia. Por outro lado, inclui cenas não encontradas nos sinóticos, como a de Jesus transformando a água em vinho no casamento em Caná, a ressurreição de Lázaro, Jesus lavando os pés de seus discípulos e várias visitas a Jerusalém.

No quarto Evangelho, a mãe de Jesus, Maria, embora mencionada com frequência, nunca é identificada pelo nome. João afirma que Jesus era conhecido como o "filho de José" em João 6:42. Para João, a cidade de origem de Jesus é irrelevante, pois ele vem de além deste mundo, e sim de Deus Pai.

Enquanto João não menciona diretamente o batismo de Jesus, ele cita a descrição de João Batista da descida do Espírito Santo como uma pomba, como acontece no batismo de Jesus nos sinóticos. Os principais discursos sinóticos de Jesus estão ausentes, incluindo o Sermão da Montanha e o Discurso das Oliveiras, além de que os exorcismos dos demônios não são mencionados em nenhuma ocasião, ao contrário dos sinóticos. João nunca lista todos os Doze Discípulos e nomeia pelo menos um discípulo, Natanael, cujo nome não é encontrado nos sinóticos. Tomé recebe um apelido além de seu nome, onde é descrito como "Tomé, o Dídimo".

Jesus é identificado com o Verbo ("Logos"), e o Verbo é identificada com theos ("deus" em grego); nenhuma identificação sobre tal é feita nos sinóticos. Em Marcos, Jesus exorta os discípulos a manter sua divindade em segredo, mas em João ele é muito aberto ao discutir isso, mesmo se referindo a si mesmo como "Eu sou", o título que Deus atribui a si mesmo em Êxodo em sua auto-revelação a Moisés. Nos sinóticos, o tema principal é o Reino de Deus e o Reino dos Céus (o último especificamente em Mateus), enquanto o tema de João é Jesus como a fonte da vida eterna e o Reino é mencionado apenas duas vezes. Em contraste com a expectativa sinótica do Reino (usando o termo parousia, que significa "presença"), João apresenta uma escatologia mais individualista.

Também há discrepâncias relacionadas a fatos cronológicos, pois de acordo com os sinóticos, o ministério de Jesus decorre em um único ano, mas no de João ele acontece em três, como evidenciado por referências a três passagens da Páscoa. Os eventos não estão todos na mesma ordem: a data da crucificação é diferente, como é o tempo da unção de Jesus em Betânia, e a limpeza do templo ocorre no início do ministério de Jesus e não perto do seu fim.

No que diz respeito ao estilo literário, o vocabulário é diferente e cheio de importação teológica: em João, Jesus não executa "milagres" (em gregoδῠνάμειςtransl.dynámeis, sing. δύνᾰμῐςdýnamis), mas "sinais" (em gregoσημεῖᾰtransl.sēmeia, sing. σημεῖονsēmeion) que revelam a sua identidade divina. A maioria dos estudiosos considera que João não contém parábolas. Em vez disso, contém histórias ou alegorias metafóricas, como as do Bom Pastor e da Videira Verdadeira, em que cada elemento individual corresponde a uma pessoa, grupo ou coisa específica. Alguns estudiosos, no entanto, encontram algumas parábolas como a história curta da mulher materna ou do grão que está morrendo.

Ainda observam-se discrepâncias de conteúdo entre os Evangelhos, pois de acordo com os sinóticos, como no episódio da prisão de Jesus, que segundo Marcos, Mateus e Lucas foi uma reação à limpeza do templo, enquanto, segundo João, foi desencadeada pela ressurreição de Lázaro. Os fariseus, retratados como uniformemente opostos a Jesus nos Evangelhos sinóticos, são retratados como divididos; eles discutem frequentemente entre si nos relatos de João. Alguns, como Nicodemos, chegam até a ser parcialmente simpatizantes de Jesus. Acredita-se que seja uma descrição histórica mais precisa dos fariseus, que fez do debate um dos princípios do seu sistema de crença.

Representações

Beda traduzindo o Evangelho de João em seu leito de morte, por James Doyle Penrose, 1902
Beda traduzindo o Evangelho de João em seu leito de morte, por James Doyle Penrose, 1902

O Evangelho foi retratado em narrações ao vivo e dramatizado em produções, esquetespeças e representações da Paixão de Cristo, bem como em filmes. A representação mais recente ocorreu no filme de 2014 "O Evangelho segundo João", dirigido por David Batty e narrado por David Harewood e Brian Cox, com Selva Rasalingam como Jesus. O filme de 2003, também denominado "O Evangelho segundo João", foi dirigido por Philip Saville, narrado por Christopher Plummer, e com Henry Ian Cusick no papel de Jesus.

Partes do Evangelho foram utilizadas para a composição de músicas. Um desses fragmentos está na canção "Come and See", de Steve Wariner, escrito para o 20º aniversário da Aliança para a Educação Católica e incluindo fragmentos líricos tirados do Livro dos Signos. Além disso, alguns compositores fizeram ajustes da Paixão como retratados no Evangelho, mais notavelmente o composto por Johann Sebastian Bach, embora alguns versos sejam baseados em passagens de Mateus.

Ver também

Notas

  1. Harris 2006, p. 479: "A maioria dos estudiosos acredita que a mesma pessoa escreveu os três documentos, mas que ele não deve ser identificado nem com o apóstolo João nem com o autor do Evangelho."

Referências

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  14. «Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.» (João 20:31)
  15. Bauckham 2007, p. 271.
  16. «Este é o discípulo que testifica destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.» (João 21:24)
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  24. «Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.» (João 8:44)
  25. «Eu falo do que vi junto de meu Pai, e vós fazeis o que também vistes junto de vosso pai.» (João 8:38)
  26. «Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.» (João 11:53)
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  43. Harris 2006, pp. 302–10.
  44. «E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede.» (João 6:35)
  45. «Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.» (João 8:12)
  46. «Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas.» (João 10:7)
  47. «Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.» (João 10:11)
  48. «Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.» (João 11:25)
  49. «Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.» (João 14:6)
  50. «Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.» (João 15:1)
  51. Funk & Jesus Seminar 1998, pp. 365–440.
  52. «Deturpação de João 1:1». Leandro Quadros. Consultado em 12 de janeiro de 2018
  53. «João 1 - Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas». Testemunhas de Jeová. Consultado em 12 de janeiro de 2018
  54. «Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.» (Marcos 10:45)
  55. «Ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus.» (Romanos 3:25)
  56. «Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.» (João 10:17-18)
  57. «Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse.» (Marcos 8:31)
  58. «Porque ensinava os seus discípulos, e lhes dizia: O Filho do homem será entregue nas mãos dos homens, e matá-lo-ão; e, morto ele, ressuscitará ao terceiro dia.» (Marcos 9:31)
  59. «Dizendo: Eis que nós subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes, e aos escribas, e o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios. E o escarnecerão, e açoitarão, e cuspirão nele, e o matarão; e, ao terceiro dia, ressuscitará.» (Marcos 10:33-34)
  60. «E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado.» (João 3:14)
  61. «Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou.» (João 8:28)
  62. «E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.» (João 12:32)
  63. Robert Kysar, "John: The Maverick Gospel" (Louisville: Westminster John Knox), 1976, pp. 49–54
  64. Bauckham 2015.
  65. «Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.» (João 3:5)
  66. «Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu der é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo. Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como nos pode dar este a sua carne a comer? Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim. Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.» (João 6:51-58)
  67. «Contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.» (João 19:34)
  68. Moule 1962, p. 172.
  69. Moule 1962, p. 174.
  70. Shea, SJ, Henry J. (verão de 2017). «The Beloved Disciple and the Spiritual Exercises». Studies in the Spirituality of Jesuits49 (2)
  71. Cross & Livingstone 2005.
  72. Barrett 1978, p. 16.
  73. Harris 2006.
  74. «Quando o Senhor ficou sabendo disso, saiu da Judeia e voltou uma vez mais à Galileia.» (João 4:3)
  75. Olson 1999, p. 36.
  76. Kysar 2005, pp. 88ff.
  77. Brown 1997.
  78. Charlesworth, James H. "The Historical Jesus in the Fourth Gospel: A Paradigm Shift?." Journal for the Study of the Historical Jesus 8.1 (2010): 42
  79. DeConick, April D. "Who is Hiding in the Gospel of John? Reconceptualizing Johannine Theology and the Roots of Gnosticism." in Histories of the Hidden God: Concealment and Revelation in Western Gnostic, Esoteric, and Mystical Traditions. (2013) 13–29.
  80. Llewelyn, Stephen Robert, Alexandra Robinson, e Blake Edward Wassell. "Does John 8:44 Imply That the Devil Has a Father?: Contesting the Pro-Gnostic Reading." Novum Testamentum 60.1 (2018): 14–23.
  81. Most 2005, pp. 121ff.
  82. Skarsaune 2008, pp. 247ff.
  83. Lindars 1990, p. 62.
  84. «Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.» (João 17:14)
  85. «Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.» (João 14:2-3)
  86. Brown 1997, p. 375.
  87. Kovacs 1995.
  88. Burge 2014, pp. 236–37.
  89. Funk, Hoover & Jesus Seminar 1993, pp. 1–30.
  90. Michaels 1971, p. 733.
  91. Williamson 2004, p. 265.
  92. «E diziam: Não é este Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz ele: Desci do céu?» (João 6:42)
  93. Fredriksen 2008.
  94. Thompson 2006, p. 184.
  95. «Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.» (João 20:24)
  96. Ehrman 2005.
  97. Carson, D. A. (1991). The Pillar New Testament Commentary: The Gospel According to John. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eardmans Publishing Co. p. 117
  98. «E disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós.» (Êxodo 3:14)
  99. Moule 1962, pp. 172–74.
  100. Sander 2015.
  101. Barry 1911.
  102. «A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza, porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo prazer de haver nascido um homem no mundo.» (João 16:21)
  103. «Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.» (João 12:24)
  104. Neusner 2003, p. 8.
  105. «Interview: David Batty (The Gospel of John, 2014)». Patheos. Consultado em 17 de janeiro de 2018
  106. «The Gospel of John». Rotten Tomatoes. Consultado em 17 de janeiro de 2018
  107. «Come and See». WLP - Browse Products. Consultado em 17 de janeiro de 2018
  108. Ambrose 2005.

Bibliografia

Leitura adicional

Ligações externas

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Originais perdidos

Os livros que chegaram até nós do Evangelho são reproduções, já que os originais, que foram escritos em grego, haviam sido perdidos, só restando um fragmento datado do ano de 125 e que tem o tamanho de um cartão de crédito.

Ver também

Referências

  1. «Bona, Argélia»World Digital Library. 1899. Consultado em 25 de setembro de 2013
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Evangelhos da Infância

A escassez de informações sobre a infância de Jesus nos evangelhos canônicos provocaram uma grande demanda entre os primeiros cristãos por mais detalhes sobre os primeiros anos da vida Dele. Esta demanda foi logo suprida por diversos textos do século II d.C. e seguintes, conhecidos como "Evangelhos da Infância", nenhum dos quais foi aceito no cânon bíblico, embora o grande número de exemplares sobreviventes ateste a sua contínua popularidade.

A maior parte deles foi baseada no mais antigo dos evangelhos da infância, o Evangelho da Infância de Tiago (também chamado de "Proto-Evangelho de Tiago"), no Evangelho da Infância de Tomé e na combinação posterior de ambos no Evangelho de Pseudo-Mateus (também chamado de "Evangelho da Infância de Mateus" ou "Nascimento de Maria e Infância do Salvador").

Outros evangelhos da infância entre os mais antigos são:

  1. Evangelho da Infância Siríaco (ou Evangelho Árabe da Infância)

Evangelho Árabe da Infância de Jesus

De Wikipedia, a enciclopédia livre

Evangelho Árabe da Infância de Jesus é um texto que deriva de outras fontes antigas. Segundo o autor árabe Ahmed Ibn Idris, ele é considerado o quinto evangelho e seu autor teria sido Pedro, com bases e dados fornecidos por Maria. Foi publicado em 1677 .

BuenPastorMurillo1660.jpg
"O Bom Pastor", de Murillo

Venerado pelos coptas do Egito, lá teve ampla divulgação. Foram localizadas versões gregalatinaeslavaarmênia e árabe. Na Françaséculo XVIII teve várias traduções. A primeira parte do evangelho é baseada no Proto-Evangelho de Tiago e evangelho de Mateus e de Lucas. A segunda é inspirada nos próprios textos árabes, e a última no Evangelho Pseudo-Tomé.

É constituído de três partes:

  • O nascimento de Jesus - baseado no Proto-Evangelho de Tiago.
  • Milagres durante a ida ao Egito - aparentemente baseadas apenas nas tradições locais.
  • Os milagres de Jesus como um menino - baseado no Evangelho Pseudo-Tomé.

Esse texto era conhecido por Isho'dad de MervPai da Igreja síria, em seu comentário bíblico relativo ao Evangelho de Mateus. A narrativa do Evangelho Árabe da Infância, em especial na segunda parte relativa aos milagres no Egito, podem ser encontradas também no Alcorão.

Segundo alguns críticos, a sua presença no Alcorão pode ser devido à influência que o Evangelho tinha entre os árabes. Não é conhecida com certeza que o Evangelho estava presente no Hejaz, mas pode ser visto como provável. No entanto, afirmam os apologistas islâmicos que o Evangelho foi traduzido para o árabe no período islâmico devido à textos defeituosos em árabe bem como a extrema raridade dos textos escritos no período pré-islâmico da Arábia.

Ver também

Bibliografia

  • Elliott, James K. The Apocryphal New Testament: A Collection of Apocryphal Christian Literature in an English Translation. Oxford: Oxford University Press, 1993.
  • Tricca, Maria Helena de Oliveira. Apócrifos, os Proscritos da Bíblia. São Paulo: Mercuryo, 1989.

Ligações externas

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  1. História de José, o carpinteiro

História de José, o Carpinteiro

De Wikipedia, a enciclopédia livre

História de José, o Carpinteiro (século VI-VII) é um dos textos dos Apócrifos do Novo Testamento relacionado com a infância de Jesus.

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José mostra seu trabalho a Jesus.
Por Georges de La Tour, atualmente no Louvre.

História

O texto está estruturado como uma explicação dele no Monte das Oliveiras sobre a vida de São José, seu pai. Concordando com o dogma da virgindade perpétua de Maria. José, tradicionalmente, é tido como solteiro e não teve filhos biológicos antes de se casar com a Virgem Maria, e nem é possível dizer a sua idade. No evangelho apócrifo em questão, ele é encarregado de cuidar de uma virgem, chamada Maria. Ela passa a viver em sua casa e o ajuda a cuidar de seus filhos menores, Tiago e Judas, até completar a idade de 14 anos e meio, quando ela poderá se casar.

O texto prossegue com uma paráfrase do Evangelho de Tiago, parando no ponto do nascimento de Jesus. O texto afirma que José foi milagrosamente abençoado com uma juventude mental e física, morrendo somente com a idade de 112 anos. Seus filhos mais velhos, Justo e Simão, se casaram e tiveram filhos, assim como suas filhas, que mudaram então para as casas dos maridos.

A morte de José toma um espaço considerável do texto. Ele primeiro faz uma extensa oração, incluindo em suas últimas palavras uma série de lamentações sobre os pecados da carne. Aproximadamente metade da obra é coberto por esta "cena", na qual o anjo da morte, assim como os arcanjos Miguel e Gabriel aparecem para ele. No final do texto, Jesus afirma que Maria permaneceu virgem por toda a vida ao chamá-la de "minha mãe, virgem imaculada".

Sobre o autor, o prelúdio informa que "E os santos apóstolos preservaram esta conversa, a escreveram e a preservaram na biblioteca de Jerusalém."

O texto

Há indicações de que o texto foi escrito no Egito (província romana) no século IV ou V. Duas versões chegaram aos nossos dias: uma em copta e a outra em árabe, com a primeira sendo provavelmente a original. Muito do texto é baseado no Evangelho de Tiago.

O também apócrifo Primeiro Apocalipse de Tiago (encontrado na Biblioteca de Nag Hammadi, no códice V) afirma "Eu chamei você, meu irmão, embora você não seja fisicamente meu irmão.", o que adiciona ainda mais um registro da relação de Maria com os irmãos de Jesus, abrindo espaço para a explicação da virgindade perpétua.

Ver também

Referências

  1. Bart D. Ehrman, Zlatko Pleše The Apocryphal Gospels: Texts and Translations Oxford University Press, USA 2011 p158 "In its present form, the History of Joseph the Carpenter is thus a compilation of various traditions concerning Mary and the “holy family,” most likely composed in Byzantine Egypt in the late sixth or early seventh century."
  2. William R. Schoedel (trad) (1990). James M. Robinson, ed. The Nag Hammadi Library, revised edition. Apocalipse de Tiago (em inglês). São Francisco: HarperCollins

Ligações externas

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  1. Vida de João Batista

Vida de João Batista

De Wikipedia, a enciclopédia livre 

  1. Evangelho Armênio da Infância de Jesus


Evangelho Pseudo-Tomé

De Wikipedia, a enciclopédia livre 

Evangelho de Pseudo-Tomé é evangelho apócrifo que tem sua autoria atribuída a Tomé, o israelita filósofo. Este Tomé não é o apóstolo de Jesus, cujo nome era Dídimo Judas Tomé (a quem é atribuída a autoria de outro livro apócrifo: o Evangelho de Tomé).

Este apócrifo foi escrito no século II, apesar de alguns estudiosos datarem como sendo do século I. O texto original teve 2 ampliações posteriores: a primeira introduzida na Armênia, no século V, tornou-se o Evangelho Armênio da Infância de Jesus. A segunda ampliação tornou-se o Evangelho Árabe da Infância de Jesus.

Alguns estudiosos acreditam que o evangelho Pseudo-Tomé é uma continuação da narrativa da infância de Jesus a partir do ponto onde a narrativa termina no Proto-Evangelho de Tiago. Ele faz um relato sobre a vida de Jesus dos 5 aos 12 anos. Dentre as narrativas deste apócrifo, encontramos um texto onde o menino Jesus, após ser ofendido, ordena que o filho de Anás, o escriba, ficasse seco como uma árvore, matando-o sem piedade. Estas e outras narrativas fabulosas sobre a infância de Jesus foram decisivas na classificação desta obra como um apócrifo do Novo Testamento.

Seleção de passagens

II
Esse Menino Jesus, que na época tinha cinco anos, encontrava-se um dia brincando no leito de um riacho, depois de haver chovido. Represando o correnteza em pequenas poças, tornava-as instantaneamente cristalinas, dominando-as somente com sua a palavra. Fez depois uma massa mole com barro e com ela formou uma dúzia de passarinhos. Era um Sabbath e havia outros meninos brincando com ele. Um certo homem judeu, vendo o que Jesus acabara de fazer num dia de festa, foi correndo até seu pai, José, e contou-lhe tudo:
— Olha, teu filho está no riacho e juntando um pouco de barro fez uma dúzia de passarinhos, profanando com isso o dia do Sabbath.
José foi ter ao local e, ao vê-lo, ralhou com ele dizendo:
— Por que fazes no Sabbath o que não é permitido?
Jesus, batendo palmas, dirigiu-se às figurinhas, ordenando-lhes:
— Voai!
Os passarinhos foram todos embora, gorjeando. Os judeus, ao verem isso, encheram-se de admiração e foram contar aos seus superiores o que haviam visto Jesus fazer.

III
Encontrava-se ali presente o filho de Anás, o escriba, e teve a idéia de fazer escoar as águas represadas por Jesus, usando uma planta de vime.

Ante essa atitude, Jesus indignou-se e disse:

— Malvado, ímpio e insensato. Será que as poças e as águas te estorvavam? Ficarás agora seco como uma árvore, sem que possas dar folhas, nem raiz nem frutos.
Imediatamente o rapaz tornou-se completamente seco. Os pais pegaram o infeliz, chorando a sua tenra idade, e o levaram ante José, maldizendo-o por ter um filho que fazia tais coisas.

XVI
Certa vez, José mandou seu filho Tiago juntar lenha e trazê-la para casa. O Menino Jesus acompanhou-o, mas aconteceu que, enquanto Tiago recolhia os gravetos, uma cobra picou-lhe a mão.
Tendo caído no chão, ficou completamente largado e estando já para morrer, quando Jesus aproximou-se e assoprou a mordida. Imediatamente desapareceu a dor, a cobra explodiu e Tiago recobrou imediatamente a saúde

IX
Dias depois, encontrava-se Jesus brincando num terraço. Um dos meninos que estavam com ele caiu do alto e morreu. Os outros, ao verem isso, foram-se embora e somente Jesus ficou. Pouco depois chegaram os pais do morto e puseram a culpa nele.
Disse-lhes Jesus:
— Não, não. Eu não o empurrei.
Apesar disso, eles o maltrataram. Jesus deu um salto de cima do terraço, vindo cair junto ao cadáver. Pôs-se a gritar bem alto:
— Zenon — assim se chamava o menino, — levanta-te e responda-me: fui eu quem te empurrou?
O morto levantou-se num instante e disse:
— Não, Senhor. Tu não me jogaste, porém me ressuscitaste.
Ao ver isso, todos os presentes ficaram consternados . Os pais do menino glorificaram a Deus por aquele maravilhoso feito e adoraram a Jesus.”

Ver também

Referências

  1. Passagens selecionadas da versão do Evangelho Pseudo-Tomé, do site A Outra Bíblia , do portal Terra.

Ligações Externas

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Evangelhos Judaico-cristãos


Seitas judaico-cristãs durante o cristianismo primitivo ainda mantinham uma forte relação com o Judaísmo, mantendo a Lei mosaica e utilizavam evangelhos específicos:

  1. Evangelho dos Hebreus
  2. Evangelho dos Nazarenos
  3. Evangelho dos Ebionitas (século II) é uma tentativa gnóstico-cristã de perpetuar as práticas do Antigo Testamento.

Versões rivais dos evangelhos canônicos

Muitas versões alternativas e editadas de outros evangelhos existiram durante os primeiros anos do Cristianismo. Na maior parte das vezes, o texto afirma ser a versão mais antiga ou a versão que retirou todas as adições e distorções feitas por oponentes às versões mais reconhecidas do texto. Os padres da igreja insistiram que essas eram as pessoas que estavam a fazer distorções, ainda que nem todos os estudiosos modernos concordem. Ainda é tema de debate se existe ou não alguma versão mais antiga ou mais acurada dos evangelhos canônicos. Detalhes de seus conteúdos só sobreviveram na forma dos ataques feitos a eles por seus opositores e, por isso, é incerto quão diferentes eles são entre si e mesmo se constituem obras inteiramente diferentes ou não. Entre os textos dessa natureza estão:

  1. Evangelho de Marcião
  2. Evangelho de Mani, também chamado de Evangelho Vivo ou Evangelho dos Vivos
  3. Evangelho de Apeles
  4. Evangelho de Bardesanes

Evangelhos de ditos

Alguns evangelhos tomaram a forma de pequenas logia - ditos e parábolas de Jesus - que não estão inseridos numa narrativa concatenada:

Uma minoria dos estudiosos considera o Evangelho de Tomé como parte de uma tradição da qual os evangelhos canônicos eventualmente emergiram. Em todo caso, ambos são importantes para visualizarmos como seria o teórico Documento Q.

Evangelhos da Paixão

Outro conjunto de Evangelhos se focam especificamente na Paixão (prisão, execução e ressurreição) de Jesus:

Embora três textos tomem para si o nome de Bartolomeu, é possível que ou as "Questões" ou a "Ressurreição" sejam, na verdade, o desconhecido "Evangelho de Bartolomeu".

Evangelhos Harmônicos

Uma quantidade dos textos tenta apresentar uma única harmonização dos evangelhos canônicos que elimine as discordâncias entre eles e apresente um texto unificado derivado da união de todos. A mais famosa dessas versões é o Diatessarão. De todos os textos sobreviventes, a maioria parece ser uma variação do suprimido Diatessarão.

Textos gnósticos


Na era moderna, muitos textos gnósticos foram recuperados, especialmente após a descoberta da Biblioteca de Nag Hammadi em 1945. Alguns textos expõem a cosmologia esotérica e a ética defendida pelos gnósticos. Muitas vezes, isso ocorre na forma de diálogos em que Jesus expõe seu conhecimento esotérico enquanto seus discípulos fazem perguntas. Há também um texto, conhecido como Epistula Apostolorum, que é uma polémica contra o esoterismo gnóstico, mas escrito de maneira similar aos textos gnósticos.

Diálogos com Jesus

Textos sobre Jesus

Textos setianos sobre Jesus

Os setianos eram um grupo que originalmente adoravam o bíblico Sete como uma figura Messiânica, tratando depois Jesus como uma reencarnação de Sete. Eles produziram numerosos textos expondo a sua cosmologia esotérica, geralmente na forma de visões:

Diagramas rituais

Alguns dos textos gnósticos parecem consistir de diagramas e instruções para uso em rituais religiosos:

Atos Apócrifos

Os "Atos de Apóstolos" eram um gênero literário durante o cristianismo primitivo, que contava a história do movimento cristão após a Ascensão de Jesus através das vidas e obras de seus apóstolos, principalmente São PedroJoão e Paulo, um convertido. O texto chamado Atos dos Apóstolos atualmente foi incluído no cânon bíblico e é a segunda parte de uma obra cuja primeira é o Evangelho segundo Lucas, com ambas dedicadas à Teófilo e com estilo similar.

Entre os apócrifos, diversos textos tratam da vida subsequente dos apóstolos, usualmente pontuadas com eventos fortemente sobrenaturais. Existe uma tradição de que uma parte deles tenha sido escrito por Leucius Charinus (conhecidos como Atos Leucianos), um companheiro de João apóstolo. Os "Atos de Tomé" e os "Atos de Pedro e os doze" são considerados também textos gnósticos. Ainda que a maioria dos textos tenha sido escrita no século II d.C., pelo menos dois, os "Atos de Barnabé" e os "Atos de Pedro e Paulo" podem ter sido escritos tão tarde quanto o século V d.C..

Epístolas


Há também diversas epístolas não canônicas (ou "cartas") entre os indivíduos ou para os cristãos em geral. Algumas delas foram consideradas muito importantes pela igreja antiga:

Apocalipses Apócrifos


Diversas obras estão estruturadas na forma de visões escatológicas, discutindo o futuro, a vida após a morte ou ambos:

Destino de Maria

Muitos textos (mais de cinquenta) são descrições dos eventos que circundaram o destino variado de Maria ( a mãe de Jesus):

Miscelânea

Estes textos, por seu conteúdo ou forma, não se encaixam em nenhuma das categorias:

Fragmentos

Além das obras apócrifas conhecidas, há também diversos pequenos fragmentos de textos, partes de obras desconhecidas e de existência incerta. Alguns dos mais importantes são:

Obras perdidas

Existem diversos textos mencionados em muitas fontes antigas e que seriam certamente considerados parte dos apócrifos, mas nada sobreviveu deles:

Ortodoxia


Ainda que muitos livros citados aqui sejam considerados heréticos (especialmente os que pertencem às tradições gnósticas), outras não são consideradas particularmente heréticas no conteúdo e são na realidade aceitos como livros de importante valor espiritual. Não são, porém, considerados canônicos.

Entre os historiados do Cristianismo primitivo, estes livros tem valor incalculável, especialmente os que quase entraram no cânon final, como o Pastor de HermasBart Ehrman, por exemplo, diz:

Os vitoriosos nas disputas para estabelecer a ortodoxia cristão não apenas ganharam suas batalhas teológicas, mas também reescreveram a história do conflito. Os líderes posteriores então naturalmente assumiram que os pontos de vista vitoriosos tinham sido abraçados pela vasta maioria dos cristãos desde o início... A prática da falsificação cristã tem uma longa e distinta história... o debate durou mais de trezentos anos... mesmo dentro dos círculos "ortodoxos" havia considerável debate sobre quais livros deveriam ser incluídos [no cânon].
 
— Barth Ehrman, Lost Christianities.

Os principais evangelhos apócrifos e a razão de sua proibição pela Igreja Católica

EvangelhoConteúdoMotivo da proibiçãoDescoberta
Evangelho de PedroCirculou provavelmente no século II, de autoria atribuída ao apóstolo Pedro; conta uma versão diferente da ressurreição de Cristo, que teria sido conduzido ao céu por dois anjos.Foi acusado de ser uma heresia denominada “docetismo”, segundo a qual Jesus era somente espírito.Foi encontrado um fragmento do texto por arqueólogos franceses, na tumba de um monge no Egito, em 1886.
Evangelho de FilipeCirculou no século III, possui histórias que não estão nos demais evangelhos da Bíblia, como a de que Jesus mudava de aparência para conhecer aqueles a quem se revelava. Além disso, sugere seu relacionamento com Maria Madalena.Possui conteúdo gnóstico e afirma que só mulheres virgens entrariam no Paraíso (o que inviabilizaria as famílias)Encontrado em 1945, em meio aos manuscritos enterrados num vaso na Biblioteca de Nag Hammadi.
Evangelho de Maria MadalenaNos poucos fragmentos que restaram, Cristo ressuscitado instrui seus discípulos a espalhar o gnosticismo e avisa que não deixou leis. Também afirma que Jesus transmitiu segredos a Madalena.O texto é gnóstico, foi condenado como heresiaUma parte foi descoberta em um mosteiro egípcio em 1896; outra versão estava na Biblioteca de Nag Hammadi.
Evangelho de ToméTexto provavelmente do século I, possui 114 frases atribuídas a Jesus; em que Ele afirma que a salvação vem do autoconhecimento e que a centelha divina está em cada um.Contéudo gnósticoDescoberto na Biblioteca de Nag Hammadi em 1945.

Referências

  1. «Peshitta» (em inglês)
  2. «Confiabilidade» (em inglês)
  3. James M. Robinson (1990). The Nag Hammadi Library in English (em inglês). [S.l.]: HarperOne
  4. Hans-Josef Klauck (2008). The Apocryphal Acts of the Apostles: An Introduction (em inglês). Baylor UP: [s.n.]
  5. Bart D. Ehrman (2003). Lost Christianities (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press
  6. Tabela baseada de informações obtidas da matéria "Um outro Jesus" da Revista Superinteressante (Edição 207 - dezembro/2004): http://super.abril.com.br/historia/outro-jesus-444985.shtml

Bibliografia

  • QUÉRÉ, France (introdução). Evangelhos apócrifos. Lisboa: Editorial Estampa, 1991. ISBN 972-33-0780-4
Inclui o texto dos evangelhos apócrifos.
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